segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

QUANDO, PARA A MÍDIA, VÂNDALOS SÃO HEROICOS "OPOSITORES"




Quando vândalos são apenas “opositores”...


Por Mário Augusto Jakobskind


"Os recentes acontecimentos na Ucrânia e Venezuela valem uma observação que remete à cobertura jornalística. Enquanto, no Brasil, a mídia de mercado agora denuncia [no ano passado incentivava] a todo momento a ação de “vândalos” nas manifestações populares, demonizando um estranho grupo denominado "Black Blocs", nos dois países mencionados os manifestantes, também escondidos com máscaras, são denominados de “opositores” ou apenas “manifestantes”.

As imagens vindas de Kiev e Caracas são claras. Os mascarados agem na maior desenvoltura, fato ignorado nos telejornais, que preferem criticar sobretudo o governo da República Bolivariana da Venezuela. O silêncio dos editores da mídia de mercado pode fazer com que se conclua que, em matéria de "Black Blocs", se o grupo tático apoia quem desestabiliza governos que não rezam pela cartilha do senso comum e do Departamento de Estado norte-americano, aí eles são considerados do “bem”.

Em relação à Ucrânia, não se pode deixar de mencionar que os Black Blocs estão agindo ombro a ombro com grupos neonazistas, que apoiam figuras nefastas que combateram ao lado de nazistas. Curioso que Israel, até agora, não criticou os neonazistas ucranianos, denunciados inclusive pelo governo russo como antissemitas.

Logo depois que o Parlamento depôs o presidente Victor Yanukovych, o rabino chefe da Ucrânia instruiu os judeus a deixar a cidade de Kiev, porque teme a ascensão do Setor Direita e o Partido Svoboda, conhecidos por furioso antissemitismo.

O fato tem explicação, Israel é aliadíssimo dos Estados Unidos, cujo governo, através da Embaixada em Kiev, tem manifestado apoio incondicional à oposição que enfrentou as forças governamentais de armas nas mãos. E os neonazistas opositores são quase ignorados pela mídia de mercado. Quando apareceram as imagens nas ruas de Kiev, os telejornais nacionais continuaram referindo-se aos insurgentes apenas como “manifestantes” ou “oposicionistas”.

Quanto à Venezuela, é notória a ação da direita que, em abril de 2002, tentou derrubar o governo do Presidente Hugo Chávez, que retornou ao poder com o apoio do povo e das Forças Armadas.

Não é de hoje que a mídia de mercado de todos os quadrantes tenta apresentar a Venezuela "mergulhada no caos". Nos Estados Unidos, tanto o governo de Barack Obama quanto a oposição republicana volta e meia se intrometem em assuntos internos de um país soberano.

O senador troglodita John McCain, notoriamente vinculado aos setores mais retrógrados do espectro político norte-americano, um representante típico do complexo industrial militar, chegou ao ponto de sugerir uma invasão norte-americana na Venezuela para manter o fluxo de petróleo.

Aliado a esse troglodita, alguns colunistas de sempre repetem 
 [no Brasil] a sugestão para a intervenção externa. Estão sequiosos em derrubar o Presidente constitucional Nicolás Maduro. 

A direita venezuelana não consegue ganhar eleição e tenta de todas as formas assumir o poder no tapetão e mesmo pela força. É conhecido o fato de os principais grupos oposicionistas venezuelanos estarem vinculados à entidades norte-americanas que financiam grupos suspeitos com o objetivo de desestabilizar o governo constitucional.

Historicamente tem sido assim na América Latina,. No Brasil em 1964, na Argentina, no Uruguai e Chile, entre outros países que foram vítimas de golpes que contaram com o apoio integral dos serviços de inteligência norte-americana.

Os tempos hoje são outros, mas os setores que ainda tentam manter seus países sob a tutela política para a manutenção de seus privilégios continuam tentando impedir as mudanças necessárias para tornar o continente latino-americano mais justo socialmente. Tais grupos econômicos não se conformam com a existência de governos progressistas que procuram, de uma forma ou outra, conseguir as mudanças.

Na Venezula, os antigos detentores do poder nunca aceitaram a ascensão democrática do Presidente Hugo Chávez e, agora, de Nicolás Maduro. A mídia de mercado exerce nesse sentido papel fundamental com a edição de matérias manipuladas, mentirosas ou de meias-verdades, com o claro objetivo de tornar ingovernáveis países que não aceitam mais serem submissos aos interesses de Washington.

Nestes anos todos de governos bolivarianos, a mídia de mercado tem apenas criticado com veemência as transformações na Venezuela. Quem acompanha o noticiário tendencioso e se baseia nele para formar opinião, vai concluir como querem os editores, ou seja, que "a Venezuela é o inferno do mundo". Porque nesses espaços o outro lado não é apresentado, ou quando é aparece de forma secundária.

Por essas e muitas outras, todo cuidado é pouco, porque o que está acontecendo na Venezuela em matéria de ação de forças externas pode estar acontecendo em outras países do continente [e está, aqui no Brasil].

O governo venezuelano conseguiu identificar três funcionários da embaixada dos EUA em Caracas, que estavam em contato com manifestantes da oposição e ajudando a planejar tumultos antigoverno por todo o país. Breann Marie McCusker, Jeffrey Gordon Elsen e Kristopher Lee Clark foram expulsos, o que já tinha acontecido em outros momentos com funcionários da embaixada estadunidense em Caracas."

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE. Artigo publicado no site "Direto da Redação" (http://www.diretodaredacao.com/noticia/quando-vandaldos-sao-apenas-opositores).[pequeno entre colchetes adicionado por este blog].

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