domingo, 24 de junho de 2012

O QUE OS ESTADOS UNIDOS PODEM GANHAR COM O GOLPE NO PARAGUAI




[OBS deste blog ‘democracia&política: a evidente e típica manipulação norte-americana nesse estranho golpe "constitucional" no Paraguai e o caráter americanófilo dos golpistas paraguaios preocupam. Lembro um fato:

QUASE ATAQUE DOS EUA AO BRASIL

Em 17 de fevereiro de 2008, no artigo deste blog com o título “O petróleo e a pergunta: ‘Forças Armadas para quê’?”, relatamos que o Brasil, há poucos anos, quase foi atacado militarmente pelos EUA na região de Foz do Iguaçu. E de surpresa.

O jornal "Folha de S. Paulo", em 30/06/2004, noticiou que o Departamento de Defesa dos EUA (DOD) vê a região da tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai como “financiadora de terroristas árabes”.

Naquela região, situa-se a gigantesca usina de Itaipu, fornecedora de mais de 25% da energia elétrica consumida pelo Brasil. Além disso, ela possui  enorme manancial subterrâneo de água doce e é importante região estratégica para dominar militarmente o sul e o sudeste do Brasil, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.

O DOD chegou a propor,
ao final de 2001, uma “ação forte” dos EUA na tríplice fronteira , antes do ataque ao Afeganistão.

O “Jornal da Band” (TV Bandeirantes) divulgou, em 02/08/2004, que, “logo após o atentado de setembro de 2001 em Nova Iorque, o Pentágono propôs à Casa Branca forte ataque de surpresa ao Brasil (e ao Paraguai e Argentina) naquela região, antes de os EUA atacarem o Afeganistão e o Iraque”.

SEMPRE O PETRÓLEO

Afirmamos naquele artigo de 17/02: “As gigantescas reservas petrolíferas agora descobertas pelo Brasil, as maiores já descobertas no mundo nos últimos dez anos, agravam muito mais o grave quadro de ausência de nossa capacidade de defesa do patrimônio brasileiro.

O petróleo tem sido o motivo básico das principais intervenções militares dos EUA no mundo. Logicamente, isso não é confessado. Mas sempre acaba revelado.”]

Por Luiz Carlos Azenha

“A reação de Washington ao golpe “democrático” no Paraguai será, como sempre, ambígua. Descartada a hipótese de que os estadunidenses agiram para fomentar o golpe — o que, em se tratando de América Latina, nunca pode ser descartado –, o Departamento de Estado vai nadar com a corrente, esperando com isso obter favores do atual governo de fato.

Não é pouco o que Washington pode obter: um parceiro dentro do MERCOSUL, o bloco econômico que se fortaleceu com o enterro da ALCA — a “Área de Livre Comércio das Américas”, de inspiração neoliberal.

O Paraguai é o responsável pelo congelamento do ingresso da Venezuela no MERCOSUL, ingresso que não interessa a Washington e que interessa ao Brasil, especialmente aos estados brasileiros que têm aprofundado o comércio com os venezuelanos, no Norte e no Nordeste.

Hugo Chávez controla as maiores reservas mundiais de petróleo, maiores inclusive que as da Arábia Saudita. O petróleo pesado da faixa do Orenoco, cuja exploração antes era economicamente inviável, passa a valer a pena com o desenvolvimento de novas tecnologias e a crescente escassez de outras fontes. É uma das maiores reservas remanescentes, capaz de dar sobrevida ao mundo tocado a combustíveis fósseis.

Washington também pode obter condições mais favoráveis para a expansão do agronegócio no Chaco, o grande vazio do Paraguai. Uma das preocupações das empresas que atuam no agronegócio — da Monsanto à Cargill, da Bunge à Basf — é a famosa “segurança jurídica”. Ou seja, elas querem a garantia de que seus investimentos não correm risco. É óbvio que Fernando Lugo, a esquerda e os sem terra do Paraguai oferecem risco a essa associação entre o agronegócio e o capital internacional, num momento em que ela se aprofunda.

Não é por acaso que os ruralistas brasileiros, atuando no Congresso, pretendem facilitar a compra de terra por estrangeiros no Brasil. Numa recente visita ao Pará, testemunhei a estreita relação entre uma ONG estadunidense e os latifundiários locais, com o objetivo de eliminar o passivo ambiental dos proprietários de terras e, presumo, facilitar futura associação com o capital externo.

Finalmente — e não menos importante –, o Paraguai tem uma base militar “dormente” em Mariscal Estigarribia, no Chaco. Estive lá fazendo uma reportagem para a “CartaCapital” em 2008. É um imenso aeroporto, construído pelo ditador Alfredo Stroessner, que, à moda dos militares brasileiros, queria ocupar o vazio geográfico do país. O Chaco paraguaio, para quem não sabe, foi conquistado em guerra contra a Bolívia [promovida pelos EUA e Inglaterra]. Há imensas porções de terra no Chaco prontas para serem incorporadas à produção de "commodities".
 Pista de Mariscal Estigarribia, no Chaco paraguaio
O aeroporto tem gigantesca pista de pouso de concreto, bem no coração da América Latina. Com a desmobilização da base estadunidense em Manta, no Equador, o aeroporto cairia como uma luva como base dos Estados Unidos. Não mais no sentido tradicional de base, com a custosa — política e economicamente custosa — presença de soldados e aviões. Mas como ponto de apoio e reabastecimento para o deslocamento das forças especiais, o que faz parte da nova estratégia do Pentágono. O renascimento da Quarta Frota, responsável pelo Atlântico Sul, veio no mesmo pacote estratégico.

É o neocolonialismo, agora faminto pelo controle direto ou indireto das riquezas do século 21: petróleo, terras, água doce, biodiversidade.

Um Paraguai alinhado a Washington, portanto, traz grandes vantagens potenciais a interesses políticos, econômicos, diplomáticos e militares estadunidenses.”

FONTE: escrito por Luiz Carlos Azenha no seu portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/o-que-os-estados-unidos-ganham-com-o-golpe-no-paraguai.html) [Imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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