terça-feira, 20 de março de 2012

PRESTE ATENÇÃO, DILMA

Por José Inácio Werneck

“Bristol (EUA) – Volta e meia, encontro um brasileiro orgulhoso, ao estilo do Conde Afonso Celso (“Porque me ufano do meu país”) ou do “olha que céu! que mar! que rios! que floresta!…”. Em geral, puxa a conversa para o inegável progresso dos últimos anos, o petróleo da plataforma continental, o “coração de ouro num peito de ferro” e assim por diante.

Retruco: “devagar com o andor, que o santo é de barro”. Vamos com calma, pois não estamos a um passo de liderar o mundo. Há alguns problemas sérios no Brasil, como a precariedade do ensino e o “jeitinho” que torna a maioria da população conivente com atos de corrupção.

A O.E.C.D. vem a ser a “Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica”, que recentemente conduziu um estudo dos exames PISA (Program for International Student Assesment). Como o nome indica, trata-se de avaliação internacional de estudantes, aí pela faixa dos 15 anos.


O que há de interessante no estudo é que faz comparação entre a contribuição das riquezas naturais de um país com o desempenho de seus estudantes. Os resultados mostraram que há “importante relação negativa entre o dinheiro produzido pela extração de recursos naturais e o nível de escolaridade e de conhecimento de seus jovens”.

Os países africanos não foram testados, mas países ricos em recursos naturais como Qatar, Kazaquistão, Brasil, Argentina, México, Peru, tiveram colocação ruim no exame PISA. Países ou regiões como Hong-Kong, Taiwan, Coréia do Sul, Japão, Finlândia, Dinamarca, Singapura, com poucos recursos naturais, tiveram ótimos resultados no exame PISA.

Dirão alguns que tais países têm que se estafar nos bancos escolares porque são pobres em recursos naturais. Em primeiro lugar, ser pobre em recursos naturais não significa ser pobre em renda bruta ou renda per capita. Comparem a renda per capita de Hong Kong, Taiwan, Japão, Coréia do Sul, Finlândia, Dinamarca ou Singapura com a brasileira e verão que perdemos nesse quesito.

Depois, há países ricos em recursos naturais, como Canadá, Austrália e Noruega (lembrem-se do petróleo no Mar do Norte) que também obtêm bons resultados nos exames PISA. Sào os donos da melhor relação entre riqueza natural e intelectual, por dependerem não apenas de reservas de petróleo ou de minas de ouro, mas também de ótimos professores, alunos motivados e pais interessados.

A qualidade de vida de um país, seu índice de desenvolvimento humano, o bem-estar social dependem altamente do nível do ensino, e o ensino brasileiro é precário. Dependem, também, muito da transparência, da obediência às normais legais, do combate à corrupção, e o Brasil igualmente está longe do desejado nesse aspecto.

Na Índia, há um site na Internet chamado “itookabribe.com” que convida o povo a ser vigilante contra a corrupção. Há algo semelhante no Brasil? Todos nós que assentimos ao pedido do guarda para “uma cervejinha” ou embarcamos na sugestão do despachante para “um dinheirinho, senão o papel não anda lá na repartição”, somos cúmplices em nosso atraso.”

FONTE: rscrito por José Inácio Werneck, de Bristol, EUA. O autor é jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na “Gazeta Esportiva”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/preste-atencao-dilma) [imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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