segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A MÍDIA COMPROMETIDA, NO BRASIL E NA AMÉRICA DO SUL

Li hoje no site “Vermelho” o seguinte artigo de Mário Augusto Jakobskind escrito originariamente no site Direto da Redação: O autor é jornalista e escritor. Foi colaborador dos jornais alternativos Pasquim e Versus, repórter da Folha de S. Paulo (1975 a 1981) e correspondente da Rádio Centenária de Montevideo, além de editor de Internacional da Tribuna da Imprensa (1989 a 2004) e editor em português da revista cubana Prisma (1988 a 1989). Atualmente é correspondente do semanário uruguaio Brecha e membro do conselho editorial do Brasil de Fato. É autor, entre outros, dos livros América Que Não Está na Mídia (Adia, 2006), Dossiê Tim Lopes - Fantástico/Ibope (Europa, 2004), A Hora do Terceiro Mundo (Achiamê, 1982), América Latina - Histórias de Dominação e Libertação (Papirus, 1985) e Cuba - apesar do bloqueio, um repórter carioca em Cuba (Ato Editorial, 1986).

“É Carnaval, momento de tamborins e agogôs em que o povo vai às ruas pular e dançar, dando um tempo para o que acontece em redor, para tudo acabar na quarta-feira. Este ano de 2009, antevéspera de mais uma eleição direta para Presidente da República, as previsões são das mais variadas. O sistema, aqui e ali, quer manter o esquema de sempre com pacotes destinados a aliviar a barra dos poderosos, responsáveis pelo estado de coisas atual, que não é dos mais promissores.

Em termos de eleição, o referendo a que foi submetido o presidente venezuelano Hugo Chávez e que lhe permitiu concorrer a novas consultas populares, ainda provoca a ira dos editorialistas e colunistas de sempre. Estes misturam alhos com bugalhos e já garantem que o presidente vai se eternizar no poder, mas ao mesmo tempo mostram que ele está muito desgastado. Se está desgastado, pela lógica pode perder a eleição, ainda mais uma consulta que é fiscalizada por observadores internacionais dos mais variados setores.

Fica difícil concluir que não há uma campanha orquestrada contra o “coronel” venezuelano, como a maioria da mídia hegemônica se refere ao dirigente que já passou por 15 consultas populares, mas ainda é considerado um caudilho e até ditador.

Coisas da mídia hegemônica, que prima pelo pensamento único, não apenas nas terras brasileiras, como pela América Latina de um modo geral. Se você, leitor, tiver acesso à grande mídia chilena, argentina, colombiana, uruguaia, e de outros países destas bandas vai ver que não há muita variedade.

Por estas e muitas outras que hoje em dia em vários rincões deste continente trava-se uma batalha visando à democratização dos meios de comunicação, uma mobilização que passa, sem dúvida, pela distribuição mais equânime das verbas publicitárias do Estado. O esquema conservador não pode ouvir falar nisso, pois imediatamente convoca a Sociedade Interamericana de Imprensa, a SIP, para denunciar a existência de autoritarismo, quando o que acontece é exatamente ao contrário.

Para se ter uma idéia, no momento, no Chile, que neste mês de fevereiro comemora o Mês da Imprensa, os veículos alternativos e progressistas têm alertado a opinião pública chamando a atenção para o atual esquema midático em que os gastos publicitários do governo na imprensa favorecem em 95%, ou seja, quase totalmente, a cadeia El Mercúrio, do empresário Agustín Edwards Eastman, e Copesa-La Tercera, de Álvaro Saieh Bendeck. Seriam por aqui a família Marinho, os Mesquitas, os Civitas, os Frias, etc.

E este esquema de favorecimento aos referidos veículos não é de hoje. Sai ano, entra ano, a história se repete. Tem um agravante, o “democrata” El Mercúrio, que nos últimos dias tem repetido, como O Globo, a Folha de S.Paulo ou o Estado de S. Paulo, a defesa incondicional do conservadorismo, nos anos que antecederam a desestabilização do governo constitucional de Salvador Allende no longínquo 1973 foi contemplado pela a CIA em 1,5 milhão de dólares, conforme revelam os arquivos implacáveis estadunidenses que estão acessíveis a quem quer que seja. E El Mercúrio garantia que defendia a democracia, como hoje.

Esta é a realidade, que apesar de pública, não é divulgada pela mídia hegemônica que nos últimos tempos, de forma histérica, vem denunciando “falta de liberdade de imprensa” em países onde exatamente a imprensa alternativa à grande mídia hegemônica se desenvolve e cujas verbas publicitárias estatais são distribuídas de forma mais equânime.

Pode crer o leitor, que a batalha pela democratização dos veículos de comunicação vai se intensificar, daí a importância de se aprofundar o tema.

Quando começou a discussão da implantação do sistema digital na TV brasileira, imaginava-se que os espaços que se abriam com essa revolução tecnológica seriam ampliados, não para as seis famílias de sempre, mas para entidades representativas dos mais diversos setores. Lamentavelmente, pelo menos até agora, estão prevalecendo os interesses midiáticos conservadores, tão bem representados pelo ministro das Comunicações, Helio Costa, que no fundo no fundo ainda se sente ideologicamente na TV Globo.

Em suma, mais uma vez os brasileiros estão perdendo uma oportunidade histórica de democratizar o espectro eletrônico, mas isso não significa necessariamente que a batalha esteja perdida.

Ah, sim: a importante reflexão de Rui Martins neste Direto da Redação sobre o caso da brasileira Paula Oliveira na Suíça remete também às questões aqui levantadas e que não passam por Ricardo Noblat ou Zuenir Ventura, por exemplo. Ou seja, todo espaço para as bens nascidas, que não se diferem das européias, mas silêncio absoluto em termos de nossas brasileiras de camadas menos aquinhoadas que sofrem discriminação. Mas aprofundar o tema não interessa à mídia hegemônica, que prefere refletir o senso comum e o pensamento único.”

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