domingo, 19 de abril de 2015

CAOS NO IÊMEN


                      Rebeldes xiitas no Iêmen

Caos no Iêmen


"Mais um país árabe está sendo destruído. O Iêmen, um dos países mais pobres, é vítima das bombas da Arábia Saudita e de outros países árabes do Golfo – dos mais ricos do planeta. A responsável pelos assuntos humanitários da ONU diz que “pelo menos 519 pessoas foram mortas e quase 1700 feridas nas duas últimas semanas, e mais de 90% das vítimas são crianças”.



Por Jorge Cadima, no "Jornal Avante", de Portugal

Segundo a mesma fonte, “cerca de 40 pessoas, na maioria civis, foram mortas numa incursão aérea sobre um campo de refugiados”. O governo dos EUA declarou o seu apoio aos bombardeamentos e prometeu “auxílio logístico [...] às operações militares conduzidas pelo Conselho de Cooperação do Golfo”.

O envolvimento militar dos EUA no Iêmen não é novo. Em 10 de setembro de 2014, o presidente Obama citava aquele país como exemplo de êxito na sua política de drones para “eliminar os terroristas que nos ameaçam, ao mesmo tempo que apoiamos parceiros nas linhas da frente”. Segundo a emissora oficial alemã "Deutsche Welle", agora a “Al-Qaida controla a maior parte da terceira maior cidade iemenita”, Mukalla. Mas não são esses os alvos dos bombardeios sauditas, apoiados pelos EUA...

Como na Líbia, Iraque ou Síria, o objetivo – depois do fracasso das intervenções diretas dos EUA – é outro: gerar o caos para, face à inexistência de estados soberanos capazes de afirmar a independência, abrir caminho à pilhagem imperialista. Os bandos terroristas fundamentalistas patrocinados pela Arábia Saudita contribuem para esse objetivo. Os sauditas têm sido fiéis serventuários do imperialismo e, em 2011, tropas suas esmagaram a revolta popular no vizinho Bahrain (sede da 5ª Esquadra Naval dos EUA). Parecem apostar num confronto com o Irã. Mas deveriam acautelar-se. Uma vez cumprido o seu papel, seriam descartáveis. Também Saddam Hussein aceitou combater a guerra dos EUA contra a revolução iraniana de 1979 para vir mais tarde a ser levado ao cadafalso por aqueles mesmos que serviu.

Não será o anunciado acordo sobre o programa nuclear do Irã um acontecimento de sinal contrário, de diálogo e solução pacífica de conflitos? É cedo para avaliar ainda todo o seu significado. Todas as cautelas são poucas. Antes de junho, não existirá acordo assinado. E convém lembrar que as assinaturas dos EUA são de escasso valor: há muitos antecedentes (Iraque, Líbia, Iugoslávia) de acordos que serviram apenas aos EUA para criarem melhores condições para um ataque posterior.

Pode existir o objetivo de criar clivagens entre futuras vítimas. Podem existir também reais divergências no seio da classe dominante dos EUA (e desta com Israel), mas parecem incidir sobretudo nas prioridades da estratégia de guerra daquele poderoso país em declínio. Há quem prefira dedicar-se 'a tempo integral' à Rússia e a China. O que é indiscutível é que importantes forças nos EUA (e Israel) se opõem ao acordo, como ficou claro na posição pública de 47 senadores republicanos.

John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU, assinou um artigo no "New York Times" (NYT) de título “Bombardear o Irã para travar a bomba do Irã”. Mostrando que não há limites para a demência, outro conhecido colunista do NYT, Thomas Friedman, publicara dias antes a seguinte prosa: “Não devíamos estar a armar o ISIS? [...] Por que estamos pela terceira vez desde o 11 de Setembro a combater uma guerra favorável ao Irã? Em 2002, destruímos o principal rival sunita do Irã no Afeganistão (o regime talibã). Em 2003, destruímos o principal rival sunita do Irã no mundo árabe (Saddam Hussein). [...] Por que será do nosso interesse destruir o último bastião sunita ao controle completo iraniano do Iraque?”. 

'Guerra contra o terrorismo', ou guerra através do terrorismo? O 'dividir para reinar' está a transformar-se em 'destruir para reinar'.

FONTE: escrito por Jorge Cadima, no "Jornal Avante", de Portugal. Transcrito no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/261956-9).

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