segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PRESIDENTA, LEVE O BRASIL A IALTA. E LEIA O KISSINGER

Faltou alguém em Ialta

Os líderes não criam o contexto em que operam. Sua contribuição consiste em operar no limite do que uma determinada situação autoriza. Se o líder excede esse limite, ele cai; se fica atrás do limite, provoca a estagnação. Se, porém, constrói de forma consistente, ele pode criar um novo conjunto de relações que vai elevá-lo acima daquele momento histórico, porque todas as partes envolvidas considerarão que aquilo é de seu interesse.” (no “On China”, Henry Kissinger, ‘The Penguin Press’, New York, 2011, pág. 215).

Essa frase faz parte do capítulo em que Kissinger descreve os passos que levaram à visita de Nixon à China.

Antes, ele tinha descrito de forma impecável a genialidade do diplomata Mao Tsé Tung.

Cercado por quatro gigantes –URSS, Índia, Japão e EUA– , Mao se aliou ao mais forte –EUA– para enfrentar o que mais o ameaçava –URSS.

E isso quando a China tinha saído da crise da Revolução Cultural, e mergulhava num impasse sucessório, já que o herdeiro-aparente, o Ministro da Guerra, Lin Biao, morreu num suspeito desastre de avião quando fugia para a URSS.

E foi aí que Mao seguiu o que ele próprio pregava: o Grande Timoneiro navega a favor da corrente. E, não, contra.

A Presidenta Dilma Rousseff tem diante de si o momento de assumir um papel que transforme a liderança do Brasil em beneficio para todas as partes.

A hora não poderia ser melhor.

O Brasil vai sair da crise econômica mais forte.

Como na crise de 2008, o desempenho do Brasil será exemplar.

As potências de antanho –aquelas que servem de bússola aos neolibelês (*)– sairão da crise enfraquecidas.

Dos BRICs, o Brasil é o único país ocidental.

Está ao lado da África –onde se trava, hoje, uma parte significativa da batalha pelo domínio econômico, amanhã.

O Brasil, como os Estados Unidos, será, breve, do Atlântico e do Pacífico.

O Brasil tem essa formidável Classe C, invenção do ‘Nunca Dantes’, que desconcerta os Neolibelês, e funciona como um arsenal dissuasivo, atômico.

O único defeito, ao se comparar com os outros dos BRICs, é que o Brasil não tem (ainda) bomba atômica. (Por obra e graça de dois desastrados presidentes – Collor e seu discípulo, FHC.)

Nesta crise corrente, a Presidente já mostrou as garras.

Não vai pagar pela crise dos Estados Unidos e da Europa –dois relapsos.

Quer estar na mesa da Reconstrução.

No novo Bretton Woods.

E vai jogar pesado nos organismos internacionais – ONU, FMI, G20.

Dilma pode ser a timoneira do Brasil na nova Ialta .

(Para ler na Wikipedia sobre a Conferência de Ialta, que reuniu os vencedores da II Guerra –Stalin, Roosevelt e Churchill, nessa ordem de importância, veja em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Ialta)

Há algumas pré-condições.

Contornar a furiosa resistência da elite brasileira, que se materializa no PiG (**) e na formação PSDB-DEMOS.

São os colonizados, os vira-latas, que querem ainda um Brasil de 20 milhões, e o resto trancado numa Soweto.

Eles são poucos.

Mas ladram e mordem.

Como enfrentá-los ?

Não será com o Paulo Bernardo.

Esses colonizados querem que o Brasil fique encarcerado na discussão da “meta inflacionária” e da pesquisa Focus, o “mercado”.

E fazer como o PSDB, que, rabo de fora, só fala em corrupção (para ler sobre os novos anões do orçamento, veja em: http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/10/15/tucanos-de-sp-sao-os-novos-anoes-do-orcamento/).

Essa é a turma ancorada em 1964, quando derrubou Jango com a mão dos americanos.

E em 1994, quando o brasileiro votaria num poste, desde que a inflação acabasse.

Votou em FHC.

A Presidenta também terá que superar o legado do ‘Nunca Dantes’.

A agenda social está posta.

O ‘Brasil sem Miséria’ será cumprido.

O ‘Nunca Dantes’ manteve a Petrobras no Brasil –não entregou à Chevron, como fariam o ‘Farol’ e o ‘Cerra’.

O ‘Nunca Dantes’ criou o maior programa de intervenção social em atividade no mundo –o Bolsa Família– e deu um prato de comida, educação e vacina a milhões de famílias brasileiras.

E o ‘Nunca Dantes’ inventou a Classe C. (Esta frase tem o objetivo de irritar os tucanos e seus trombones no PiG (**) –o Lula inventou a Classe C !)

Agora, a tarefa da Presidenta é seguir adiante.

O passo à frente.

Empurrar o barco na direção da corrente.

Levar Brasil a Ialta.

À África.

América Latina.

Deixa a Colômbia fazer um acordo de livre comércio com o Obama.

O amigo navegante sabia que a fuga de mexicanos para os Estados Unidos, em busca de emprego, caiu a zero, segundo entrevista do presidente Calderon ao ‘New York Times’ ?

A Colômbia precisa mais do Brasil do que dos Estados Unidos.

A Hillary disse que os Estados Unidos deveriam imitar o Brasil e colocar a Economia acima da Diplomacia.

Taí.

Uma boa ideia.

Botar o Patriota, tão discreto, tão ‘more of the same’, sob as ordens do Mantega.

O Mantega, sim, fala grosso lá no FMI e no G20.

Botar o Patriota para fazer fonoaudiologia com o Mantega.

O Kissinger descreve o Mao com a ajuda de uma lenda chinesa.

Tinha dois sábios que viviam atras da montanha.

O Sábio Neolibelês (essa é uma contribuição à narrativa chinesa secular, modestamente …) e o Sábio Idiota.

Os habitantes do vilarejo não conseguiam ampliar a área de cultivo, porque a montanha os emparedava no vale apertado.

O sábio idiota propôs que ele e os filhos começassem a cavar a montanha.

O sábio neolibelês caiu na gargalhada: vocês jamais vão conseguir remover a montanha.

Os sábio idiota e os filhos, mesmo assim, começaram a cavar.

Depois deles, os filhos e netos.

Depois, os filhos e netos.

E o vale se ampliou –sem a montanha.

Este ansioso blogueiro desconfia que a Presidenta simpatize com o sábio idiota.”

(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.”

FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu portal “Conversa Afiada”  (http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/10/16/presidente-leve-o-brasil-a-ialta-e-leia-o-kissinger/).

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