domingo, 31 de março de 2013

Brasil: "do 14-BIS ao 14-X"

14-X


AERONAVE QUE VOA A MAIS DE 11.000 KM/H COLOCA O BRASIL NA ELITE DA ENGENHARIA AEROESPACIAL E NA IMINÊNCIA DE SUPERAR TECNOLOGICAMENTE OS EUA


Por Lucas Bessel, da revista “Isto É”

14-Bis

"Em um laboratório em São José dos Campos, interior de São Paulo, a aeronave mais avançada do Brasil ganha forma. Batizado de 14-X, o aparelho tem nome inspirado na mais famosa máquina voadora brasileira, o 14-Bis. Em comum com o avião de Santos Dumont, o 14-X tem o poder de garantir para o País um lugar no pódio da tecnologia aeroespacial. Não tripulado, o modelo é hipersônico, capaz de atingir dez vezes a velocidade do som (mais de 11.000 km/h).

As propriedades do 14-X colocam o Brasil no seleto grupo de nações – ao lado de Estados Unidos, França, Rússia e Austrália – que pesquisam os motores scramjet, que não têm partes móveis e utilizam ar em altíssimas velocidades para queimar combustível (no caso, hidrogênio). Outra característica do veículo desenvolvido pelo “Instituto de Estudos Avançados” da Força Aérea Brasileira (IEAv) é que ele é um “waverider”, aeronave que usa ondas de choque criadas pelo voo hipersônico para ampliar a sustentação. É como se, ao nadar, um surfista gerasse a onda na qual irá deslizar. 


 O projeto nasceu em 2007, quando o capitão-engenheiro Tiago Cavalcanti Rolim iniciou mestrado no ITA e foi aprovado com uma tese sobre a configuração “waverider”. Cinco anos depois, a teoria está prestes a virar prática. O primeiro teste do 14-X em voo, ainda sem a separação do foguete utilizado para a aceleração inicial, ocorrerá neste ano. Em seguida, a Força Aérea planeja outros dois experimentos: um com acionamento dos motores scramjet, mas com a aeronave ainda acoplada, e outro com funcionamento total, quando a velocidade máxima deve ser atingida. “Se formos bem-sucedidos nesses ensaios, estaremos no topo da tecnologia, embora com um programa muito mais modesto do que o dos americanos”, diz o coronel-engenheiro Marco Antonio Sala Minucci, que foi diretor do IEAv durante quatro anos e é um dos pais do 14-X.


O grande desafio no desenvolvimento da tecnologia de altíssimas velocidades é a construção dos motores scramjet. Um engenheiro ligado ao projeto compara a dificuldade de ligar tais propulsores a “acender uma vela no meio de um furacão”. Por isso, o IEAv realiza os testes do primeiro protótipo no maior túnel de choque hipersônico da América Latina, no próprio laboratório do instituto. Diferentemente do que ocorre em turbinas de aviões, esse motor não usa rotores para comprimir o ar: é o movimento inicial, gerado pelo foguete, que fornece o fôlego necessário. No 14-X, os propulsores scramjet são acionados a mais de 7.000 km/h.

Esse será o caminho eficiente de acesso ao espaço em um futuro próximo”, diz Paulo Toro, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do 14-X. As aplicações práticas vão além do lançamento de satélites ou dos voos suborbitais. Os EUA, que testam sua aeronave batizada de X-51, pretendem usar a tecnologia em mísseis intercontinentais. Entre os civis, a esperança é de que o voo hipersônico possa se tornar uma realidade em viagens turísticas. Ir de São Paulo a Londres em apenas uma hora não seria nada mau.”


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COMPLEMENTAÇÃO

 

O 14-X HIPERSÔNICO, UM FUTURO PARA A FAB


O 14-X Hipersônico visto no espaço

Do site “Defesa Br”

“INTRODUÇÃO

Dentre as iniciativas nacionais na área de Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico, uma novidade bastante animadora poderá ser revolucionária para a aviação e para a área espacial de lançamento de satélites, como hoje as conhecemos.

Trata-se de uma aeronave hipersônica conhecida como 14-X com motor scramjet (contração de “Supersonic Combustion Ramjet”), ambos totalmente brasileiros.

São projetos de interesse do Comando da Aeronáutica (Hipervelocidade e Propulsão com Ar Aspirado) e do Programa Espacial Brasileiro (Veículo Lançador de Satélites - VLS e Satélite Recuperável Atmosférico – SARA).

Tudo acontece graças ao contínuo apoio da FAPESP aos esforços do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA/FAB) em demonstrar a viabilidade da construção de veículos capazes de voar acima de 6 vezes a velocidade do som, em vôo hipersônico. O 14-X será capaz de atingir dez vezes a velocidade do som (mais de 11.000 km/h).


O que se almeja para o futuro é a construção de avião hipersônico capaz de dar a volta ao planeta em poucas horas sem precisar queimar combustível fóssil.

Ele utilizará o próprio ar atmosférico como oxidante, ou seja, para a queima do hidrogênio líquido (combustível). E só levará o oxigênio necessário para a queima do combustível no trajeto fora da atmosfera terrestre.

O
motor hipersônico brasileiro já existe e está sendo testado no novo Túnel De Vento Hipersônico Pulsado (T3) do DCTA.

O 14X HIPERSÔNICO

A nave brasileira hipersônica com a tecnologia de propulsão com ar aspirado já existe hoje além do papel. Será um veículo aéreo não-tripulado (VANT) com objetivo de colocar satélites em órbita.

Tendo sido batizado de 14-X, tal nave deveria voar até 2010, mas atrasos fizeram a FAB mudar o ano para 2012 e depois 2013.

Trata-se de óbvia referência ao 14 Bis de Santos Dumont, o primeiro avião da história. A concepção do 14-X é de autoria do mestrando 1º Tenente Tiago Cavalcanti Rolim, que se formou no ITA em 2005. Mas ele nasceu mesmo como projeto em 2007, quando o já capitão-engenheiro Rolim iniciou mestrado no ITA e foi aprovado com uma tese sobre a configuração "waverider".

No segundo semestre de 2007, o Instituto de Estudos Avançados (
IEAv) deu início aos testes com um modelo experimental reduzido do 14-X.

Trata-se de uma aeronave com 80 cm de comprimento, construída em aço inoxidável, que é equipada com sensores de pressão, fluxo de calor e força para uma série de testes no T3.

Modelo de 80 cm do 14-X Hipersônico em ensaio de vento no T3 (Foto FAB)

Os testes em túnel de vento simulam as condições de vôo do modelo experimental reduzido, sobre o qual são instalados sensores de pressão e temperatura para registro dos dados. Uma câmera filmadora de alta velocidade - dois milhões de quadros por segundo - permite a visualização do escoamento de ar sobre a fuselagem.

Demonstração de ensaio de vento do modelo do 14-X no T3 ao Comandante Juniti Saito, em 2 de junho de 2008. (Foto FAB)

A etapa seguinte será a construção do modelo de vôo. Será uma aeronave com 2,5 m de comprimento e cerca de 300 quilos de peso. Ela será lançada por um foguete até atingir o ponto de combustão hipersônica. Isso porque o motor não terá capacidade de aceleração a partir de zero.

O lançamento do 14-X poderá ser feito por um foguete de sondagem
VS-40 ou um foguete do tipo do Pegasus, que colocou em órbita os satélites SCD-1 e SCD-2, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Foguete de sondagem VS-40

Características

  • Comprimento (mm) 6725
  • Massa da carga útil (kg) 500
  • Diâmetro (mm) 1000
  • Massa total de partida (kg) 6,737
  • Massa de combustível (kg) 5,054
  • Massa estrutural (kg) 1,028
  • Apogeu (km) 650
  • Tempo em microgravidade (s) 760

O motor do 14X não será uma peça à parte, como é habitual hoje. Ele só funcionará integrado à aeronave. Os testes desse motor hipersônico tiveram início em outubro de 2009.

A nave como um todo puxa o ar da atmosfera para a queima do combustível pelo motor. Com isso, o 14-X será uma formidável plataforma de testes para conceitos inovadores.


Durante o vôo, o ar é comprimido pela própria geometria e velocidade do veículo e é direcionado para uma câmara na parte inferior do avião, onde também é injetado gás hidrogênio, que entra em combustão supersônica.

A previsão é que o 14-X seja lançado de um foguete brasileiro em 2013 ou 2014. Isso [usar um foguete] porque o motor precisa de um impulso inicial até que atinja o ponto de combustão.

O 14-X Hipersônico visto de perfil

Outra tecnologia de ponta que está sendo utilizada no projeto do 14-X é o conceito "waverider", responsável pela sustentação da aeronave, através da formação de uma onde de choque na parte inferior do veículo. A tecnologia waverider confere alta razão de planeio ao veículo, que voa mais longe com a mesma quantidade de combustível.

A aeronave usa ondas de choque criadas pelo voo hipersônico para ampliar a sustentação. É como se, ao nadar, um surfista gerasse a onda na qual irá deslizar.

Seu primeiro teste em voo, ainda sem a separação do foguete utilizado para a aceleração inicial, deverá ocorrer em 2013.

Em seguida, a Força Aérea Brasileira planeja outros dois experimentos: um com acionamento dos motores scramjet, mas com a aeronave ainda acoplada, e outro com funcionamento total, quando a velocidade máxima deve ser atingida.
O grande desafio no desenvolvimento da tecnologia de altíssimas velocidades é a construção dos motores scramjet. Um engenheiro ligado ao projeto compara a dificuldade de ligar tais propulsores a "acender uma vela no meio de um furacão".

O foguete gerará o movimento inicial e fornecerá o fôlego necessário ao 14-X, cujos propulsores scramjet serão então acionados a mais de 7.000 km/h. Daí, ele será capaz de chegar ao limite de até dez vezes a velocidade do som ou mais de 11.000 km/h.

Esse será o caminho eficiente de acesso ao espaço em um futuro próximo. As aplicações práticas vão além do lançamento de satélites ou dos voos suborbitais.

O 14-X Hipersônico

TECNOLOGIA WAVERIDER

A tecnologia waverider proporciona sustentação utilizando onda de choque, formada durante o voo supersônico/hipersônico na atmosfera terrestre, originada no bordo de ataque e colada no intradorso do veículo, gerando uma região de alta pressão, resultando em alta sustentação e mínimo arrasto. O ar atmosférico, pré-comprimido pela onda de choque, que está compreendido entre a onda de choque e a superfície (intradorso) do veículo, pode ser utilizado em sistema de propulsão hipersônico aspirado baseado na tecnologia scramjet.

TECNOLOGIA SCRAMJET


A tecnologia scramjet (supersonic combustion ramjet) faz uso de um estatoreator (motor aeronáutico aspirado) que não possui partes móveis e que utiliza ondas de choque, geradas durante o voo hipersônico (de veículos aeroespaciais), para promover a compressão e a desaceleração do ar atmosférico. Imediatamente anterior, ou na entrada da câmara de combustão, combustível é injetado e misturado com oxigênio existente no ar atmosférico.

Como a mistura entra na câmara de combustão em velocidade supersônica, o processo de combustão se dá em regime supersônico, denominada de combustão supersônica, consequentemente tecnologia scramjet. O produto da combustão é expelido na região de exaustão (expansão).

BRASIL E O MUNDO
Com tudo isso, o Brasil está tendo a oportunidade inédita de seguir na dianteira de uma linha de pesquisa avançada em momento estratégico, pois nenhum país no mundo domina ainda a tecnologia dos motores hipersônicos. Os outros países que buscam dominar essa tecnologia são os EUA, Japão, Austrália e Rússia.

Em 2004, a NASA quebrou o recorde de velocidade para uma aeronave com o modelo X-43A, que em apenas dez segundos atingiu 10 mil km por hora, algo próximo a Mach 10 (10 vezes a velocidade do som). Essa velocidade hipersônica foi obtida por meio de motores do tipo
scramjet ou motores a propulsão aspirada.

Em continuidade a esse programa, batizado de Hyperx, a NASA e a Boeing estão desenvolvendo o veículo hipersônico X-51. Os EUA pretendem usar essa tecnologia em mísseis intercontinentais.

O australiano HyShot atingiu altitude de 300 km em trajetória vertical, através do foguete Terrier-Orion. No voo descendente, o veículo da Universidade de Queensland alcançou cerca de 35 km de altitude e Mach 7.6.

Entre os civis, a esperança é de que o voo hipersônico possa se tornar uma realidade em viagens turísticas. Ir de São Paulo a Londres em apenas uma hora não seria nada mal.

A REVOLUÇÃO DE UM TANQUE A MENOS

Uma revolução na área espacial precisa ser ressaltada. Atualmente, nos métodos de lançamento convencionais, os veículos lançadores utilizam motores-foguete, que carregam tanto o combustível como o oxidante.

Os veículos espaciais precisam levar um tanque de combustível e outro de oxidante (a substância que faz com que o combustível queime, como o hidrogênio). A revolução será o uso de um tanque a menos.

Os experimentos permitirão o desenvolvimento de veículos lançadores de satélites que utilizem sistemas de propulsão com ar aspirado, que é uma tecnologia ainda inexistente no mundo. Na propulsão com ar aspirado, carrega-se apenas o combustível. O oxidante passa a ser o oxigênio do ar atmosférico.

Aeronaves como o 14-X permitirão capturar o ar da própria atmosfera e utilizá-lo como oxidante. Com um tanque a menos, a nave ficará mais leve, o espaço para carga útil aumentará e as viagens serão mais baratas.

Como o peso do oxidante é maior do que o do próprio combustível, a carga útil do veículo lançador aumenta, tornando possível carregar mais satélites. Atualmente, um satélite não pode passar de 5 % do peso total de um veículo lançador de satélites.



FONTE: site “Defesa Br”  (http://www.defesabr.com/Tecno/tecno_14X.htm). [Características do VS-40 obtidas no google/Wikipedia e adicionadas por este blog 'democracia&política'].

SUFOCAR A DEMOCRACIA NO BRASIL?


EM DEFESA DAS COLIGAÇÕES 

Por Aldo Rebelo

"A coligação por sua vez favorece as alianças que tecem a democracia. Proibi-la é sufocar a política".

"A chamada “reforma política” mais uma vez entra em debate na Câmara dos Deputados com uma deformação impenitente: acolhe a falácia que temos partidos demais e urge acabar com os pequenos para agigantar os grandes. Se é tema controverso, em contrapartida há consenso para a instituição do financiamento público das campanhas, prevenindo-se a influência do poder econômico.

Com 140 milhões de eleitores, o Brasil tem 29 partidos registrados. Outro grande país presidencialista, os Estados Unidos, tem aproximadamente 200 milhões de eleitores e 75 partidos e admite inscrições avulsas, a ponto de 143 candidatos terem disputado as últimas eleições presidenciais. No parlamentarismo, a Alemanha conta 62 milhões de eleitores e 50 partidos, enquanto em Israel cinco milhões de eleitores votam em 34 agremiações.

No Brasil, existe uma cláusula de barreira pouco mencionada: para eleger um deputado federal, o partido tem de atingir o quociente eleitoral, que é o número de votos válidos divididos pelo de cadeiras. Em São Paulo, na eleição de 2010, o quociente foi de 304,5 mil votos. A regra induz os pequenos partidos a se coligarem, entre si ou com um grande, para eleger um e outro parlamentar. Se um candidato da coligação ultrapassa o quociente, o que é raríssimo, os votos a mais são repassados para os que vêm abaixo.

O sistema eleitoral também dá ao eleitor a opção da escolha nominal ou partidária. Ele pode votar apenas no partido, ou sufragar um candidato. Se, no caso paulista, 304,5 mil eleitores tivessem votado em determinada legenda e um candidato daquela legenda recebido apenas um voto, este seria eleito. Ou seja, a legislação em vigor já embute o voto de lista e fortalece os partidos. A coligação, por sua vez, favorece as alianças que tecem a democracia. Proibi-la é sufocar a política."

FONTE: escrito por Aldo Rebelo, ministro do esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB. Artigo público no jornal "Diário de S. Paulo" e transcrito no portal "Vermelho" (
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=209613&id_secao=1[Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

A IMPORTÂNCIA DOS PARAÍSOS FISCAIS PARA O NEOLIBERALISMO



“Os paraísos fiscais não são segmentos marginais da economia mundial: a sua dimensão demonstra que fazem parte da sua estrutura íntima. Esses pequenos céus fiscais são componente chave do setor financeiro mundial e das suas operações de rotina.

De Alejandro Nadal, do portal “Esquerda.Net”, de Portugal

O episódio mais recente da crise econômica coloca os chamados paraísos fiscais no centro da cena. Chipre é uma pequena economia e uma grande dor de cabeça, mas o essencial é que revelou, uma vez mais, a importância desses espaços na economia mundial: a globalização neoliberal não teria podido desenvolver-se sem a ajuda desses instrumentos da acumulação financeira.

Começamos com uma definição: um paraíso fiscal é um espaço econômico com impostos muito baixos (ou zero) sobre capitais e seus rendimentos. Também oferecem regras de regulação muito fracas sobre todo o tipo de transações financeiras (especialmente as realizadas com derivados) e mantêm o sigilo bancário de maneira quase absoluta sobre titulares de contas e beneficiários, assim como da origem e destino dos depósitos e levantamentos. Em suma, é o campo ideal para a evasão de impostos e para introduzir recursos de procedência ilegal mos fluxos convencionais da economia mundial. Se a crise em Chipre adquire relevância é porque estamos em presença de um dos paraísos fiscais mais importantes do mundo.

E aqui vem o bom. É precisamente porque Chipre estava em boa posição para continuar a desempenhar o seu papel de nirvana fiscal que a pequena ilha foi admitida na esfera do euro em 2008. Você leu bem. Não é um acidente que Chipre faça hoje parte da zona euro.

Isso não deveria surpreender-nos. O grande programa da globalização financeira assenta de maneira fundamental na presença de paraísos fiscais. Como era de esperar, essas economias, ainda que pareçam pequenas, têm setores financeiros superdesenvolvidos. Calcula-se que, em conjunto, têm depositados cerca de 13 trilhões (13.000.000.000.000) de dólares e dão refúgio a cerca de 2 milhões de entidades corporativas do mundo inteiro.

Esse tipo de magnitudes já nos diz algo importante sobre os paraísos fiscais. Não se trata de segmentos marginais da economia mundial, mas sim de uma dimensão que faz parte da sua estrutura íntima. Mais que um simples instrumento para evasão de impostos, esses pequenos céus fiscais são um componente chave do setor financeiro mundial e das suas operações de rotina. No desenvolvimento do capital financeiro, os paraísos fiscais são o espaço privilegiado da gestão especulativa, porque facilitam as operações de arbitragem (isto é, aquelas em que os agentes escolhem instrumentos financeiros e divisas em função de diferenças entre taxas de câmbio e taxas de juro real). Dessa perspetiva, é claro que os paraísos fiscais têm sido essenciais na globalização financeira. E, portanto, também desempenharam papel importante na gestação da crise financeira mundial.

Na lista típica dos países que se consideram paraísos fiscais, abundam as ilhas ensolaradas e os principados mediterrânicos. A enumeração tradicional inclui, quase sempre, em primeiro lugar, as ilhas Caiman, Bermudas, Bahamas, Barbados, Antigua e Barbuda, Mônaco, São Marino e Liechtenstein. Mas a lista é bem mais extensa e contém países como Luxemburgo, Suíça, Panamá, Singapura e Hong Kong. De fato, uma análise mais cuidadosa sobre a estrutura e dinâmica do capital financeiro revela que existem paraísos fiscais em países bem mais importantes. Nos Estados Unidos, existem espaços que cumprem com a definição de paraíso fiscal que apontamos acima. Os estados de Nevada e Delaware reúnem todos os requisitos para serem membros do seleto clube de paraísos fiscais. E mais, nos Estados Unidos não se taxam os pagamentos de juros e rendimentos de capital recebidos por não residentes. Por esse motivo, as análises mais rigorosas sobre paraísos fiscais incluem nas suas listas economias como os Estados Unidos e o Reino Unido. Recentemente, a Alemanha defendeu resolutamente o segredo bancário dos paraísos fiscais.

Os paraísos fiscais também têm servido como instrumentos de pressão para moldar a política fiscal em todo o mundo. Quando o processo de globalização financeira arrancou, no final da década de 70, as taxas marginais máximas do imposto sobre o rendimento das pessoas físicas e das empresas nos países desenvolvidos eram, em média, de 67 e 50 por cento, respectivamente. Na atualidade, essas taxas médias são de 40 e 27 por cento. Em grande medida, essa redução da pressão fiscal deve-se à presença dos paraísos fiscais como alternativa de tratamento fiscal muito mais benigno.

A “solução” para a crise em Chipre destapou a lixeira da globalização financeira. Quando se introduziu a moeda única na Europa, insistiu-se muito nas suas vantagens porque se reduziriam os custos de transação. O que não se disse é que os diversos paraísos fiscais na zona euro encarregar-se-iam de multiplicar os lucros derivados da especulação. É bom momento para recordar as palavras de John Milton quando nos recorda em “O Paraíso Perdido” como virão ‘os lobos cruéis que só procuram saciar a sua vil ânsia de ambição e lucro’.”

FONTE: artigo de Alejandro Nadal, do portal “Esquerda.Net”, de Portugal, publicado no “La Jornada” e transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-importancia-dos-paraisos-fiscais-para-o-neoliberalismo). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

sábado, 30 de março de 2013

RESPOSTA DA PETROBRAS ÀS CRÍTICAS DO JORNAL “NEW YORK TIMES”


“Com relação à matéria “Petrobras, Brazil’s Oil Giant, Struggles to Regain Lost Swagger” publicada pelo ‘New York Times’ (26/3) [ver abaixo, na “complementação”, a tradução do texto obtida em http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/petrobras-gigante-brasileira-do-petroleo-luta-para-recuperar-o-prestigio-texto-do-new-york-times/], a Petrobras reitera que tem capacidade, tecnologia, conhecimento e recursos necessários para transformar o potencial do pré-sal em riqueza para seus acionistas, e já ultrapassou o marco de 300 mil barris de petróleo por dia (bpd) produzidos no pré-sal. O “Índice de Sucesso Exploratório” foi de 64% em 2012 (82% no pré-sal), enquanto a média mundial é de 30%. Nos últimos 9 meses, houve quatro reajustes nos preços do diesel, totalizando aumento de 21,9%, e dois na gasolina, com alta acumulada de 14,9%.

Reconhecida por dispor do melhor portfólio de ativos de petróleo e gás entre empresas de capital aberto do setor, a Petrobras dispõe de 15,7 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) em reservas provadas no Brasil. Com os volumes potenciais do pré-sal e da Cessão Onerosa, pode chegar a quase 30 bilhões de boe. As perspectivas são as mais positivas no longo prazo. O segundo semestre de 2013 será o momento de partida para recuperação da produção, com a entrada em operação das novas unidades, mantendo crescimento contínuo, e atingindo 2,5 milhões de bpd em 2016 e 4,2 milhões de bpd em 2020.

A produção de derivados será impulsionada com a entrada em operação das novas refinarias. Em 2020, a capacidade de refino será de 3,6 milhões de barris por dia, com demanda projetada de 3,4 milhões de barris por dia. Na medida em que os projetos do “Plano de Negócios e Gestão” entrarem em operação, a geração de caixa irá aumentar ainda mais. É importante destacar que os investimentos da indústria de petróleo e gás são de longa maturação.

Em relação à política de Conteúdo Local, a Petrobras esclarece que contrata bens e serviços no Brasil em bases competitivas e sustentáveis. Os índices exigidos são embasados em estudos que consideram a capacitação da indústria brasileira, características técnicas e prazos. A indústria nacional tem respondido à altura das demandas da Petrobras. Os principais benefícios para a Companhia são a redução dos custos operacionais, a proximidade da base de fornecedores, o aumento da capacidade de inovação da cadeia e a assistência técnica local.”

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COMPLEMENTAÇÃO: TRADUÇÃO DO TEXTO DO “THE NEW YORK TIMES”:

“Petrobras, gigante brasileira do petróleo, luta para recuperar o prestígio (texto do ‘New York Times’)

 

Tradução do texto “Petrobras, Brazil’s Oil Giant, Struggles to Regain Lost Swagger”, publicado no "New York Times" em 26/3/13:

Simon Romero

"A produção petrolífera brasileira está caindo, levantando dúvidas sobre a descoberta que era tida como o grande achado do petróleo. As importações de gasolina estão crescendo rapidamente, expondo o país às variações repentinas dos mercados mundiais de energia. Até mesmo o setor de etanol do país, que já foi alvo de inveja como um modelo de energia renovável, teve de importar etanol dos Estados Unidos.

Já se passaram cinco anos desde que os brasileiros comemoraram a descoberta feita pela petrolífera estatal, Petrobras, de enormes quantidades de petróleo em campos de águas profundas, as quais colocaram o país em posição triunfante entre os principais produtores mundiais. Mas agora outro tipo de choque energético está despontando: a empresa colossal, conhecida de longa data por seu poder, está perdendo o páreo de acompanhar as crescentes demandas energéticas do país.

Sobrecarregada com uma obrigação nacionalista de comprar embarcações, plataformas de petróleo e outros equipamentos de apáticas empresas brasileiras, a gigante do petróleo agora enfrenta altas dívidas, enormes projetos atolados em atrasos e campos maduros, que já foram de bastante produtivos, mas de onde agora sai menos petróleo. A abundância submarina que está em seu alcance também continua com uma complexidade extrema de exploração.

Agora, ao invés de simbolizar a ascensão brasileira como uma casa de força mundial, a Petrobras encarna a própria morosidade da economia do país, que, após saltar 7,5% em 2010, reduziu o ritmo para menos de 1% no ano passado, ficando atrás do crescimento de outros países latino-americanos como o México e o Peru.

Até pouco tempo, a Petrobras tinha o segundo maior valor de mercado entre as empresas de capital aberto do setor energético, ficando atrás apenas da ExxonMobil. No entanto, sua opulência caiu a um ponto que agora a empresa brasileira vale menos do que a petrolífera estatal colombiana. Essa queda acentuou um debate cada vez mais ácido sobre as tentativas da Presidente Dilma Rousseff de usar a Petrobras para proteger a população brasileira contra o ritmo desacelerado da economia do país.

“A Petrobras já foi considerada indestrutível, mas não é mais o caso”, afirma Adriano Pires, notável consultor brasileiro do setor de energia. “Agora, a Petrobras é uma ferramenta de política econômica de curto prazo, usada para combater a inflação e proteger o setor industrial interno contra a concorrência. Esse processo desastroso ficará pior se não for revertido”.

Dilma, como seu antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, apoia-se bastante em empresas estatais como a Petrobras para criar empregos e estimular a economia. Em decorrência disso, a presidente e seus principais assessores declaram que o desemprego permanece próximo a níveis mínimos históricos, uma abordagem de gestão econômica que contrasta nitidamente com a Europa e os Estados Unidos.

Em um discurso recente, Dilma explicou que a prioridade de seu governo era tirar milhões de brasileiros da pobreza. “Quem aposta contra nós”, declarou a presidente, “sofrerá graves perdas financeiras e políticas”.

Apoiando os índices de aprovação do governo de Dilma, que concorrerá nas eleições presidenciais de 2014, a Petrobras está construindo novas refinarias, procurando petróleo offshore e comprando a maior parte de seus equipamentos de empresas brasileiras. Tudo isso criou dezenas de milhares de postos de trabalho e concretizou alguns benefícios políticos tangíveis.

“Minha vida melhorou”, diz Adinael Soares Silva, 38, soldador em uma refinaria da Petrobras que está em construção em Itaboraí, cidade próxima ao Rio de Janeiro. Ele diz estar satisfeito com seu salário de cerca de US$ 800 por mês. “Onde eu trabalhava antes, não ganhava o suficiente para ter uma poupança”, conta. “Agora, eu ganho”.

No entanto, enquanto a Petrobras vem ajudando a manter baixa a taxa de desemprego brasileira, por volta de 5,4%, um coro cada vez maior de críticos aponta para os problemas óbvios da empresa, tais como o acúmulo de projetos e a incapacidade de suprir a sede do país por petróleo, forçando-a a importar gasolina para vender no mercado interno a um preço mais baixo.

Depois de o Brasil descobrir petróleo em suas águas profundas em 2007, o governo tomou medidas para que a Petrobras estivesse ativa no controle das novas áreas, uma manobra que, segundo os críticos, pode prejudicar ainda mais a empresa. Foi marcante a despedida da década de 1990, quando as autoridades puseram fim ao monopólio da Petrobras como parte de uma reestruturação radical da economia.

A Petrobras continuou sob o controle estatal, mas ficou exposta às forças do mercado, surgindo como uma empresa mista que competia com sagacidade com petrolíferas estrangeiras.

Hoje, a Petrobras parece bem menos desenvolta. Em 2012, sua produção caiu 2%, o primeiro declínio deste tipo em anos, e a produção teve uma nova leve queda no início deste ano.

O setor energético internacional também está mudando, especialmente nos Estados Unidos, já que as forças deixam de se concentrar na extração de petróleo e gás natural e passam a visar formações de xisto em terra. Acredita-se que o Brasil também tenha grandes reservas de xisto, mas o governo permanece concentrado em seus caros megaprojetos em águas profundas.

“Os Estados Unidos estão redesenhando o mapa mundial do petróleo. No Brasil, a euforia dissolveu-se em inércia”, publicou em um editorial recente a Folha de São Paulo, um dos jornais mais influentes do Brasil.

Agravando a situação, a demanda brasileira de gasolina cresceu cerca de 20% em 2012, refletindo um setor automobilístico que deve parte de seu crescimento aos esforços do governo de aumentar a produção. A Petrobras ainda não tem refinarias suficientes com capacidade para processar petróleo, situação que a força a importar quantidades cada vez maiores de gasolina. A estatal ainda está tendo prejuízo com as importações de gasolina já que o governo mantém baixos os preços internos dos combustíveis a fim de controlar a inflação em meio a uma economia com ritmo lento de crescimento.

Analistas do setor energético sustentam que o governo federal está usando a Petrobras para promover seus próprios objetivos políticos. A gestão de Dilma, por exemplo, baixou medidas que visam restabelecer o setor da construção naval no país, exigindo que a Petrobras compre a maior parte de seus navios e plataformas de petróleo de estaleiros brasileiros.

Esses empreendimentos, no entanto, têm enfrentado dificuldades com grandes excessos de custos, às vezes atrasando a entrega de embarcações ou nem sequer as entregando, acabando com as esperanças da Petrobras de cumprir suas ambiciosas metas de produção.

Há, então, os atrasos nas refinarias em construção. Um desses complexos, em Pernambuco, foi concebido em 2005 como uma forma do Brasil estreitar os laços políticos com a Venezuela, país rico em petróleo. Oito anos depois, a Venezuela ainda precisa investir no projeto, que enfrenta diversos atrasos já que a Petrobras precisa carregar sozinha todo o custo da construção.

Ao descrever o acúmulo de problemas na Petrobras, a revista Exame, principal revista de negócios do Brasil, é categórica ao afirmar que o governo está “destruindo a maior empresa do Brasil”, ilustrando a afirmação com uma mangueira de combustível no formato de uma forca.

Esse desânimo reflete, pelo menos em parte, no desenvolvimento da Petrobras. Fundada em 1953, a empresa emana poder de sua sede em estilo brutalista em outras esferas bem além do setor de energia, patrocinando de tudo, de festivais literários ao Carnaval de Salvador.

Apesar dos desafios que enfrenta, a Petrobras continua lucrativa e é muito menos reprimida do que a ideologia política que repreende algumas outras grandes petrolíferas estatais. No México, por exemplo, a Pemex manteve por muito tempo seu monopólio apesar das quedas de produção, e agora, o governo considera abri-la para um maior investimento privado.

A Petrobras também é muito mais transparente do que a Petróleos de Venezuela, a estatal que o finado presidente Hugo Chávez transformou em um pilar extremamente politizado de seu governo, demitindo milhares de empregados após uma dura greve e forçando a a se concentrar em novas tarefas como a distribuição de alimentos.

Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras, tem sido extraordinariamente franca acerca dos problemas da estatal. Em coletivas recentes com analistas, ela afirmou que a produção petrolífera deve permanecer estável este ano, ainda com possibilidade de haver uma pequena queda. Ela também deu respostas pontuais a críticos, defendendo que a produção dos novos campos tinha chegado a 300.000 barris por dia. A empresa espera dobrar sua produção total até 2020, chegando a 4,2 milhões de barris por dia.

Outros executivos da empresa também tentaram moderar as expectativas de que o Brasil entrará em uma vigorosa fase de independência energética.

José Carlos Cosenza, executivo do alto escalão da Petrobras, alertou que o Brasil pode precisar importar grandes quantidades de combustível por mais quase dez anos. Além disso, há uma previsão de que a demanda de gasolina continue crescendo à medida que os brasileiros compram mais carros.

Ainda assim, a Petrobras pode precisar mais do que autoavaliações exigentes. “Considerando a crescente atratividade das manobras no setor internacional do petróleo, os mercados de energia esperam uma mudança na forma como o governo brasileiro administra seus recursos petrolíferos”, diz Christopher Garman, chefe de estratégias de mercados emergentes no Eurasia Group, uma firma de consultoria de risco político.”

[OBS deste ‘democracia&política: Como já expressamos em outras postagens, é constante a luta contra a Petrobras. A corrosiva reportagem acima é apenas um exemplo entre as centenas que ocorrem a cada mês. São muito fortes as pressões dos interesses de grandes empresas petrolíferas estrangeiras. Elas almejam a desvalorização da empresa nacional para comprá-la por valor reduzido ou, pelo menos, para afastá-la do mercado. Paralelamente, querem acabar com a política de Conteúdo Local, que diminui significativamente a expectativa de ganhos dos fornecedores estrangeiros. 
Em obediência a esses interesses, já haviam sido desencadeados, no governo FHC/PSDB, o não investimento, o enfraquecimento, o fatiamento e a desnacionalização progressiva da Petrobras, mas foram interrompidos no governo Lula/PT. A retomada daquelas medidas antinacionais vem sendo tentada por todos os meios, por qualquer pretexto, com constantes ataques na imprensa das grandes potências e com o intenso e infatigável apoio dos seus servis (gratuitamente?) braços no Brasil, especialmente da grande mídia e da direita partidária (PSDB/DEM/PPS)].


 FONTE: blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2013/03/28/carta-ao-jornal-new-york-times/) [Título, imagens (do google) e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

JOAQUIM BARBOSA ERRA AO SOMENTE ACUSAR BANCOS POR OCULTAÇÃO DE BENS




“O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criticou os bancos, chamando-os de "lenientes" com a lavagem de dinheiro. Longe de mim defender os banqueiros que, em sua maioria, de fato não querem nem saber se o dinheiro é sujo ou limpo, querem é só lucrar. Mas a crítica está completamente fora de foco para quem é a autoridade máxima do poder Judiciário.

De nada adianta reclamar de bancos que seriam coniventes em casos de lavagem de dinheiro, se quem deve reprimir e dissuadir os crimes ficar empurrando a responsabilidade para os outros. Se os bancos são lenientes, é porque o próprio Judiciário e o Ministério Público estão sendo lenientes com os bancos. Afinal, no que resultou a descoberta da "lavanderia" do Banestado? Meia dúzia de bagrinhos foram pegos, mas os tubarões escaparam impunes. E a "Privataria Tucana"? E o caso Alstom – de propina a tucanos paulistas –, que anda rápido nos tribunais europeus e a passos de tartaruga nos tribunais brasileiros? E a operação Satiagraha e a Castelo de Areia? Está nas mãos do STF julgar se as provas são válidas. Por que não coloca em julgamento e faz o processo andar?



E o "mensalão tucano" que tem até cheques e recibos bancários como prova nos autos? E a "lista de Furnas", que também tem confissão de executivos de multinacional confirmando o esquema? Tudo isso não depende de bancos, e sim do próprio Judiciário fazer os processos andarem.



Que culpa tem um gerente de banco se uma empresa, que ele não conhece, com CNPJ e Contrato Social na Junta Comercial, e se nada consta contra ela, abre uma conta de pessoa jurídica? Como um gerente de banco honesto iria adivinhar se aquela empresa é "laranja" de um bicheiro, como Carlinhos Cachoeira, por exemplo, ou se exerce atividades legítimas quando movimenta a conta?

Cabe ao banco avisar ao Banco Central se notar movimentações financeiras suspeitas, como manda a lei, e todos os bancos fazem isso até de forma automática, informatizada. Já o Procurador Geral da República tinha a faca e o queijo na mão desde 2009, a partir da Operação Vegas da Polícia Federal, para desbaratar a quadrilha do bicheiro, mas deixou a denúncia engavetada durante todos os anos de 2010 e 2011.

Quem foi "leniente" nesse caso? O banco ou o Procurador-Geral?

O ministro Joaquim Barbosa falou também em ocultação de valores:

Enquanto instituições financeiras não visualizarem a possibilidade de serem drasticamente punidas por servirem de meio para a ocultação da origem ilícita de valores que se encontram sob a sua responsabilidade, persistirá o estímulo à busca do lucro, visto como combustível ao controle leniente que os bancos fazem sobre a abertura de contas e sobre a transferência de valores", disse.

Daí, chegamos a outro caso. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi pego em flagrante numa blitz de trânsito no escândalo do bafômetro, na madrugada de 17 de abril de 2011. O que seria apenas uma infração de trânsito ao se recusar a soprar o bafômetro (grave, uma vez que dirigir bêbado coloca vidas em risco), abriu uma caixa de pandora com fortíssimos indícios de ocultação de patrimônio e sonegação fiscal.

A partir da placa do veículo de luxo Land Rover multado, descobriu-se que a rádio Arco-Íris do tucano tem uma inusitada grande frota de veículos de luxo. Um deles era o usado pelo senador na balada no Rio de Janeiro na madrugada do bafômetro, nada tendo a ver com veículo de trabalho de uma rádio em Belo Horizonte. Qualquer fiscal ou auditor principiante imediatamente identifica no fato o clássico método de sonegação fiscal, de jogar despesas pessoais em despesas da empresa, para diminuir o lucro em vez de pagar imposto de renda.

Além disso, há o claro indício da ocultação de patrimônio pessoal na empresa, a ponto de o tucano declarar [no TSE] não ter carro. Isso cria a obrigação de o Procurador Geral investigar se não há algum tipo de lavagem de dinheiro por trás, tamanhas são as suspeitas geradas pelos próprios fatos.

Os deputados estaduais de Minas Gerais apresentaram representação, pedindo investigação desses fatos ao Procurador-Geral da República há quase dois anos, e até hoje só tiveram resposta de que estava na gaveta, sem providências. E aguardam uma abertura de inquérito até hoje. Repetindo: há quase dois anos!

Enquanto isso, o IPVA, o seguro, a manutenção, talvez o financiamento, se houver, a depreciação da frota de luxo, tudo isso e sabe-se lá mais o quê continua sendo pago pelas contas bancárias “da rádio”, em vez de ser pago com a renda pessoal após as devidas alíquotas de impostos, como tem de fazer qualquer trabalhador ou empresário honesto.

Que culpa tem o banco disso? É o banco ou o Procurador-Geral que está sendo ‘leniente’?”

FONTE: escrito por Helena Sthephanowitz, especial para a “Rede Brasil Atual”. Transcrito no blog “Os amigos do Presidente Lula” (http://www.redebrasilatual.com.br/blog/helena/joaquim-barbosa-erra-ao-acusar-bancos-por-ocultacao-de-bens) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

“GLOBO” CONSEGUE O QUE A DITADURA NÃO CONSEGUIU: CALAR IMPRENSA ALTERNATIVA

Exemplo de imprensa alternativa na época da ditadura

Por Luiz Carlos Azenha

"Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de 'Central Globo de Jornalismo', Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do 'Viomundo', todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da 'Globo'.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da 'Globo': Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no 'Viomundo'.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da 'Globo', Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na 'Globo.com', informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal 'O Globo' e colunistas associados de 'Veja', friso: sempre vivi de meu salário. Este site [portal "Viomundo"] sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do 'Viomundo' sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da 'Folha', de 'O Globo' ou do 'Estadão'. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das 'Organizações Globo' para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das 'Organizações Globo', que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das 'Organizações Globo', da 'Folha' e do 'Estadão'entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais 'Movimento' e 'Pasquim'.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o 'Viomundo'.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as 'Organizações Globo', uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do 'Viomundo': Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: Descreverei detalhadamente, em breve, como 'O Globo' e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.”

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha no seu portal “Viomundo”  (http://www.viomundo.com.br/denuncias/globo-consegue-o-que-a-ditadura-nao-conseguiu-extincao-da-imprensa-alternativa.html).