terça-feira, 26 de abril de 2011

A VERGONHA DESUMANA DE GUANTÁNAMO


Por Brizola Neto

“É frequente vermos acusações sobre a violação de direitos humanos em Cuba. E, agora, os principais jornais do mundo trazem descrições minuciosas sobre elas. Mas não na Cuba castrista, mas no pedaço de Cuba que é ilegalmente controlado pelos Estados Unidos: Guantánamo.

Guantánamo criou um sistema policial e penal sem qualquer garantia, que só se preocupa com dois temas: quanta informação é obtida a partir de prisioneiros, embora eles sejam inocentes, e se poderiam ser perigosos no futuro” , diz o [jornal espanhol] El País. “Idosos com demência, jovens, pacientes psiquiátricos graves e professores ou agricultores sem conexão com a Jihad (guerra santa, em árabe) foram levados para a cadeia e misturados com verdadeiros terroristas, como os “responsáveis” [sic] pelo 11 de setembro".

O “El País” teve acesso -juntamente com outros meios de comunicação internacionais– e através da Wikileaks, aos registros secretos militares de 759 dos 779 prisioneiros que passaram na prisão, dos quais aproximadamente 170 continuam detidos. A revelação dos segredos de Guantánamo, transformada em prisão por George W. Bush em 2002, à margem das leis nacionais e internacionais, vem em um momento ruim para o presidente Barack Obama. Fechar a prisão foi a sua primeira promessa depois de tomar posse em janeiro de 2009. O anúncio, um mês atrás, que iria retomar os julgamentos da comissão militar foi o reconhecimento de seu fracasso.

Os relatórios, datados entre 2002 e 2009, que na maioria dos casos são destinados a recomendar se o preso deva permanecer na prisão, ser libertado ou transferido para outro país, documentam pela primeira vez como os EUA dão valor a cada interno e o que sabia deles. Revelam um sistema baseado em acusações de outros detentos, sem regras claras, baseadas na desconfiança e conjecturas, que não necessita de provas: 143 pessoas ficaram presas mais de nove anos sem acusação formal.

Entre os presos, estava um velho de 89 anos com demência e depressão, um pai que foi à procura de seu filho entre os talebans, um comerciante que viajava sem documentos, um homem que estava pedindo carona para comprar remédios. Pelo menos, 150 dos presos em Guantánamo eram afegãos e paquistaneses inocentes, incluindo motoristas, agricultores e cozinheiros, que foram detidos durante operações de inteligência em zonas de guerra.

Muitas vezes, o único crime de que as autoridades os culpam é de ter um primo, amigo ou irmão relacionado com a Jihad, ou viver em uma cidade onde haja guerrilheiros, ou andar em vias de circulação utilizadas por terroristas e, portanto, “conhecê-los bem”.

A reação da Casa Branca foi lamentar que o ‘El País’, o ‘The New York Times’ e o ‘Washington Post’ tenham publicado dos documentos divulgados “de forma ilegal” pelo ‘Wikileaks’.

Não se pode deixar de reconhecer que o Governo americano, responsável pelo campo de concentração, entende bem o que é “de forma ilegal”.

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/a-vergonha-desumana-de-guantanamo/).

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