quinta-feira, 25 de agosto de 2011

É A OTAN QUE ESTÁ CONQUISTANDO TRÍPOLI


“Uma foto publicada pelo “New York Times” conta, mais do que muitas palavras, o que acontece na Líbia: ela mostra o corpo carbonizado de um soldado do exército governamental, ao lado dos restos de um veículo queimado, com três rebeldes em torno que o olham com curiosidade. São eles que testemunham que o soldado foi morto por um ataque aéreo da OTAN.

Por Manlio Dinucci, geógrafo e geopolítico, no jornal italiano “Il Manifesto”

Em menos de cinco meses, informa o Comando conjunto aliado de Nápoles, a OTAN efetuou mais de 20 mil ataques aéreos, dos quais 8 mil com bombas e mísseis. Essa ação, declaram ao “New York Times” altos funcionários estadunidenses e da OTAN, foi decisiva para apertar o cerco em torno de Trípoli.

Os ataques tornaram-se cada vez mais precisos, destruindo as infraestruturas líbias e impedindo assim o comando de Trípoli de controlar e aprovisionar suas forças. Aos caça-bombardeiros que lançam bombas guiadas por laser de uma tonelada, cujas cabeças penetrantes com urânio empobrecido e tungstênio podem destruir edifícios reforçados, juntaram-se os helicópteros de combate, dotados dos sistemas de armamentos mais modernos. Dentre eles, o míssil guiado por laser Hellfire, que é lançado a 8 quilômetros do objetivo, utilizado também na Líbia pelos aviões telecomandados estadunidenses Predator e Reaper.

Os objetivos são localizados não só pelos aviões radar Awacs, que decolam de Trapani (costa Sudoeste da Sicília) e pelos Predator italianos que decolam de Amendola (Foggia, província de Puglia), sobrevoando a Líbia 24 horas por dia. Eles também são assinalados –indicam ao “New York Times” os funcionários da OTAN– pelos rebeldes. Estes, embora "mal treinados e mal organizados", estão em condições, "graças a tecnologias [e armas] fornecidas por países da OTAN", de transmitir importantes informações à "equipe da OTAN na Itália, que escolhe os objetivos a atingir". Além disso, relatam os funcionários, "o Reino Unido, a França e outros países instalaram forças especiais sobre o terreno líbio". Oficialmente “para treinar e armar os rebeldes”, na realidade, sobretudo, para tarefas operacionais.

Assim, vê-se emergir o quadro real. Se os rebeldes chegaram a Trípoli isso deve-se não à sua capacidade de combate, mas ao fato de que os caça-bombardeiros, os helicópteros e os Predator da OTAN lhes abrem o caminho, praticando a terra arrasada. No sentido literal do termo, como mostra o corpo do soldado líbio carbonizado pelo ataque da OTAN. Por outras palavras, criou-se, para a utilização da mídia, a imagem de uma resistência com uma força capaz de bater um exército profissional. Mesmo que rebeldes morram nas confrontações, como é natural, não são eles que estão em vias de se apoderar de Trípoli. É a OTAN que, graças à [deturpação moleque de] uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, está em vias de demolir um Estado a fim de “defender os civis”. Evidentemente, desde que há um século as tropas italianas desembarcaram em Trípoli, a arte da guerra colonial deu grandes passos em frente.”

FONTE: escrito por Manlio Dinucci, geógrafo e geopolítico, no jornal italiano “Il Manifesto”. Traduzido para o português por “Resistir.info”, de Portugal. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=162234&id_secao=9) [imagem do NYT obtida no Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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