sexta-feira, 31 de maio de 2013

O “CORPUS CHRISTI” DO BANCO CENTRAL

Por Fernando Brito

“O papa Urbano IV, no século 13, percebeu a necessidade de incorporar o sentido milagroso nos objetos reais e, por isso, criou o dia de Corpus Christi, para que o pão e o vinho usados na Eucaristia fossem reconhecidos como o corpo e o sangue de Jesus.

Numa metáfora profana, bem que se podia dizer que a decisão – decisão ou concessão? – do Banco Central, na noite de quarta-feira, de elevar os juros, foi uma espécie de corpus christi da nossa política econômica.

Uma reafirmação de nossa crença de que “o mercado financeiro reina sobre todas as coisas” na economia e em seu nome é necessário sacrificar o povo brasileiro e as aspirações do país a se desenvolver.

Porque só como simbolismo sectário se pode receber o que, além de contrariar o bom-senso, vai de encontro até mesmo das regras mais ortodoxas de política econômica.

Não há, em nenhum dos manuais ortodoxos de política econômica, qualquer caso em que se responda a uma baixo crescimento, a um quadro recessivo e a uma queda no consumo com elevação de juros.

Poder-se-ia argumentar que há um quadro de alta da inflação. Mas como, se a taxa acumulada em setembro de 2011, quando o BC contrariou o mercado e iniciou a baixa dos juros públicos era de 7,2% em 12 meses, então a maior dos últimos seis anos.

Agora, é de 6,4%, dentro e não acima, como então, da meta traçada pela própria instituição.

O resultado modestíssimo da expansão do PIB – com destaque para a redução brutal do crescimento do consumo das famílias – indicaria, no mínimo, a persistência de uma taxa que, pelos padrões mundiais, ainda é altíssima. Idem a baixa perspectiva da economia mundial. Até o Federal Reserve, um templo da ortodoxia, é cauteloso e não se mexeu mesmo ante sinais positivos na economia dos EUA, a única, entre os países desenvolvidos, além da Alemanha, que dá mostras de recuperação.

E mais: a China, principal parceiro comercial do Brasil, hoje, apresenta uma consistente redução no ritmo de crescimento de sua atividade econômica, embora este continue seguindo em números elevados.

O que o Banco Central fezquarta-feira, ao elevar a taxa de juros, foi, portanto, antes de tudo, um ato de fé e submissão ao mercado financeiro.

Consagrou os juros como objeto sagrado, que deve ser adorado e o único capaz de salvar nossa economia.

Mas os juros não são pão e vinho. Não salvam, matam o crescimento econômico, este sim, capaz de mudar permanentemente a realidade brasileira.

Não podia ser mais bem definido que o foi pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr, uma das poucas cabeças que sobrevivem lúcidas em meio ao credo neoliberal:

“Políticas sociais, de cunho distributivo, são indispensáveis. Muito pode ser alcançado em desenvolvimento social com políticas desse cunho, como mostra a experiência brasileira nos últimos dez anos. Mas não se pode ter ilusões: no longo prazo, o que realmente faz diferença é o crescimento. E crescimento de longo prazo implica aumento do investimento e da produtividade.

Com crescimento medíocre tudo fica mais complicado. Sofre a geração de empregos e renda. O ajustamento das contas públicas se torna mais difícil. Os conflitos se intensificam. O horizonte se estreita.

O crescimento não é solução para tudo, mas sem crescimento não há solução para nada.”


FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog “Tijolaço”  (http://www.tijolaco.com.br/index.php/o-corpus-christi-do-banco-central/).

A BOLSA (Família) OU A VIDA

Por Jorge Moreira Nunes

“Na semana passada, surgiu o boato de que os pagamentos do ‘Bolsa Família’, o polêmico benefício concedido pelo governo brasileiro a famílias de baixa renda, seriam suspensos de uma hora para outra. O boato espalhou-se rapidamente pelas mídias sociais e chegou até aos beneficiados propriamente ditos, que correram em massa às agências da Caixa Econômica para sacar o que lhes restasse da tal bolsa. Resultado: tumultos e confusão nas agências, com desinformação e mal-entendidos generalizados entre os clientes e funcionários. Acabou que tudo não passava mesmo de um boato e o governo logo desmentiu o corte no programa, com a presidente Dilma Rousseff prometendo apurar e trazer à Justiça os que teriam sido os responsáveis pelo rumor.

Interessante foi acompanhar a reação das pessoas na maior e mais rápida fonte de informações hoje em dia, o “Facebook”. Imediatamente, houve quem aprovasse a medida, malhando sem piedade o "bolsa esmola", que seria na verdade uma compra de votos dissimulada através da distribuição de dinheiro para o eleitorado, desencorajando o trabalho e estimulando parasitas e vagabundos. Depois de desmentido o boato, o mesmo grupo de críticos passou a ver uma conspiração no caso, como se tivesse sido um movimento planejado pelo governo, sabe-se lá para quê.

Não é preciso dizer que, a partir daí, começaram as discussões e polêmicas de sempre, alimentadas pelo fato de que, embora seja uma grande fonte de notícias no ‘cyberespaço’, o ‘Facebook’ também é o maior gerador de informações falsas que se pode encontrar nele.

Pessoalmente, acho que um programa que retira cerca de 40 milhões de pessoas da miséria absoluta usando somente 0,47% do PIB não pode ser de todo mau.

O “Bolsa Família” tem origem ainda no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, quando foram implantados [em escala muito reduzida] alguns benefícios sociais como esforços para retirar da pobreza absoluta uma parcela significativa da população. Um desses programas foi o “Bolsa Escola”, idealizado pelo senador Cristóvam Buarque, hoje no PDT, mas que na época estava no PT de Lula. O programa transferia recursos para famílias com renda abaixo de R$ 90 mensais, que tivessem seus filhos matriculados na escola, para ajudar na manutenção dessas crianças, que geralmente contribuíam com trabalho para a renda da família e abandonavam os estudos por causa disso.

O governo de Lula deu seguimento ao projeto, incorporando todos os programas de FHC em um só, primeiro chamando-o de “Fome Zero”, para depois, finalmente, adotar o seu nome atual, “Bolsa Família”, mantido pelo governo Dilma. As diretrizes são praticamente as mesmas das estabelecidas no “Bolsa Escola” durante o governo de FHC. As famílias precisam ter os filhos na escola e vacinados, não podem ter renda per capita superior a R$ 70 mensais e recebem de R$ 22 a R$ 200,00 mensais, dependendo do tamanho da família. É preciso provar, periodicamente, que as crianças frequentam a escola para garantir o recebimento da bolsa.

Parece pouco, mas as cerca de 12 milhões de famílias beneficiadas pelo programa sobrevivem no limite da miséria absoluta e o resultado, segundo a Fundação Getúlio Vargas, é que o programa ajudou a diminuir a proporção de pobreza no Brasil de 35,16% para 22,77% da população, em 14 anos.

Muito embora se diga que o programa é uma espécie de “assistencialismo que estimula a ociosidade e gera desemprego” por acomodação, a taxa de desemprego no Brasil, atualmente, aproxima-se de uma baixa histórica, na faixa de 5,6%, o que tecnicamente significa emprego pleno na economia. Em algumas cidades, como Uberlândia (MG), por exemplo, o número de beneficiados pelo programa tem até caído, como resultado da inserção dos beneficiados no mercado de trabalho, com consequente aumento na sua renda. A melhora na situação financeira da família acaba por dispensar a ajuda federal e os beneficiados abrem mão do auxílio.

O ponto fundamental da questão não é a quem se deve o projeto, se ao governo A ou B, e assim endeusá-lo ou demonizá-lo de acordo com que lado se escolha. O ponto fundamental é o sucesso na retirada de 40 milhões de brasileiros que estavam em condições subhumanas de sobrevivência, a um custo relativamente baixo para a economia, e que tem seu reflexo nela amplificado pela entrada de novos consumidores no mercado.

A revista inglesa “The Economist”, periodicamente, publica reportagens sobre o “Bolsa Família”, que chama de um "um programa antipobreza inventado na América Latina e que ganha adeptos em todo o mundo." A revista também cita e aponta os problemas do programa, como a existência de fraudes, falta de fiscalização dos requisitos para a obtenção do benefício e outros problemas administrativos, mas jamais nega o seu aspecto mais relevante: o valor social e humano de retirar 40 milhões de pessoas da pobreza absoluta e trazê-las de volta à dignidade de sobreviver com um mínimo de esperança.


FONTE: escrito por Jorge Moreira Nunes, publicitário e publisher do “AcheiUSA”. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/a-bolsa-ou-a-vida).

Comissão da Verdade: “ESQUECERAM DOS EMPRESÁRIOS”

Por Mário Augusto Jakobskind

“Causou estranheza o fato de a Comissão Nacional da Verdade, ao apresentar um balanço sobre um ano de atividades, dedicasse pouca informação relacionada com a participação do setor empresarial na ditadura. Para se passar o país a limpo, será necessário ir fundo nessa questão, porque muitos apoiadores do regime de força hoje se apresentam como “democratas desde criancinha”, na prática enganando a opinião pública.

A área de mídia também merece investigação profunda, porque muitos veículos, além de silenciarem na época, deram apoio ostensivo ao regime ditatorial. O “Globo” é um exemplo, embora alguns digam que o patrono da empresa, Roberto Marinho, tenha livrado a cara de jornalistas que não eram bem vistos pelo regime. Mas os mais críticos, em função da subserviência aos generais de plantão, não absolvem as “Organizações Globo”, mesmo se eventualmente o seu patrono tenha livrado a cara de um ou outro jornalista do seu quadro das garras da repressão.

Não há notícias de que as “Organizações Globo” chegassem a ceder veículos para o aparelho repressivo, como fez o grupo “Folha”, de Octávio Frias, em São Paulo. Os veículos de comunicação dos Marinhos se limitaram a abrir seus espaços de forma áulica aos generais de plantão e seus seguidores.

É preciso que os brasileiros, sobretudo os das novas gerações, sejam informados sobre o que se passou nos anos de chumbo e como se comportaram alguns setores que hoje se dizem defensores da democracia.

No relatório apresentado pela Comissão da Verdade, alguns fatos tornados públicos não chegam a ser novidade, como, por exemplo, que os que pegaram o poder à força torturavam opositores logo depois da derrubada do presidente constitucional João Goulart.

A tortura, portanto, não foi instituída a partir de 1968 com a promulgação do AI-5, como alguns ainda hoje apoiadores do regime justificam. Essa gente, que navega nas ondas do Clube Militar, ao deturpar a história diz que o regime ficou mais duro para enfrentar a guerrilha. Omitem o que acontecia antes de 13 de dezembro de 1968. E que a ação do próprio regime fez com que alguns setores da oposição, de forma precária, partissem para a luta armada por entenderem que seria o único caminho para acabar com o estado repressivo.

EXEMPLO ARGENTINO

A Argentina tem dado exemplo de como ir fundo nas questões da repressão. Além de julgar agentes do Estado que fizeram barbaridades em matéria de violações dos direitos humanos, agora mesmo a Justiça processou três ex-diretores da filial da Ford no contexto de uma causa que investiga o sequestro de trabalhadores em uma filial da empresa norte-americana.

Por ordem da juíza federal Alicia Vence, os acusados Pedro Muller, do setor de manufaturas, Guillermo Galarraga, da área de relações trabalhistas e Héctor Francisco Jesús Sibilla, ex-chefe de segurança da empresa, estão respondendo na Justiça pelo sequestro de 24 trabalhadores da Ford, na localidade de Pacheco, próximo a Buenos Aires, ocorrida entre 24 de março e 20 de agosto de 1976.

Os três, segundo a juíza, facilitaram informações sobre os trabalhadores à repressão. Ou seja, eram dedos-duros, fornecendo até fotografias e os endereços particulares para que as autoridades os prendessem.

Embora os acusados tenham sido considerados “participantes primários dos crimes de privação ilegal da liberdade dos trabalhadores, duplamente agravada por ter sido cometida por abuso funcional, com violência e ameaças”, mesmo assim a juíza ordenou o embargo dos bens dos processados, até alcançar a soma de 750 mil pesos, correspondente a cerca de 143 mil dólares.

É bem possível que a Comissão da Verdade destas bandas, esmiuçando arquivos e toda a papelada da repressão, possa chegar aos dedos-duros que infelicitaram a vida de muitos brasileiros, ajudando, inclusive, o trabalho da repressão, e seguem por aí como se não tivessem nenhuma responsabilidade sobre os acontecimentos.

Em suma, não basta conhecer os 1.500 agentes do estado ditatorial brasileiro, sejam militares ou civis, que cometeram atrocidades, inclusive estupros de opositoras, como informa a Comissão Nacional da Verdade. Para virar a página definitivamente, é preciso fazer o mesmo que está sendo feito na Argentina.

Por lá, em um primeiro momento, duas leis, Ponto Final e Obediência Devida, livravam a cara dos que cometeram violações dos direitos humanos. Bastou aparecer um Presidente com vontade política, como Nestor Kirchner, para que a lei de anistia fosse revogada em 2003. A Corte Surpema, em 2005, confirmou a constitucionalidade da decisão e começaram os julgamentos.

Por aqui, a instância máxima da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF), em um julgamento lamentável, confirmou a Lei da Anistia que deixa impune agentes do Estado que cometeram crimes de lesa humanidade. E ainda não apareceu um Presidente que tivesse vontade política para levar adiante para o Congresso o mesmo que aconteceu na Argentina.”


FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia”, “Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/esqueceram-dos-empresarios). 

AS REVOLUÇÕES DA DILMA

Do portal “Conversa Afiada”:

Os jornalões se apequenaram.

Extraído do Blog “O Cafezinho”:

AS REVOLUÇÕES SIMULTÂNEAS DE DILMA ROUSSEFF

Santos vai na contramão de todas as análises pessimistas e identifica no presente uma série de transformações em curso, muitas das quais silenciosas, mas todas profundas e reais.

O tempo das revoluções simultâneas

Por Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político. 


A “Lei de Responsabilidade Fiscal” de Fernando Henrique Cardoso foi um dos últimos atos da república oligárquica brasileira, atenta à estabilidade da moeda e fiadora de contratos. Necessária, sem dúvida, mas Campos Sales, se vivo, aplaudiria de pé em nome dos oligarcas. Mas já não ficaria tão satisfeito com que o veio a seguir. Depois de promover drástica rearrumação nas prioridades de governo, o presidente Lula instaurou no país uma trajetória de crescimento via promoção social deixando para trás, definitivamente, a memória de Campos Sales e de seus rebentos tardios. Milhões de famílias secularmente atreladas às sobras do universo econômico foram a ele integradas como ativos atores e consumidores. Desde agora, para desgosto de alguns e expectativa de todos os demais, a história do Brasil não se fará sem o concurso participante do trabalho e das preferências desse novo agregado a que chamamos de povo.

Com Dilma Rousseff, instalou-se a desordem criadora, aquela que não deixa sossegada nenhuma rotina nem contradição escondida. Não há, talvez, sequer um segmento da economia, dos desvãos sociais e das filigranas institucionais que não esteja sendo desafiado e submetido à transformação. Da assistência universal à população, reiterando e expandindo a trilha inaugurada por Lula, à reformulação dos marcos legais do crescimento econômico, à organização da concorrência, à multiplicação dos canais de troca com o exterior, ao financiamento maiúsculo da produção, aos inéditos programas de investimento submetidos à iniciativa privada, a sacudidela na identidade nacional alcança de norte a sul. A cada mês de governo, parece que sucessivas bandeiras da oposição tradicional tornam-se obsoletas. Já eram.

O tempo é de revoluções simultâneas, cada qual com seu ritmo e exigências específicas, o que provoca inevitáveis desencontros de trajetos. Uma usina geradora de energia repercute na demanda por vários serviços, insumos, mão de obra, criando pressões, tensões, balbúrdias. Li em “Carta Maior” (9/4/13) que a “Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção” informa que, no Brasil, convivem hoje 12.600 obras em andamento e agendadas até 2016. Ainda segundo a mesma fonte, das 50 maiores obras em execução no planeta, 14 estão sendo realizadas no país. Claro que os leitores não serão informados pela mídia tradicional. A monumental transformação do país, que não precisa apenas crescer, mas descontar enorme atraso histórico, produz entrechoques das dinâmicas mais díspares, o que surge, na superfície, como desordem conjuntural. É, contudo, indicador mais do que benigno. Mas disso os leitores só são informados em reportagens e manchetes denunciando o que estaria sendo o atual “desgoverno do país”. Qual…

Os melhores informativos do estado geral da nação encontram-se nos portais do IBGE, do IPEA e afins. Os antigos jornalões apequenaram-se. São, hoje, nanicos.”

FONTE: escrito por Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político na coluna “Cafezinho”. Transcrito no portal “Conversa Afiada”    (http://www.conversaafiada.com.br/sem-categoria/2013/05/30/wanderley-e-as-revolucoes-da-dilma/).

VICE DOS EUA DIZ QUE BRASIL "NÃO É MAIS UM PAÍS EMERGENTE" (já emergiu)


Em visita ao Rio, vice dos EUA diz que brasileiros já se desenvolveram e fala em 'nova era' nas relações bilaterais

Para número 2 da Casa Branca, o Brasil provou não ser preciso escolher entre política social e economia de mercado

Por Denise Luna e Fábio Seixas, na “Folha”

O primeiro dia da visita de Joe Biden ao Brasil foi de exaltação à liderança regional do país e de sugestões para atuação ainda mais global--embora reconheça a ascensão internacional brasileira.

Além disso, o vice norte-americano defendeu o estreitamento das relações comerciais e acenou para a facilitação de vistos de entrada nos EUA.

"O Brasil não é mais um país emergente. O Brasil emergiu, o mundo todo já notou", disse o vice, em pronunciamento para cerca de 500 pessoas no Píer Mauá (zona portuária do Rio). Foi seu primeiro evento público no país.

Disse que Barack Obama e ele creem no início de "uma nova era" nas relações dos EUA com as Américas Central e do Sul. "E nenhum parceiro é mais significativo nessa iniciativa do que o Brasil."

Por isso, argumentou, a presidente Dilma Rousseff foi convidada para se reunir com Obama em outubro: "Será a única visita de Estado a Washington em todo o ano".

Biden elogiou programas como “Fome Zero” e “Bolsa Família”, afirmando que o mundo vê o Brasil com inveja. "Vocês mostraram que não há a necessidade de escolher entre democracia e desenvolvimento, entre economia de mercado e política social."

E citou quatro pontos em que Brasil e EUA deveriam trabalhar mais próximos.

Começou com as relações econômicas, mencionando as colaborações entre Boeing e Embraer. "Os negócios entre os dois países ultrapassam US$ 100 bilhões por ano. Não há razão para que não cheguem a US$ 400 bilhões ou US$ 500 bilhões", declarou.

Falou ainda sobre a questão da energia. "Vocês são líderes mundiais em biocombustíveis, e estamos aprendendo com vocês", afirmou.

Elogiou a liderança do país na América do Sul, mas sugeriu que o Brasil participe mais de questões mundiais.

Por fim, tocou na questão dos vistos, destacando os esforços dos EUA para tornar mais rápidas as emissões das permissões de entrada para turismo, negócios e estudos.

À tarde, Biden também teve encontro fechado com a presidente da Petrobras, Graça Foster, e depois com empresários brasileiros, como Jorge Gerdau e Eunice Carvalho (CHEVRON), entre outros.

Ele reforçou o interesse dos EUA em intensificar parcerias entre empresas brasileiras e americanas em todas as áreas da economia, "além da energia e do aço", mas não tratou de nenhum tema específico.

"Podemos ir muito além na nossa cooperação. O Brasil é uma das nações mais poderosas do mundo, na frente de Índia, na frente da Rússia", disse Biden após a reunião.

[Quinta-feira], ele se reuniu com autoridades do setor de segurança e, ao lado da mulher, Jill Biden, foi ao morro Dona Marta. À noite, embarcou para Brasília, onde terá encontro com Dilma [hoje].”


FONTE: reportagem de Denise Luna e Fábio Seixas na “Folha de São Paulo”. Transcrita no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/vice-dos-eua-diz-que-brasil-nao-e-mais-um-pais-emergente). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

ALIANÇA PARA O P(ROGRESSO)ACÍFICO

NAFTA

“O projeto inicial dos EUA era ampliar a NAFTA para o conjunto do continente. O México, o melhor aluno do Império, foi o primeiro contemplado com esse “privilégio”. O Chile correu se candidatar como o próximo da fila, exibindo suas cartas de “economia do livre comércio”.

A crise de 1994 no México – e a sublevação zapatista concomitante – fizeram os EUA alterarem sua tática. Se deram conta que era demais que os países latino-americanos simplesmente se agregassem ao acordo já estabelecido – ainda mais se o primeiro país que havia aderido vivia a primeira crise específica do modelo neoliberal.

A proposta foi modificada para a ALCA – Área de Livre Comércio das Américas –, que Bush propôs no Canadá, em 2000, e só teve um voto contra: o de Hugo Chávez. Todos os outros – FHC, Menem, Fujimori et caterva – a favor.

A fase final da negociação da ALCA pegou o Brasil já não mais com a dupla FHC/PSDB-Celso Lafer, mas com Lula-Celso Amorim, e o Brasil inviabilizou a ALCA, abrindo caminho para a priorização dos projetos de integração regional.

Os EUA tiveram que readequar sua estratégia, passando a centrar-se nos “Tratados bilaterais de livre comércio”. Retomou a prioridade do Chile, depois países da América Central – a começar pelo Panamá e pela Costa Rica –, depois com o Peru e a Colômbia.

Porém, esse processo foi afetado diretamente pela emergência dos governos progressistas em alguns dos países mais importantes do continente, assim como pelo enfraquecimento do México – ponta de lança dos EUA no continente –, assim como pela recessão internacional, que tem na economia norte-americana um dos seus epicentros. Ao isolamento político dos EUA diante de novos organismos regionais – como UNASUL, o Banco do Sul, o Conselho Sul-americano de Defesa, a Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe, se somou o isolamento econômico, porque os EUA não têm o que propor aos países da região, com sua economia em recessão.

Assim, mesmo países que assinaram Tratados de Livre Comércio com os EUA – como o Peru e a Colômbia – desenvolvem comércio crescente com os países do MERCOSUL – em particular com o Brasil. O Peru, por exemplo, tem na China e no Brasil seus principais parceiros comerciais, apesar do TLC com os EUA.

Mais recentemente, os EUA incentivaram a formação da “Aliança do Pacífico”, buscando agrupar o México, o Chile, a Colômbia e o Peru. Uma aliança débil, não apenas pela recessão dos EUA, como também porque – como foi dito – dois desses países tem fluido comércio com países da região fora dessa Aliança. Da mesma forma, o Chile está prestes a derrotar a um dos mais entusiastas promotores dessa Aliança – Sebastien Piñera –, substituído provavelmente por Michele Bachelet, de Partido Socialista.

Os órgãos da mídia vinculados aos EUA – dentre os quais especialmente [o espanhol] “El Pais” – buscam projetar um falso dinamismo dessa Aliança, comparando com uma estagnação do MERCOSUL. (O mesmo jornal que publicou recentemente um ridículo articulo dizendo que o México disputa com o Brasil a liderança continental).

Isto se dá justamente quando o MERCOSUL se amplia – com o ingresso da Venezuela, do Equador e da Bolívia – e se dota de condições de formular projetos de integração regional consistentes, de caráter industrial, tecnológica, educacional, entre outras esferas, possibilidade totalmente vedada aos países da Aliança, baseados no livre comércio e não na integração regional.

Trata-se de uma nova Aliança, que atualiza a infeliz iniciativa norte-americana da “Aliança para o Progresso”, dos anos 1960. Elas têm em comum a tentativa de criar um dique de contenção ao avanço de governos progressistas na América Latina. Na sua primeira versão, buscava prevenir que outros processos revolucionários não se seguissem ao de Cuba. Agora, se trata da tentativa de frear a incorporação de novos países ao poderoso movimento de integração de governos pós-neoliberais. Fracassou na primeira vez, vai fracassar desta vez também.”


FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1255). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

O DESENVOLVIMENTO CHINÊS

[Acelerador de partículas, o SSRF - Shangai Synchrotron Radiation Facility, ou acelerador de partículas de Xangai, que já nasce como a maior plataforma de pesquisas na China na área de física, biologia e materiais. Fonte: Google/Site Inovação Tecnológica - 04/05/2009]

Por José Luís Fiori

"As happened with other great powers, China seems to be following a technological road where the search for modern defense systems constitutes a primum mobile for national scientific endeavors and modern technologies". [N. Trebat e C. A. Medeiros, "Military modernization in Chinese Technical Progress and Industrial Innovation", 2013, p: 25 (1)]

É visível, a olho nu, que a liderança da inovação tecnológica se concentra nos países com maior poder dentro do sistema internacional. E que os países que ocupam posições inferiores acessam as tecnologias de "ponta", por meio da cópia, da importação ou de pequenas adaptações incrementais, mediante pagamento de "direitos de propriedade intelectual". Por isso, invariavelmente, os países que se propõe mudar sua posição dentro da hierarquia internacional também mudam, em algum momento, seu sistema de pesquisa e inovação. Como vem acontecendo com a China, segundo estudo recente dos professores N. Trebat e C. Medeiros, que demonstra que os chineses estão deixando para trás a "cópia tecnológica" e estão se aproximando rapidamente do modelo americano, onde o "sistema de defesa" do país ocupa lugar central no seu "sistema de inovação".

AS GRANDES INOVAÇÕES VIERAM DA ESTRATÉGIA DE DEFESA E DA PREPARAÇÃO PARA A GUERRA, NÃO REGIDOS PELAS FORÇAS DE MERCADO

Nos EUA, a mudança se acelerou durante a II Guerra Mundial, com a criação do “National Defense Research Council” (NDRC), que foi responsável pelo “projeto Manhattan” e pela criação da primeira bomba atômica, e pela reorganização da pesquisa cientifica dentro das universidades e das empresas privadas reunidas dentro de um mesmo "complexo-militar-industrial-acadêmico" de pesquisa e inovação, orientado pela competição militar com a União Soviética.

Donde se possa dizer, hoje, que a Guerra Fria foi responsável - em última instância - pelos principais avanços tecnológicos americanos da segunda metade do século XX, no campo aeroespacial e da energia nuclear, da computação, das fibras óticas e dos transistores, assim como da química, da genética e da biotecnologia. Em todos esses setores, a estratégia de defesa americana funcionou como primeiro motor na criação das tecnologias "duais" que revolucionaram a economia mundial. Hoje, a "Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa" (DARPA) - que responde ao Departamento de Defesa dos EUA - conta com orçamento de mais de US$ 3 bilhões, e financia investigações em todo e qualquer setor considerado estratégico para a segurança americana, independentemente do seu objeto específico, bastando se propor "inovações radicais" na fronteira do conhecimento humano.

No caso chinês, a inflexão começou nos anos 90, depois da Guerra do Golfo, quando a China reconheceu a necessidade de modernizar seu sistema de defesa e mudou o rumo da sua pesquisa científica e tecnológica, adotando, progressivamente, o modelo norte-americano de integração da academia com o setor publico e privado, na produção de "tecnologias duais" capazes de dinamizar, ao mesmo tempo, a economia civil chinesa.

O passo inicial foi dado, ainda na década de 80, com a criação da "Comissão de Ciência, Tecnologia e Indústria, para a Defesa Nacional", mas o verdadeiro salto aconteceu depois de 1990, quando foi criado o "Programa 863" de financiamento à pesquisa de "ponta" e, depois de 2001, quando foi lançado o "Projeto de Segurança Estatal 998", com objetivo explícito de desenvolver a capacidade chinesa de contenção das forças norte-americanas no Mar do Sul da China.

Entre 1991 e 2001, o gasto militar chinês cresceu 5% ao ano, e entre 2001 e 2010, 13%. Hoje, a China possui o segundo maior orçamento militar do mundo, mas o que importa, neste caso, é que os gastos com a "defesa" já alcançam cerca de 30% de todo o gasto governamental com pesquisa e inovação, e foram os grandes responsáveis pelo avanço dos chineses nos últimos anos, na microeletrônica, computação, telecomunicação, energia nuclear, biotecnologia, química, e no campo aeroespacial. Mais recentemente, o "Plano de Desenvolvimento Nacional Científico e Tecnológico de Médio e Longo Prazo", para o período entre 2006 e 2020, aumentou a tônica no desenvolvimento das tecnologias "duais", e na importância da conquista da autonomia militar da China. E apesar de que os chineses sigam utilizando tecnologias importadas, a verdade é que eles obtiveram avanços notáveis nestas últimas duas décadas. Nesse sentido, o novo caminho tecnológico da China parece reforçar verdade antiga e obliterada sistematicamente pela "ciência econômica": que o ritmo e liderança da pesquisa e inovação de "ponta", nos países que lideram a hierarquia internacional, não são determinados pelas forças de mercado. Nestes casos - e cada vez mais - as grandes inovações vieram de sua estratégia de defesa e de sua permanente "preparação para a guerra". Goste-se ou não, foi sempre assim, e ainda mais, no caso dos Estados nacionais que criaram e lideraram, ou lutaram pela liderança do sistema interestatal capitalista, através do séculos.”

NOTA:  (1) N. Trebat e C. A. Medeiros, "Military modernization in Chinese Technical Progress and Industrial Innovation", paper, "World Keynhes Conference", Izmair Economics University, junho de 2013.


FONTE: escrito por José Luís Fiori, professor titular de economia política internacional da UFRJ, autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo". Publicado no jornal “Valor” e transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/sobre-o-desenvolvimento-chines-por-jose-luis-fiori-0). [Imagem do Google e sua legenda adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

quinta-feira, 30 de maio de 2013

POR QUE NEYMAR FOI EMBORA?

Mateus

Por José Roberto Torero 


“Domingo à noite. Mateus (foto), quatro anos, assiste à tevê deitado no chão, com a cabeça numa almofada. Ele está triste, desconsolado. Seu queixo treme e ele quase chora. Mateus sofreu a primeira grande perda em sua vida. Não foi a morte de um avô ou de um cachorro. Foi a despedida de Neymar. Mateus vê o craque saindo de campo, dando entrevistas, e não entende. Por que ele vai embora se todo mundo gostava tanto dele? Por que ele vai embora se mora num prédio lindo, tem um monte de carros e a namorada dele está aqui?

Mateus tem só quatro anos e já sofre uma dor comum aos torcedores brasileiros: ver seus craques partirem.

Assim como pais que acenam no porto vendo seus filhos partirem para a guerra, os torcedores se despedem de seus ídolos sabendo que a chance de voltar é pequena. E, se voltarem, jamais serão os mesmos.

Mas como explicar para Mateus o porquê disso acontecer? Por que os neymares vão embora?

Não deve ser por dinheiro. A Espanha tem um PIB menor que o nosso. O do Brasil é o sexto do mundo, com 2,56 trilhões de dólares. O da Espanha é o décimo-segundo, com 1,49 trilhão.

Aliás, segundo os números do FMI, nosso PIB é maior que o da Itália, que o da Inglaterra, que o da Rússia, que o da Turquia e que o da Coréia do Sul. No entanto, esses países continuam levando nossos jogadores.

O motivo desse êxodo pode ser entendido no jogo de despedida de Neymar, aquele que Mateus assistiu com tristeza.

O jogo rendeu quase 6,9 milhões de reais, a maior arrecadação da história do futebol brasileiro. Mas o Santos, mandante do jogo, ficou apenas com 800 mil reais. Pouco mais de 10%. Estranho, não?

Vamos aos números. Duzentos milhões ficaram com a Federação Paulista, provavelmente o carimbo mais caro da história; 345 milhões foram para a Federação Brasiliense, que, se não me engano, não entrou em campo; e modestos quatro mil reais para o Governo do Distrito Federal.

O Santos, inacreditavelmente, vendeu o jogo à “Aoxy”, uma empresa com menos de um ano de existência, ligada aos empresários Tuca Belotti e Wagner Abraão, já conhecidos por antigos negócios suspeitos com a CBF.

Belotti, em 2006, foi citado em matéria da revista “Veja” por venda de ingressos da Copa do Mundo no mercado negro.

Abraão é mais famoso. A CPI do futebol viu que uma de suas empresas, a SBTR, teoricamente responsável pelas passagens aéreas da seleção, recebeu 31,1 milhões de reais entre 1998 e 2001. E, segundo o relatório dos senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens.

Abraão também terá que explicar por que o pagamento das cotas de patrocínio da TAM ia para as empresas “Pallas Operadora Turísticas”, “Iron Tour Operadora Turística Ltda”, “One Travel Turismo Ltda” e “Top Service Turismo Ltda”, todas de sua propriedade. Por que um dinheiro que pertence à CBF deveria ir para a conta de terceiros?

Essa “Aoxy” de Belotti e Wagner Abraão é que, descontando-se os montantes recebidos pelas duas federações, deve ficar com cinco milhões e meio de reais. E, ao que consta, a empresa não tem jogadores e não botou um real no novo estádio Mané Garrincha, que custou 1,6 bilhão de dinheiro público.

Ou seja, ganham as federações, ganham os espertos, ganha quem não tem nada a ver com o futebol em campo. E os clubes, às vezes por incompetência, às vezes por corrupção, acabam ficando com migalhas da riqueza que produzem.

Por conta disso, os neymares acabam indo embora. Por conta disso, Mateus está triste.”
FONTE: escrito por José Roberto Torero no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22116). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].

UM OUTRO ESTADO É POSSÍVEL

(Foto: Ubirajara Machado / MDS) 

Publicação eletrônica da “Fundação Perseu Abramo” traz, entre outros temas relevantes, entrevista com a ministra do MDS, Tereza Campello. Leia abaixo a entrevista:

"UM OUTRO ESTADO É POSSÍVEL


O crescimento econômico da última década beneficiou de forma mais significativa a população de renda mais baixa

A redução da desigualdade no Brasil, registrada em vários indicadores, como o aumento da renda da população mais pobre e a queda acentuada da mortalidade infantil, resulta da ação política do governo petista nos últimos dez anos, com a construção dos programas “Bolsa Família” e “Brasil Sem Miséria”. Essa é uma das avaliações da ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, em entrevista à “Teoria e Debate”. “O debate sobre o desenvolvimento inclusivo está na origem do PT”, afirma. Além da transferência de renda, ela enumera outros três fatores para esse quadro: aumento real do salário mínimo, ampliação de postos de trabalho e estímulo à agricultura familiar.

No governo Lula, uma grande parcela dessa população foi incluída no “Bolsa Família”. Agora, o governo sai a campo em busca das pessoas que ainda estão fora do programa e direciona as ações para as crianças e os adolescentes irem à escola. Segundo a ministra, esses programas não sofrerão retrocesso porque recebem o apoio da população e são construídos com os municípios e os estados.

Ministra, qual o balanço de dez anos do “Bolsa Família”?

Tereza Campello - Há dez anos, iniciamos um programa muito claro. Há quem diga que o PT mudou seu discurso. Como sou militante fundadora, participei de muitos programas de governo, para município, estado e país. É preciso dizer que tudo que tínhamos como meta, programa, estamos executando.

O debate sobre desenvolvimento inclusivo está na origem do PT. Sempre discutimos não haver oposição entre social e econômico. Não era questão de “primeiro crescer para depois incluir”… Estamos tratando a política social e a econômica como uma só nestes dez anos.

O mercado interno de massa, que é a base da construção da agenda econômica do PT, está presente em todos os programas de governo de Lula, como candidato à Presidência ao longo da década de 1990. Hoje, o Brasil é reconhecido no mundo por usar o próprio mercado para impulsionar seu desenvolvimento, inclusive para fortalecer o mercado interno. É óbvio que não é só isso, mas nunca dissemos que era só com base no mercado interno e no consumo que teríamos uma agenda de crescimento. Isso fazia parte.

É preciso recuperar o que estabelecemos na construção da agenda do governo federal e o que fizemos de fato. Outro ponto da agenda partidária que é muito forte no conjunto das políticas públicas nestes dez anos é a construção do país com estados e municípios.

Elementos que nos ajudaram a construir nosso programa de governo estiveram presentes e são as grandes alavancas para organizar as políticas públicas no Brasil.

E aí vem o princípio da inclusão também?

Tereza Campello - Dizíamos que tinha de aumentar o salário mínimo, o emprego formal, porque assim as pessoas iriam consumir e o país se desenvolveria. E usávamos este termo: mercado interno de massa. Isso está nos textos da professora Maria da Conceição Tavares e do Aloizio Mercadante, que foram base para o debate do programa petista em 1994.

Quando olhamos para trás, podemos encontrar períodos em que a renda no Brasil cresceu, mas não um período em que a renda cresceu e a desigualdade diminuiu.

O crescimento econômico da última década beneficiou de forma mais significativa a população de renda mais baixa. A renda dos 20% mais pobres aumentou sete vezes mais que a dos 20% mais ricos – em média, 5,1% ao ano acima da inflação, contra 0,7%. Mais de 70% é renda do trabalho, e não transferência de renda.

O que explica isso?

Tereza Campello - Há uma gama de fatores que permitem que se chegue a esse resultado, mas vou elencar os que são, para mim, os quatro mais importantes, dado seu impacto nacional. O primeiro é a geração de empregos formais. Foram criados 19 milhões de postos de trabalho, ao longo do governo do presidente Lula, dentro de uma rede de proteção, com outro padrão de qualidade e de segurança. À medida que isso ocorre, esses trabalhadores acabam sendo incluídos em outras redes, como de acesso à informação, à saúde.

O segundo é o aumento real e sistemático, anual, do salário mínimo, que atingiu 72% em dez anos. Esse aumento tem impactos positivos no conjunto dos trabalhadores formais no Brasil, nos aposentados e até em quem está na informalidade, uma vez que o salário mínimo funciona como um farol de referência também para o mercado informal. Portanto, atinge o conjunto da economia.

O terceiro é o fortalecimento da agricultura familiar por meio de várias políticas. Saímos de um patamar de R$ 4 bilhões de crédito ofertados e, possivelmente, chegaremos a R$ 20 bilhões, pois há também a construção do “Programa de Aquisição de Alimentos” – política pública de compra de alimentos para fortalecer a agricultura familiar. Usamos a política de fortalecimento da distribuição de alimentos para população pobre e o estabelecimento de critério, na merenda escolar, de compras também a partir da agricultura familiar, o que cria ainda toda uma dinâmica de fortalecimento da economia regional.

E o quarto fator são os programas de transferência de renda. Não apenas o “Bolsa Família”. Há aumento no “Benefício de Prestação Continuada” (BPC), destinado a pessoas com deficiência, pobres ou idosos não cobertos pela aposentadoria contributiva, em situação de extrema pobreza, e também da aposentadoria rural, que é muito importante.

Durante o período do presidente Lula, esses benefícios atenderam cerca de 4 milhões de brasileiros, que passaram a receber um salário mínimo, com grande parte deles se tornando arrimo…”

BRASIL É REFERÊNCIA GLOBAL EM REFEIÇÕES ESCOLARES, aponta estudo da ONU

“Com 47 milhões de beneficiados, o Brasil está na segunda colocação na relação de países onde mais crianças são alimentadas nas escolas.

De acordo com o relatório “Estado Mundial da Alimentação Escolar 2013”, o Brasil está na segunda colocação na relação de países onde mais crianças são alimentadas nas escolas. Atualmente, 47 milhões de meninos e meninas recebem refeições nas escolas brasileiras, perdendo apenas para Índia, com 117 milhões. Atrás do Brasil estão os Estados Unidos, com 45 milhões de crianças, e a China, com 26 milhões.

O estudo é uma realização do “Programa Mundial de Alimentos” da ONU (PMA) e analisa mundialmente os programas de alimentação escolar em países desenvolvidos e em desenvolvimento, bem como dados sobre a forma como os governos usam a merenda como um fator de segurança em tempos de crise.

De acordo com o PMA, em torno de 368 milhões de crianças — cerca de uma em cada cinco — obtêm uma refeição na escola todos os dias em 169 países desenvolvidos e em desenvolvimento. No entanto, apesar da alimentação escolar ser global, sua cobertura é menor onde a comida é mais necessária. Em países de baixa renda, apenas 18% recebem uma refeição diária entre as aulas em comparação com quase 49% das crianças dos países de renda média.

As refeições escolares são um investimento que compensa no futuro, com adultos mais escolarizados, mais fortes e mais saudáveis, e é também uma rede de segurança para prevenir que os mais vulneráveis sofram em tempos de crise”, disse a diretora executiva do PAM, Ertharin Cousin.

BRASIL COMO REFERÊNCIA

O documento afirma que o principal fator para o bom desempenho brasileiro está relacionado ao “Programa Nacional de Alimentação Escolar”, que abrange todas as escolas públicas e comunitárias do sistema de ensino básico — incluindo creches, jardim de infância, ensino fundamental e médio e educação para jovens adultos — e atinge 47 milhões de estudantes a cada ano.

O programa foi lançado em 1955 e é o segundo maior do mundo em alimentação escolar.

O estudo também ressalta o vínculo entre a alimentação escolar, a produção de comida e participação da comunidade no País. Desde 2009, por lei, pelo menos 30% dos recursos transferidos pelo “Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação” devem ser usados para adquirir alimentos de agricultores familiares.

O relatório destacou também o “Programa de Aquisição de Alimentos” (PAA), outro pilar brasileiro na luta contra a fome e a pobreza, que promove compras de produtos alimentícios diretamente da agricultura familiar para os programas alimentares do governo. O PAA ajudou a criar, de acordo com a ONU, um vínculo entre os pequenos agricultores e as refeições escolares, barateando os custos da comida e aumentando a disponibilidade de frutas e vegetais.

O estudo também citou o “Centro de Excelência contra a Fome no Brasil”, localizado em Brasília e dedicado à discussão de políticas e aprendizado Sul-Sul para a alimentação escolar, nutrição e combate à fome e desnutrição. O centro foi criado em 2011 e é uma parceria entre o PMA e o governo brasileiro para apoiar soluções sustentáveis contra a fome em países da África, América Latina e Ásia.

DOAÇÕES

O PMA ressaltou o importante papel do Brasil como doador nos programas de alimentação de países de baixa renda. Nestes, o apoio internacional conta por 83% de todo o investimento na alimentação escolar e, além do Brasil, são doadores importantes a Austrália, Canadá, Egito, Estados Unidos, Honduras, Luxemburgo e Rússia, entre outros. De acordo com a agência da ONU, a parceria com os doadores é importante não apenas pelo financiamento, mas também pela experiência e compartilhamento de aprendizado.

O investimento global nos programas alimentares escolares é de cerca de 75 bilhões de dólares, com a maioria proveniente de orçamentos de governos. Embora possam parecer um grande investimento, os benefícios são ainda maiores, pois, segundo o relatório, para cada um dólar gasto pelo governo e doadores, pelo menos três dólares são adquiridos em retorno econômico.

Nos últimos cinco anos, pelo menos 38 países têm ampliado os seus programas de alimentação escolar em resposta a uma crise – seja relacionada com os preços dos alimentos, conflitos, desastres naturais ou a volatilidade financeira, aponta o estudo.

Durante as crises de alimentos e combustíveis, em 2008, muitos governos se esforçaram para proteger os mais vulneráveis da fome e olharam para a merenda para conseguir isso. Na atual recessão, mesmo os países ricos estão examinando como a merenda pode impedir as famílias de serem atingidas pela pobreza e a fome”, disse Carmen Burbano, principal autora do relatório.”

FONTE: do “Portal Brasil”. Transcrito no portal do PT  (http://www.pt.org.br/noticias/view/brasil_e_referencia_global_em_refeicoes_escolares_aponta_estudo_da_onu). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].

ECONOMIA BRASILEIRA CRESCE 0,6% NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2013

Setor de agropecuária foi o que mais cresceu: 9,7% (17% em relação ao 1º T 2013)

“O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 0,6% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao último trimestre de 2012. Em valores correntes, o PIB [do trimestre] alcançou a marca de R$ 1,11 trilhão.

O crescimento é o mesmo observado no quarto trimestre de 2012. Pelo lado da produção, o crescimento do PIB foi sustentado pelo setor de agropecuária, que registrou expansão de 9,7% no trimestre em relação ao trimestre anterior. Os serviços tiveram aumento de 0,5%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou que houve melhora na qualidade do crescimento da economia no primeiro trimestre deste ano. De acordo com Mantega, a melhora ocorreu porque o crescimento foi “puxado, sobretudo, pelos investimentos”. O ministro acrescentou que os estímulos do governo à economia, em 2012 e 2011, ainda estão surtindo efeitos.

INDÚSTRIA

Já a indústria teve queda de 0,3% na comparação com o último trimestre do ano passado. A indústria também teve queda de 1,4%, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Segundo a gerente de “Contas Nacionais” do “Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística” (IBGE), Rebeca Palis, a indústria vem mostrando quedas e taxas de estabilidade desde o último trimestre de 2011.

Na comparação com o último trimestre de 2012, a indústria extrativa mineral teve o pior desempenho, com queda de 2,1%. O resultado foi influenciado, principalmente, pela menor produção de petróleo, provocada por paradas de produção em plataformas de petróleo.

A mineração também teve resultado negativo. A construção civil caiu 0,1%. Por outro lado, a indústria da transformação cresceu 0,3%. A extrativa mineral também teve o pior resultado na comparação com o primeiro trimestre de 2012 (-6,6%). A construção civil teve queda de 1,3% e a indústria da transformação, de 0,7%. Apenas o setor de produção e distribuição de eletricidade, gás e água teve desempenho positivo, com alta de 2,6%.

FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO

Pelo lado da demanda, houve crescimento na formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, de 4,6%. O consumo das famílias cresceu apenas 0,1%, enquanto o consumo do governo manteve-se estável. As exportações tiveram queda de 6,4%, enquanto que as importações subiram 6,3% no período.

Os dados foram divulgados na quarta (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o primeiro trimestre de 2012, o PIB brasileiro teve crescimento de 1,9%. No acumulado dos 12 meses, a economia apresentou crescimento de 1,2%.

OUTROS PAÍSES

No primeiro trimestre deste ano, em relação ao trimestre anterior, o crescimento brasileiro de 0,6% foi o mesmo registrado pela economia norte-americana. Segundo o IBGE, a economia do Brasil cresceu menos que a japonesa e a coreana (ambas com alta de 0,9%).

O Brasil cresceu mais que países como México (0,5%), Reino Unido (0,3%) e Alemanha (0,1%). Outros países tiveram queda no primeiro trimestre de 2013 em relação ao trimestre anterior: Portugal (-0,3%), Itália (-0,5%) e Espanha (-0,5%). A economia da União Europeia caiu 0,1%.

Na comparação com o BRICS, o crescimento de 1,9% do Brasil no primeiro trimestre de 2013 em relação ao mesmo período do ano passado foi o mesmo observado pela África do Sul e superior ao registrado pela Rússia (1,6%). A China teve crescimento econômico de 7,7%. A Índia ainda não divulgou seu PIB.”

FONTE: Agência Brasil. Transcrito no portal “Vermelho”  (
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=214840&id_secao=2
). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].

MEIOS DE COMUNICAÇÃO E ECONOMIA


“A democratização do setor de comunicações é condição “sine qua non” para que se obtenha um processo de produção e difusão de informações e análises de economia que seja marcado pela efetiva pluralidade. Assim, torna-se fundamental a superação do atual modelo, marcado pela concentração de poder e pela olipogolização do setor.

Por Paulo Kliass

A discussão a respeito da necessidade de efetiva regulamentação dos meios de comunicação parece não estar encontrando o eco que merece em nossas terras. Infelizmente, a importância da matéria não tem sido correspondida por posição mais efetiva da Presidenta Dilma, que se recusou a colocar sua equipe para atuar no Congresso Nacional em defesa do projeto de lei preparado pelo ex-Ministro Franklin Martins, ainda no governo Lula.

Ao invés de se apoiar nas experiências recentes de outros países, como a Argentina e a Inglaterra, o governo se acomoda, mais uma vez, na postura defensiva no debate e se rende aos interesses das grandes corporações proprietárias dos meios de comunicação. Tanto no caso dos vizinhos “hermanos”, quanto no espaço supostamente liberal britânico, foram aprovados textos legais impondo algum grau de regulamentação e controle públicos sobre as atividades da imprensa, em toda a sua diversidade de difusão nos tempos de hoje.

Por outro lado, além da postura passiva no quesito do marco regulatório, a posição governamental tem sido a de apoiar explicitamente os grandes conglomerados oligopolistas do setor, sem promover nenhuma medida de descentralização dos veículos no que ser refere ao suporte das verbas de propaganda e publicidade. O mesmo ocorre quanto à estratégia de consolidação e fortalecimento de uma rede de veículos públicos de comunicação, capaz de oferecer visão distinta daquelas oferecidas pelas poucas e mastodônticas empresas privadas do ramo.

TERMINOLOGIA ENVENENADA: “MÍDIA” E “ECONOMICS”

No caso específico da economia, a situação é ainda mais grave, uma vez que o recorte deveria envolver também formas bastante distintas de encarar o fenômeno econômico e as diferentes alternativas para implementação das medidas de política públicas na área. Aliás, a encrenca já começa na própria denominação que o setor se oferece: “mídia”. Prefiro o caminho adotado pelos países de língua espanhola, que adotaram o termo “medios de comunicación”.

Afinal, se falamos tanto em autonomia econômica, social, política e cultural, qual o sentido de usar “mídia” em português? A origem de tudo é o latim “medium”, que se transforma em “media” quando vai para o plural – é assim que se expressa “meios” em latim. Vai daí que os norte-americanos gostaram da expressão encontrada e passaram a usá-la. Porém, com o sotaque de lá, pronunciam aquilo que nós adotamos como sendo o termo em nossa língua: ‘mídia’! Como a hegemonia cultural é enraizada, todo mundo passou a imitá-los, inclusive na nossa gentil maneira de grafar a forma ianque de pronunciar o plural de um termo em latim! Haja criatividade para tamanha submissão!

Por outro lado, observa-se claramente opção consciente realizada pelos grandes órgãos de imprensa, ao adotar um único lado no debate econômico. A economia é apresentada como ciência quase exata e carregada de suposto véu de neutralidade técnica. Com isso, oculta-se do leitor ou do espectador o fato de que os pensadores clássicos sempre trataram o fenômeno de forma mais ampla. Para Smith, Ricardo ou Marx, por exemplo, tratava-se de uma área do conhecimento chamada de “economia política”, onde o fenômeno econômico não poderia ser compreendido isolado do conjunto mais complexo das relações na esfera do social e do político. Ocorre que a tradição liberal, capitaneada pelos ingleses e norte-americanos, promoveu uma operação reducionista bastante significativa. “Political economy” tornou-se simplesmente “economics” - em português tudo passou a ser qualificado como economia. Com isso, é claro, perdeu-se muito mais do que o mero adjetivo “política”.

RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE, DAS UNIVERSIDADES E DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Não se pode, no entanto, responsabilizar apenas os meios de comunicação como sendo os únicos agentes de tal mudança. Na verdade, o que eles fizeram foi incorporar para dentro das editorias de seus veículos aquilo que se generalizava para o conjunto da sociedade, em razão da hegemonia do pensamento neoliberal que se consolida a partir dos anos 1990. A maior parte das universidades e dos centros de pesquisa também se rendeu a essa forma ortodoxa e monolítica de encarar o fenômeno econômico. Isso implicava abordagem acrítica do modo de funcionamento do sistema capitalista de uma forma geral e a concordância ativa e passiva no que se refere aos modelos de ajuste estrutural e da macroeconomia, tal como sugeridos pelo chamado “Consenso de Washington”. Este último aspecto foi especialmente relevante para o caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, que sofreram bastante com tal opção de política econômica durante quase trinta anos.

Com algumas exceções de resistência política e intelectual a essa estratégia de terra arrasada, mais de uma geração de economistas e de jornalistas cobrindo a área de economia foram formadas sob essa batuta. Porém, ao invés de adotar o critério da pluralidade na transmissão das informações e das análises, os meios de comunicação optaram por alinhamento automático à versão dominante, impedindo que as vozes dissonantes tivessem espaço para divulgação de suas abordagens. A vinculação a uma forma específica de encarar o processo econômico pode ser sintetizada pela trajetória realizada por um grande jornal paulista. Não por acaso, ao longo dessas duas décadas, a empresa optou por mudanças editoriais que implicaram alterações carregadas de significado para aquilo que nos interessa aqui: o caderno “economia” foi transformado em “dinheiro” e mais recentemente em “mercado”. Ou seja, uma transição bastante reveladora da opção adotada pelo grupo e da linha editorial assumida: economia => dinheiro => mercado.

ESPAÇO APENAS PARA A VOZ MONOTÔNICA DO FINANCISMO

A reprodução quase que exclusiva dos interesses e das opiniões vinculadas ao financismo tornou-se prática corriqueira entre os meios de comunicação. A pauta passou a ser coberta com a busca de opiniões de “analistas”, “especialistas” e “consultores de finanças” que se revezavam em oferecer quase sempre a mesma abordagem do fenômeno econômico.

Eram apresentados como verdadeiros interlocutores do oráculo, evidentemente inacessível para os mais comuns dos mortais. De quando em quando, abria-se pequena janela para alguma opinião divergente dessa análise hegemônica. Tal postura sofreu um freio de arrumação a partir da eclosão da crise financeira internacional de 2008, uma vez que o receituário oficial – passivamente aceito até aquele momento - não havia sido capaz de evitar, nem mesmo de atenuar, os efeitos devastadores da conturbação. Boa parte dos grandes figurões do “establishment” foram compelidos a realizar uma espécie de “mea culpa” – algumas meio implícitas, outras mais explícitas.


Aqui no país deu-se processo semelhante. Acompanhando também a mudança sutil de discurso de instituições como o Banco Mundial (BM) e o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), economistas passaram a reconhecer a validade das análises ditas heterodoxas. Os elementos de teorias consideradas como heréticas até a antevéspera da crise, a exemplo do keynesianismo, passaram a frequentar as matérias das editorias de economia.

No entanto, apesar desse recuo tático provocado pela própria realidade, a forma de encarar e refletir a respeito do fenômeno econômico não foi alterada em sua essência, para a absoluta maioria dos grandes meios de comunicação.

Os textos, imagens e as matérias sempre insistem na ideia de que existe apenas uma alternativa adequada para manter a economia “nos trilhos”. E a voz que se expressa pelas editorias de economia é sempre a do financismo.

Os veículos insistem, de forma monotônica, em apresentar uma imagem humanizada à dinâmica econômica, protagonizada pelo capital. Assim, a sensação que passa é de que o “mercado pensa”, o “mercado sugere”, o “mercado exige”, o “mercado se preocupa”. Ao conferir voz e personalidade a esse ente invisível, o que se busca é transformar a implementação de políticas de favorecimento de determinados setores em algo banal, rotineiro, natural e, principalmente, inevitável.

A situação vivida nos Estados Unidos, logo na ante-sala da crise, é bem característica de tal comportamento. A trajetória insustentável dos grandes bancos e demais instituições financeiros era evidente. Porém, a superexposição aos riscos não era mencionada pelos meios de comunicação, que se contentavam em reproduzir as avaliações, sempre otimistas, fornecidas pelas agências de “rating”. Ou seja, como estavam umbilicalmente vinculadas ao modelo de exacerbação dos movimentos especulativos e do chamado “subprime”, as notícias que vinham a público a partir dessas fontes nada isentas - as únicas consultadas, diga-se de passagem - fez com que o caldeirão perigoso e irresponsável do mundo financeiro não fosse conhecido da maior parte da sociedade, senão no dia mesmo da explosão. Como não houve espaço para nenhum alerta prévio, a informação para o grande público só chegou no “day after” do desastre.

No caso brasileiro, por outro lado, a própria institucionalidade do aparelho de Estado contribui para tal unilateralidade na cobertura dos eventos. O comportamento do Comitê de Política Monetária (COPOM) é instruído por uma consulta periódica efetuada pelo Banco Central. A pesquisa “Focus” pretende aferir as chamadas “expectativas dos agentes econômicos” quanto aos rumos e às principais variáveis de nossa economia. Ocorre que são ouvidos exclusivamente indivíduos e instituições que têm atuação no mercado financeiro, o que torna o resultado bastante tendencioso e viesado. Os meios de comunicação ancoram-se nesse tipo de material para embasar as preocupações e as propostas do tal “mercado”, em sua busca permanente por aumentar a rentabilidade do financismo. Assim, tenta-se oferecer para o público a idéia de que o conjunto da sociedade está a corroborar tal opção, quando na verdade a situação é bem outra. Afinal, não foram ouvidos pesquisadores independentes, instituições de pesquisa vinculadas às universidades ou mesmo economistas que atuam como assessores de entidades do mundo sindical e de associações estranhas ao universo empresarial. Não! O BC ouve apenas “la crème de la creme” da banca e do universo financeiro.

NECESSIDADE DE DEMOCRATIZAÇÃO E PLURALIDADE

A democratização do setor de comunicações é condição “sine qua non” para que se obtenha um processo de produção e difusão de informações e análises de economia que seja marcado pela efetiva pluralidade. Assim, torna-se fundamental a superação do atual modelo, marcado pela concentração de poder e pela olipogolização do setor. A descentralização do número de veículos e a diversificação das linhas de orientação permitirão, em tese, que os diferentes grupos da sociedade consigam se identificar nesse mosaico mais amplo de alternativas. Além disso, é urgente a consolidação de um núcleo de emissoras e veículos de natureza pública, para que o Estado tenha condições de oferecer a sua forma particular de encarar e analisar o fenômeno econômico.

Um marco regulatório que avance também pelo caminho da responsabilização e da transparência deverá criar as condições para que a cidadania rompa com os limites estreitos e privadamente orientados das vozes do “mercado”. A função pedagógica dos meios de comunicação também deve ser ressaltada: para além da simples informar, há que aprimorar também sua função de formação. Ao invés de simplesmente oferecer as inúteis cotações de fechamento do mercado fetichizado de bolsas de valores e de câmbio, os veículos deveriam contribuir para que a população consiga efetivamente compreender os movimentos da dinâmica da economia. A maioria de brasileiros e brasileiras têm, com certeza, outros interesses a fazer valer em termos de orientação e análise da nossa política econômica.”
FONTE: escrito por Paulo Kliass, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal, e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10. Artigo transcrito no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6113). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].