segunda-feira, 26 de março de 2012

JUDEUS DECIDEM POLÍTICA EXTERNA DOS EUA


QUEM DECIDE A POLÍTICA DOS EUA?

“O presidente Barack Obama deixou claro, oficialmente, inclusive antes da sua agourenta reunião na Casa Branca da segunda-feira (19), que o primeiro-ministro israelense Benjamin “Bibi” Netanyahu não o intimidaria.

Será verdade?

Por Pepe Escobar

Pouco importa a ginástica retórica de Obama quando se pode dizer que “Bibi o Ferrabrás" determina continuamente o que se passa em Washington. Pior ainda: o governo israelense dominado pelo Likud joga com o lançamento na depressão total de vastas esferas da economia global, já que com a sua histeria lança progressivamente os preços do petróleo para a estratosfera.

O mundo está refém dos caprichos de Israel, incluso quando os mais de 120 "Membros dos Não-Alinhados" (MNA) apoiam o direito do Irã de enriquecer urânio e os membros do BRICS Rússia, China , bem como a Turquia, rejeitam o embargo ao petróleo dos EUA e a UE – uma verdadeira declaração de guerra econômica – contra o Irã.

A “Assembleia do Comitê de Assuntos Públicos EUA-ISRAEL” (AIPAC, na sigla em inglês) em Washington tem lugar num intimidante Coliseu cavernoso, onde a multidão arregimentada ulula em uníssono a pedir o sangue iraniano. Razoável tático, mas péssimo estratego, o único jogo de “Bibi” o Ferrabrás é “Bombardear o Irã”.

“Bombardear o Irã”

Justifica-o com a “ameaça existencial” colocada por um Irã não nuclear a um Estado-guarnição de colônias, com armas nucleares, que está a eliminar graficamente todo um povo (os palestinos) do mapa.

Outra prova [de que é] falaciosa a “ameaça existencial” foi fornecida na semana passada  pelo próprio Supremo Líder do Irã, o Ayatola Ali Khamenei, inclusive antes da vitória absoluta dos seus seguidores nas eleições parlamentares de sexta-feira – que efetivamente converteram o presidente Mahamud Ahmadinejad num funcionário destacado.

As palavras de Khamenei devem ser repetidas, uma e outra vez, até porque os corporativos da mídia dos EUA, que clamam por sangue, simplesmente não o fazem.

Disse Khamenei: “A nação iraniana nunca procurou e nunca procurará armas nucleares. Não há dúvida que os responsáveis pela tomada de decisões nos países que se nos opõem sabem perfeitamente que o Irã não quer armas nucleares, porque a República Islâmica, lógica, religiosa e teoricamente, considera que a posse de armas nucleares constitui grave pecado, e que a proliferação de tais armas é insensata, destrutiva e perigosa”.

SENHOR PRESIDENTE, DERRUBE ESTE MURO

No entanto, a prova de que Israel exerce virtual controle absoluto da política externa dos EUA foi o espetáculo de um presidente estadunidense dirigir-se de forma defensiva ao Coliseu do AIPAC.

À parte um festival de intimidações orwellianas, Obama tem a seu crédito o ter enfatizado a palavra “diplomacia”, não especificou nenhuma “linha vermelha”, nem apoiou que a mera “capacidade” do Irã de construir uma arma nuclear constitua um casus belli. Por fim, sabe que tem mais votantes estadunidenses a seu favor que no eleitorado dos EUA no seu conjunto.

Obama no AIPAC

Mas no fim, Obama cedeu perante “Bibi” o Ferrabrás – já que a retórica não se diferenciou da de Tony Soprano, e a agourenta “componente militar” permaneceu firmemente em cima da mesa.


Apesar de tudo, “Bibi” o Ferrabrás – imitando a sua voracidade a devorar a terra palestina – ainda quer mais.

Não importa a rota – sobrevoando a Síria e a Turquia, e inclusive se alcançam os objetivos de Natanz, Arak, Isfahan e Fordow – os mísseis Jericó de Israel não têm qualquer probabilidade de paralisar, para não dizer destruir, o complexo aparelho de tomada de decisões da República Islâmica. Esquecei ele ter falado de “humilhação” e de mudança de regime. Inclusive o general Amos Gilad, chefe do Departamento de Segurança Diplomática do Ministério da Defesa de Israel reconheceu, em outubro passado, que Israel não pode vencer. Por isso, “Bibi” o Ferrabrás quer arrancar promessa formal de que os EUA farão o trabalho sujo.

De acordo com recente sondagem feita em Israel, 34% opõe-se ao bombardeamento do Irã. Mas já serão 42% a favor se, pelo menos, os EUA o apoiarem. Que cômodo é enrolar uma superpotência para o combate contra as tuas fictícias “ameaças existenciais”.

“Bibi” o Ferrabrás deseja ardentemente que um republicano derrote Obama em novembro. Obama sabe que não pode ser derrotado pelo rei do Flip-flop, Mitt Romney, ou pelo aiatolá Rick Santorum. Mas pode ser derrotado pela tradicional bomba de gasolina estadunidense. O problema é que, submetendo-se ou não aos apelos absolutistas de “Bibi” o Ferrabrás, os preços do petróleo aumentam; já o fizeram, aliás em 20%, e o seu aumento pode chegar aos 50% se os especuladores pensarem na possibilidade de ataque iminente.

Bibi passa ordens para Obama

Teerã pode ter a chave para neutralizar todo o psicodrama – e a demencial especulação com os preços do petróleo. Em finais de março ou princípios de abril, negociadores enviados pelo Aiatolá Khamenei, estarão de volta à mesa de negociações para discutir os assuntos nucleares com os "P5 + 1" – EUA, França, Grã-Bretanha, Rússia e China, mais a Alemanha.

O próprio Obama também pode ter a chave. Pode fazer como Nixon – quando este foi encontrar-se com Mao em 1972 – e oferecer um frente a frente com Khamenei. O complexo mediático-industrial-militar verá todos os matizes de vermelho. Mas é preciso, para ganhar realmente um Prêmio Nobel da Paz, é preciso ter coragem. Derrubará Obama esse muro (de desconfiança)?

Obama no AIPAC

O que se segue são passagens do discurso de Obama no AIPAC centrado no Irã:

Todos preferimos resolver estes problemas através da diplomacia”. “Tendo dito isto, os líderes do Irã não devem ter dúvidas sobre a determinação dos Estados Unidos, tal como não se deve duvidar do direito soberano de Israel de tomar as suas próprias decisões sobre o necessário para a satisfação das suas necessidades de segurança. Disse que, quando se trata de prevenir que o Irã obtenha a sua arma nuclear, não deixarei nenhuma opção fora da mesa, e estou convencido do que digo”.


“Isso inclui todos os elementos do poder estadunidense: esforço político destinado a isolar o Irã; esforço diplomático para manter a nossa coligação e assegurar o controle do programa iraniano; esforço econômico para impor sanções paralisantes; e também esforço militar para estar pronto para qualquer contingência”.


“Os líderes do Irã devem saber que não tenho política de contenção. Tenho política para evitar que o Irã obtenha arma nuclear. E como declarei, uma e outra vez no decurso da minha presidência, não hesitarei em usar a força quando for necessário para defender os Estados Unidos e os seus interesses".


“Fala-se demasiado da guerra. Durante as últimas semanas, essas palavras só beneficiaram o governo iraniano, fazendo elevar o preço do petróleo, do qual dependem para financiar o seu programa nuclear. Para a segurança de Israel, a segurança dos Estados Unidos, e a paz e a segurança do mundo, não é agora o momento de bravatas, agora é o tempo de deixar que faça efeito o aumento de pressão, e de manter a ampla coligação internacional que construímos: agora é o momento de dar atenção a esse eterno conselho de Teddy Roosevelt: fala em voz baixa, mas leva um grande arrocho”.


“O fato é que o compromisso da minha administração para com a segurança de Israel não tem precedentes”. “A nossa cooperação militar e da inteligência nunca foi tão grande. Os exercícios conjuntos de treino nunca foram tão fortes. Apesar da difícil situação orçamentária, o nosso apoio à segurança (de Israel) incrementou-se todos os anos. Estamos a investir em novas capacidades. Estamos a proporcionar a Israel mais tecnologia avançada – o tipo de produtos e sistemas que só se entrega aos nossos amigos e aliados mais próximos; e que ninguém se engane: vamos fazer tudo o que seja preciso para preservar a vantagem militar qualitativa de Israel – porque Israel deve ter sempre capacidade para se defender por si só, contra qualquer ameaça”.


“Quando o relatório Goldstone acusou injustamente Israel e o expôs à crítica, desafia-mo-lo”. Quando Israel ficou isolado depois do incidente da flotilha, apoiá-mo-lo. Quando a Conferência de Durban se realizou, boicota-mo-la, e sempre iremos rejeitar a concepção de que o sionismo é racismo. Quando resoluções tendenciosas se decidem no Conselho de Direitos Humanos, opomo-nos a elas. Quando os diplomatas israelenses temiam pelas suas vidas no Cairo, interviemos para salvá-los. Quando se fazem esforços para boicotar ou desanimar o investimento em Israel, estaremos na oposição. E quando se desenvolvem esforços para deslegitimar o Estado de Israel, o meu governo confronta-se com eles. Por isso, nesta altura, não deve haver a mínima dúvida: quando parece estar por terra, estamos a proteger as costas de Israel”.


“Não me desculpo por perseguir a paz. Os próprios líderes israelenses compreendem a necessidade de paz”. “O Primeiro-Ministro [Benjamin] Netanyahu, o ministro da Defesa [Ehud] Barak e o Presidente Operes – cada um deles apelou a dois estados, um Israel seguro ao lado de um Estado palestino independente”.


Creio que a paz é do interesse da segurança de Israel, devido à realidade com que Israel se confronta: as alterações demográficas, as novas tecnologias, ambiente internacional extremamente difícil – todos esses fatores exigem resolução desse assunto e creio que a paz com os palestinos é consistente com os valores fundadores de Israel – devido à nossa crença partilhada na autodeterminação, e porque o status de Israel como Estado judeu e democrático deve ser protegido”.


“A relação entre os EUA e Israel é simplesmente demasiado importante para ser distorcida pela política partidária”. “A segurança nacional dos Estados Unidos é demasiado importante. A segurança de Israel é demasiado importante”.

FONTE: escrito por Pepe Escobar, correspondente itinerante do “Asia Times online”. Artigo publicado no “ODiário.info”, de Portugal, e transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=178719&id_secao=9) [Título e imagens do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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