domingo, 23 de janeiro de 2011

O BRASIL DEVE INVESTIR MAIS EM ENERGIA NUCLEAR?


SIM : PARA DESFRUTAR DE SEGURANÇA ENERGÉTICA

Leonam dos Santos Guimarães

“As necessidades de geração de emprego e renda e as carências em educação, saúde, moradia, saneamento básico e transporte de massa da sociedade brasileira, que é 80% urbana, são bem conhecidas e se refletem nos nossos PIB e IDH.

Todas as políticas públicas para vencer esses nossos grandes desafios requerem aumento no consumo de eletricidade.

Nosso consumo atual é de pouco mais de 2.000 kWh/ano por brasileiro e é menor que a média mundial. Está muito abaixo do patamar de 4.000 kWh/ano que caracteriza o mínimo dos países desenvolvidos, cujo IDH é superior a 0,9.

É bem menor do que o consumo de Chile e Argentina e é menos da metade dos países de desenvolvimento recente, como Portugal (4.500), Espanha (5.600) e Coreia do Sul (6.400).

Esse é um sintoma da imensa demanda reprimida do nosso povo, que não existe nos países desenvolvidos. Para eles, o grande desafio é a eficiência energética e a renovação do parque gerador para cumprir metas de redução de CO2. O esforço de gerações de brasileiros construiu formidável parque hidroelétrico. A maior parte dessa energia limpa, barata e renovável foi construída em regiões onde a topografia era favorável a grandes reservatórios, minimizando o risco devido às sazonalidades do clima.

O progressivo aumento da demanda e condicionantes socioambientais cada vez mais restritivas têm feito com que o estoque de água nos reservatórios tenha se mantido quase constante desde meados da década de 1990, trazendo a crescente necessidade de complementação térmica para garantir a segurança do abastecimento, lição duramente aprendida no "apagão" de 2001.

Poderíamos dobrar nossa potência hidroelétrica atual tratando com muita racionalidade a questão socioambiental. Mas essa potência adicional não irá gerar a mesma quantidade de energia do parque existente, pois será composta por usinas "a fio d'água", com pequenos reservatórios.

Para atingir o patamar mínimo de país desenvolvido, precisaremos aproveitar todo esse potencial e expandir muito o parque eólico e de biomassa. Entretanto, só isso não será suficiente. Complementar a geração contínua na base do sistema e regular as sazonalidades intrínsecas às renováveis irá requerer algo como 15 usinas térmicas de 1.000 MW adicionais.

Para a parcela dessa complementação que operará na base, a geração nuclear e a carvão são aquelas de menor custo. Mas a nuclear é a única que não implica emissão de CO2 e cujo combustível pode ser 100% nacional. Para a outra parcela que regula sazonalidades, o gás natural e o petróleo continuarão sendo indispensáveis.

A experiência obtida no projeto, na construção e na operação de Angra 1, 2 e 3 e uma das maiores reservas de urânio do mundo, com potencial energético comparável ao pré-sal, somadas ao domínio tecnológico do ciclo do combustível, fazem com que a energia nuclear no Brasil seja altamente competitiva.

Isso torna do maior interesse nacional uma ampla discussão no seio da sociedade, similar à do pré-sal, para definição das modalidades adequadas de exploração do urânio e da geração nuclear que permitam garantir autossuficiência e retorno social sustentável ao país.

Com investimento, planejamento, tecnologia e adequada gestão de todas as reservas nacionais, renováveis e não renováveis, nelas incluída a energia nuclear, nosso país poderá desfrutar neste século 21 de ampla segurança energética, gerando excedentes exportáveis e finalmente atingir o nível de desenvolvimento que todos desejamos.”

FONTE: escrito por Leonam dos Santos Guimarães, engenheiro, mestre em engenharia nuclear e doutor em engenharia naval, assistente da presidência da Eletrobras Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria do Diretor-Geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2201201107.htm) [imagem do Google adicionada por este blog].

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal a sua postagem e vou incluí-la em meu trabalho sobre fontes de energia.