sábado, 31 de janeiro de 2009

INGLATERRA ESTATIZA ESCOLAS PARTICULARES

A agência espanhola de notícias EFE divulgou hoje o seguinte (li no UOL):

REINO UNIDO NACIONALIZA ESCOLAS PARTICULARES EMPOBRECIDAS PELA CRISE

“Londres, 31 jan (EFE).- O Governo do Reino Unido vai nacionalizar escolas particulares atingidas pela recessão econômica, segundo confirmou o secretário de Estado de Escolas, Jim Knight, ao jornal "The Guardian".

Cinco escolas privadas já aderiram ao plano de nacionalização devido à escassez de fundos provocada pela decisão de muitos pais -com menos poder aquisitivo pela crise- de retirar seus filhos.

Para serem nacionalizadas, elas devem abandonar as provas de acesso e as taxas de matrícula, entre outras condições.

O secretário-geral da Associação de Diretores de Escolas e Colégios, John Dundorf, admitiu que os centros educacionais com problemas financeiros abraçaram a ideia do Governo.

"Em uma recessão, a quantidade de solicitações (de matrícula) nas escolas privadas cai de forma inevitável. Algumas escolas independentes escolherão o status de academia (pública) antes que fechem", assinalou Dundorf.

Em Londres, as autoridades municipais já advertiram para um grande fluxo nas escolas públicas de alunos que normalmente optam por colégios particulares.”

MORRE DONO DA EXTINTA GURGEL

Li no UOL há pouco:

Morre João Amaral Gurgel, aos 82 anos

Dono da extinta Gurgel Motores sofria de Mal de Alzheimer havia oito anos


“João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, dono da extinta Gurgel Motores, a mais importante fabricante independente com capital integralmente nacional, morreu nesta sexta (30), aos 82 anos, em São Paulo. Gurgel, que havia oito anos sofria de Mal de Alzheimer, estava internado no hospital São Luiz. Seu corpo está sendo velado no cemitério do Morumbi e será enterrado às 13h.

Suas primeiras atividades industriais na capital paulista foram modestas, no início dos anos 60. Produziu karts (Gurgel Júnior), minicarros para crianças (réplicas de Corvette e Karmann-Ghia) e realizava experiências iniciais com veículos elétricos embrionários. Gurgel fundou em 1962 na cidade de Rio Claro (SP) a fábrica que levava seu nome. Durante esse período Gurgel desenvolveu carros totalmente nacionais, do projeto à fabricação.

No Salão do Automóvel de 1966, três anos antes de se estabelecer de modo mais bem organizado como indústria, lançou o bugue Ipanema com chassi e mecânica do Fusca. O utilitário leve Xavante XT tornou-se o primeiro sucesso de vendas já em 1970. As linhas lembravam as do Ipanema, mas Gurgel desenvolveu um chassi próprio e engenhoso: tubular de aço, revestido de plástico reforçado com fibra de vidro, sendo esse também o material da carroceria.

"Gurgel era um sonhador. Ele é quem foi mais longe na missão de construir um automóvel genuinamente nacional", afirma o jornalista especializado em indústria automobilística Fernando Calmon, colunista de Interpress Motor, que fez uma reportagem sobre a trajetória da Gurgel. São inúmeros os modelos que ainda rodam por aí: BR-800, Supermini (uma evolução daquele), Carajás, XEF, Tocantins, entre outros. As atividades da Gurgel Motores S.A. foram encerradas em 1994.”

NOVO SALÁRIO MÍNIMO A PARTIR DE AMANHÃ

O jornal Folha de São Paulo publica hoje a seguinte notícia preparada pela Folha Online:

NOVO SALÁRIO MÍNIMO TERÁ IMPACTO DE R$ 8,5 BILHÕES NAS CONTAS PÚBLICAS

“O aumento de R$ 50 para o salário mínimo terá um impacto de R$ 8,5 bilhões nas contas do governo federal somente neste ano, segundo dados do Ministério do Planejamento. A informação é do repórter Pedro Soares, em matéria publicada na Folha (a reportagem está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).

O mínimo de R$ 465 beneficiará 13,9 milhões de aposentados e pensionistas, entre outros atendidos pela Previdência --auxílio-doença, auxílio-reclusão, salário-maternidade. Para 8,2 milhões de pessoas cujo valor do benefício é superior a um salário mínimo, também haverá correção a partir deste domingo (1º), mas o índice será menor, pois seguirá apenas a variação da inflação.

O aumento do mínimo também implica reajuste das contribuições previdenciárias recolhidas dos trabalhadores. A previsão é que a arrecadação da Previdência aumente R$ 856 milhões neste ano. O crescimento das despesas será de R$ 8,7 bilhões, gerando valor líquido de R$ 7,8 bilhões.

ECONOMIA TURBINADA

Em entrevista nesta sexta-feira, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou que, com o aumento do mínimo, cerca de R$ 21 bilhões a mais passam a circular por mês na economia. "Esse aumento representa beneficiar mais de 45 milhões de pessoas, entre aposentados e pensionistas", afirmou o ministro durante o anúncio feito no Rio.

O abono-salarial, no mesmo valor do salário mínimo, também sobe a partir de domingo, assim como o seguro-desemprego --o valor médio pago passa de R$ 564,40 para R$ 632,40.

Somados, os aumentos irão injetar R$ 24,349 bilhões na economia a partir de março.”

BIODIESEL REÚNE EXCELÊNCIA TECNOLÓGICA DO BRASIL

O portal UOL, seção Info Online, ontem publicou a seguinte reportagem de Felipe Zmoginski:

QUANDO A TECNOLOGIA EM DEBATE É PARA PRODUZIR COMBUSTÍVEIS LIMPOS, O BRASIL ESTÁ NA VANGUARDA

“Quando o tema são novas tecnologias para melhorar a performance das redes móveis, desenvolver sistemas operacionais ou tornar ainda mais finas as telas LCD, as empresas e universidades brasileiras raramente ficam ao lado de institutos asiáticos ou corporações americanas.

No universo da tecnologia, porém, há um segmento onde o trabalho de pesquisadores brasileiros está se consolidando como vanguarda no mundo, a produção de combustíveis limpos.

Os métodos de processamento de produtos agrícolas como cana, palma, amendoim, babaçu ou dendê desenvolvidos pela Embrapa apresentam maior eficiência que tecnologias criadas nos Estados Unidos e Europa.

Contribui para esta diferença a favor do Brasil, as características climáticas e geológicas do país, que pode produzir culturas com maior potencial energético, como babaçu e mamona, ao invés de apenas soja ou beterraba, como fazem Estados Unidos ou Alemanha, por exemplo.

Esta semana, o Ministério da Agricultura divulgou o balanço das exportações de bicombustíveis ao longo de 2008. No período, o Brasil vendeu 5,16 bilhões de litros de combustível renovável, com destaque para o etanol. O número é recorde e supera com larga margem o volume de gasolina que a Petrobras exportou ano passado, diz o Ministério. O maior importador em 2008 foram os Estados Unidos, que sozinhos compraram 2,2 bilhões de litros de biocombustível brasileiro.

A produção nacional de biocombustível contribui ainda para diminuir a necessidade brasileira de importar diesel petróleo. Embora seja autosuficiente em petróleo, as características do óleo encontrados no Brasil não permitem uma produção de diesel suficiente.

A mistura de diesel de petróleo com percentuais de biodiesel, no entanto, diminui a necessidade de importações. Atualmente, ao menos 2% do combustível diesel vendido nas bombas é composto por óleo renovável. Além do benefício econômico, a mistura é altamente favorável do ponto de vista ambiental já que o diesel de petróleo está entre os combustíveis mais poluentes. O óleo libera, entre outras toxinas, partículas de enxofre que respiradas pela população tem potencial de causar doenças respiratórias e aumentar a incidência de câncer entre pessoas contaminadas pelo excesso de enxofre.

Segundo os números do portal Biodiesel.org, o país possui atualmente 56 usinas de combustível feito à base de material orgânico. Uma pequena usina do tipo exige investimentos entre R$ 4 e R$ 12 milhões. Apesar de toda expectativa criada em 2008 sobre pesados investimentos nesse setor, no entanto, as perspectivas ainda não se realizaram.

O empresário José Luiz Crespo, que possui uma fábrica de tintas e solventes na região de Botucatu, interior de São Paulo, diz que enfrenta dificuldades para obter financiamento para transformar suas instalações numa usina de biodiesel.

“Durante muitos anos produzi tintas e cera para depilação. Ano passado, decidi mudar o foco da minha atividade para a produção de biodiesel e procuro parceiros investidores. Fiz contato com algumas empresas da Espanha, mas até agora não consegui nada. Desde o estouro da crise internacional ficou difícil obter investimentos”, conta Crespo.

Além da desaceleração no crescimento da economia global, joga contra o Brasil a perspectiva de um governo mais protecionista nos Estados Unidos, maior importador mundial de combustíveis.”

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DOIS CAMINHOS

O site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, publica o artigo abaixo de Marcelo Salles, de La Paz, Bolívia. O autor é jornalista, correspondente da revista “Caros Amigos” em La Paz (Bolívia) e editor do jornal “Fazendo Media”:

“Três fatos históricos ocorridos em menos de duas semanas resumem, em grande parte, o que foi 2008 e indicam as possibilidades para os anos seguintes. No dia 20 de dezembro a Bolívia foi declarada território livre de analfabetismo, no dia 27 o governo israelense iniciou um ataque que assassinou centenas de palestinos e no dia 1o de janeiro Cuba comemorou 50 anos de Revolução.

O primeiro fato foi ignorado pelos meios de comunicação de massa brasileiros, o segundo foi relativizado e o terceiro, menosprezado. Com isso, editores e articulistas não foram capazes de enxergar a relação entre os três acontecimentos, reduzindo assim o prisma de suas análises e comprometendo suas coberturas jornalísticas.

Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que não é todo dia que um país erradica o analfabetismo. Poucas são as nações que lograram este objetivo, mesmo entre aquelas economicamente desenvolvidas. Na Bolívia, 819.417 pessoas entre 15 e 80 anos aprenderam a ler e escrever durante os 30 meses do Programa de Alfabetização, implementado com a ajuda dos governos cubano e venezuelano. Cuba entrou com o método "Yo, sí puedo", além de médicos que realizaram 250 mil consultas, 3 mil cirurgias de vista e distribuíram 210 mil óculos para a população. Por sua vez, a Venezuela doou 8 mil painéis de captação de energia solar para que o programa também pudesse ser implementado nas áreas desprovidas de energia elétrica. Assim, Bolívia se tornou o terceiro país latino-americano livre do analfabetismo, depois de Cuba (1961) e Venezuela (2005).

Para eliminar o analfabetismo na Bolívia, os três governos investiram o equivalente a 36 milhões de dólares. Esse valor se refere a todos os custos do programa, incluindo as doações, como os painéis solares venezuelanos, a assistência médica cubana e todo o equipamento áudio-visual. 36 milhões de dólares é menos do que os EUA enviam para Israel a cada três dias em armas e equipamentos de guerra, uma ajuda cujo valor total anual é de aproximadamente US$ 5 bilhões.

O ataque de Israel contra a Palestina deixou mais de 1.200 palestinos mortos e aproximadamente 5.000 feridos. A maior parte dos mortos eram crianças, mulheres e idosos. Milhares de palestinos estão neste momento desabrigados, sem alimentos, medicamentos e água corrente. Até um edifício da ONU foi atingido. Não há médicos suficientes para atender a tanta gente. Chefes de Estado do mundo inteiro classificaram a agressão israelense como "genocídio" ou "carnificina" e pediram um cessar-fogo imediato.

A resposta do governo israelense veio pelo vice-ministro de Defesa Matan Vilnai: "Isso é só o começo". O presidente eleito dos EUA calou, enquanto o governo estadunidense declarou que a matança "só vai parar quando o Hamas deixar de disparar mísseis contra Israel".

Enquanto as corporações de mídia informavam ao público brasileiro que o genocídio cometido contra o povo palestino se tratava de um conflito de igual para igual entre o "grupo terrorista Hamas" e Israel, os cinqüenta anos da Revolução Cubana foram apresentados como uma "ditadura em declínio" (Folha de S. Paulo, 30 de dezembro de 2008) de onde restou apenas "a memória de uma aventura que se prometia gloriosa e a evidência de um desastre construído" (Estado de S. Paulo, 1o de janeiro de 2009). O termo "ditadura" também foi utilizado pela TV Globo para classificar o governo cubano. No mais, foram fartas as matérias enviadas de Havana, que naturalmente continham apenas os relatos dos que são contrários ao governo cubano.

Nesse sentido, a não publicação da erradicação do analfabetismo na Bolívia não foi apenas um lapso midiático, mas uma escolha editorial fundamental para a legitimação do sistema capitalista, mesmo às custas de uma gigantesca falha jornalística - que deveria se estudada em toda faculdade de comunicação que se pretenda séria. Se não, como poderiam explicar que um país socialista como Cuba, debaixo de um feroz bloqueio econômico, alcance a façanha de exportar um conhecimento capaz de dotar todos os cidadãos bolivianos da capacidade de ler e escrever? Como poderiam explicar que essa empreitada fora conquistada com o mesmo investimento de um punhado de bombas utilizadas para massacrar o povo palestino? E, mais difícil ainda: como explicar que a maior potência militar e econômica do mundo ainda tenha analfabetos em sua população?

Essas respostas jamais serão encontradas nas corporações de mídia porque sua simples publicação significa a negação de tudo aquilo que defendem. Pela mesma razão jamais reconhecerão a motivação capitalista (o saque às riquezas do Oriente Médio) no bombardeio à Palestina ou os projetos solidários internacionalistas de Cuba. Enquanto um é relativizado, outro é ignorado.

Os três eventos históricos que ocorreram entre 20 de dezembro e 1o de janeiro testemunham as infinitas capacidades do ser humano. Por um lado, a brutalidade desmedida, a violência, a agressão, a guerra, a morte. De outro, a cooperação, a solidariedade, a paz, a vida. Cabe aos povos e governos de todo o mundo decidir que caminho seguir em 2009 e nos anos seguintes.”

LULA AMPLIA BOLSA FAMÍLIA E MERENDA ESCOLAR GRATUITA

PROGRAMA ATENDERÁ MAIS 1,3 MILHÃO DE FAMÍLIAS E 7,3 MILHÕES DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

[Benefício foi apontado por oposicionistas como uma das razões para a grande votação de Lula em regiões pobres como o Nordeste]

O jornal “Folha de São Paulo (FSP)”, também conhecido como “Força Serra Presidente (FSP)” ontem publicou a seguinte reportagem de Leandra Peres, Simone Iglesias e Angela Pinho. Pelo radical apoio do jornal a Serra, a notícia foi retrabalhada pela FSP com várias inserções adequadas à oposição ao governo Lula [colocadas entre colchetes por este blog]. Sugiro ao leitor ler o artigo sem olhar o trecho entre colchetes::

“No dia em que reuniu os governadores do Norte e Nordeste, as regiões mais pobres do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou duas medidas [que custarão mais R$ 871 milhões por ano ao erário]. O Bolsa Família e a merenda escolar foram ampliados, [medidas que a oposição julga eleitoreiras] e que foram divulgadas um dia após o governo cortar R$ 37 bilhões do Orçamento.

O Bolsa Família atenderá mais 1,3 milhão de famílias, e a merenda será estendida aos 7,3 milhões de alunos do ensino médio da rede pública, [podendo atingir potenciais eleitores com 16 anos ou mais]. Hoje ele atende só o ensino fundamental (leia texto nesta página).

["O objetivo é atrair eleitores para 2010", afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (leia texto nesta página)]. O total de beneficiários do Bolsa Família aumentará de 11 milhões para 12,3 milhões de famílias. O custo será de R$ 549 milhões a mais por ano, o que eleva o Orçamento do programa a R$ 11,95 bilhões. A merenda custou em 2008 R$ 1,5 bilhão ao governo. [O gasto adicional será coberto pelo Tesouro].

Transformado no principal programa da área social do governo [após o fracasso do Fome Zero], o Bolsa Família [rendeu dividendos eleitorais ao governo e seus aliados em 2006]. Nas regiões mais pobres, sobretudo no Nordeste, [o programa foi apontado pela oposição como uma das razões para a grande votação pela reeleição do presidente Lula naqueles Estados].

O programa atingiu em junho de 2006 a sua meta de 11 milhões de famílias. Até agora, só puderam entrar novas famílias no programa se alguma saísse. Com a medida de ontem, este será o primeiro aumento após dois anos e meio.

Por meio de sua assessoria, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome justificou a decisão como uma necessidade de ampliar a rede de proteção social baseada em estudos do IBGE e do Ipea.

O valor dos benefícios pagos pelo Bolsa Família não foi alterado. O que mudou foi o limite de renda das famílias que têm filhos adolescentes e que recebem ajuda federal. Com isso, mais pessoas serão incluídas.

O reajuste permitirá que famílias com renda mensal de até R$ 137 por pessoa passem a receber R$ 20 por filhos com até 15 anos. Essa parcela do Bolsa Família, conhecida como benefício variável, só era paga a famílias com renda de até R$ 120 por mês. Há um limite máximo de R$ 60 ou três filhos para pagamento desse benefício.

As famílias que serão beneficiadas já estão no cadastro do governo. Em maio, um grupo de 300 mil pessoas passará a integrar o Bolsa Família. Em agosto, outras 500 mil; em outubro, mais 500 mil.

O Bolsa Família paga entre R$ 20 e R$ 182 por mês às famílias mais pobres. O valor mais baixo é recebido por quem tem apenas um filho de até 15 anos e renda mensal de até R$ 137, a partir da mudança.

Quem tem renda mensal de até R$ 60 por pessoa tem direito a um valor fixo pago de R$ 62. A isso podem-se somar outros R$ 60, se a família tiver três filhos de até 15 anos.

Adolescentes de 16 e 17 anos também são beneficiados. Independentemente da renda familiar, o governo paga até R$ 60 a todos os beneficiários do programa que tenham até dois filhos nessa idade.”

A MELHOR ESTRATÉGIA PARA CRIAR NOVA MÍDIA

Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo escrito por Rodrigo Vianna, em seu blog:

“Nos Estados Unidos, as redes de TV perdem importância, perdem dinheiro (a eleição de Obama, como se sabe, foi a primeira pautada pela internet). Na Europa e na América do Norte, jornais demitem, são vendidos para outros donos; as tiragens despencam. Mas a crise da mídia corporativa (que ainda mantém enorme poder no mundo inteiro) não é só econômica. E não tem a ver, apenas, com o naufrágio da economia dos Estados Unidos.

Há uma crise de objetividade, de credibilidade. A mídia perdeu a aura de neutralidade.

Caiu esse mito. Com ele, caiu também a autoridade dos meios para ditar o que as pessoas devem pensar", diz Pascoal Serrano, do site espanhol Rebelión. Serrano foi um dos palestrantes no Fórum Mundial de Mídia Livre, que acontece em Belém do Pará.

Em uma das mesas, jornalistas brasileiros e convidados da Argentina, Uruguai, México, Espanha e França debateram: A Mídia e a Crise. O brasileiro Bernardo Kucinski (professor do USP) disse que boa parte da mídia adotou um tom "catastrofista" na cobertura da crise econômica mundial. "No Brasil, especialmente, houve uma torcida pra dar tudo errado, torcida pra levar o governo Lula ao fiasco."

Kucinski afirmou que a melhor cobertura da crise, surpreendentemente, veio de jornais dos Estados Unidos: "Foram a fundo, para mostrar como o carnaval das hipotecas tinha a ver com um modelo de sociedade que dominou os Estados Unidos nos últimos anos, onde todos sonhavam em virar sócios do crescimento capitalista".

Para o jornalista Altamiro Borges, que dirige o site Vermelho (PCdoB), "o grosso das corporações midiáticas é também culpada pela crise, porque fez a propaganda, durante anos, do desmonte do Estado, do desmonte da idéia de Nação, do desmonte do mundo do trabalho".

A argentina Sandra Russo, do Página 12, fez uma crítica aos jornais e sites de "esquerda": "Trabalhamos muitas vezes com uma linguagem envelhecida, que só convence aqueles que já estão convencidos de nossas teses. Nosso grande inimigo não é a mídia convencional, mas a frase feita e o lugar-comum, que não atraem novos leitores."

Os debatedores defenderam a criação de instrumentos mais eficazes, para conquistar o público hoje descontente com a mídia convencional. "Não queremos mais ser marginais, alternativos. Precisamos ser grandes", disse o uruguaio Joaquim Constanzo, da agência IPS.

O diretor da Carta Maior, Joaquim Palhares, propôs uma articulação internacional de sites, para criar um grande portal mundial que se contraponha às agências de notícias dominantes.

Mas, a proposta de criar veículos fortes, reduzindo a fragmentação hoje existente, encontra resistências.

Em outra mesa de debates em Belém, a professora Ivana Bentes (UFRJ) e o jornalista Renato Rovai, da Revista Fórum, defenderam a "horizontalidade", ou seja: acreditam que é preciso apostar em centenas, milhares de pequenos sites e produtores de mídia, que poderiam assim enfrentar o poder dominante da grande mídia.

Respeito muito a opinião de Rovai e Ivana, que estudam o assunto há vários anos. Mas, pessoalmente acredito que é preciso criar um Portal que reúna os jornalistas e os sites já existentes. A tal "horizontalidade", parece-me, não serve para enfrentar corporações de mídia que, apesar de debilitadas, ainda conseguem pautar o país (como vimos nas vésperas do primeiro turno, em 2006). E essas corporações já dominam também boa parte da produção de notícias na internet.

Um Portal não acabaria com autonomia de ninguém, cada blog ou site seguiria com total autonomia. Mas, haveria mais força para criar uma nova "agenda" de notícias.
O que você acha?

Penso nessas questões enquanto passeio pelo ginásio calorento, numa escola da periferia de Belém, onde acontece o Fórum Mundial de Mídia Livre. Agora, já não há palestrantes nas mesas. A temperatura passa dos 30 graus. O abafamento amazônico derruba minha pressão, mas não tira a empolgação de mais de duzentas pessoas, que formam um grande círculo no centro do ginásio.

Não há mesa "dirigindo os trabalhos", não parece haver hierarquia nas discussões. A maioria absoluta dos participantes tem menos de 30 anos. Há brasileiros, mexicanos, espanhóis, italiano. E também gente dos Estados Unidos e da África.

De pé, um rapaz de boné fala em nome das rádios comunitárias de Belém — perseguidas pela polícia, segundo ele.

Do lado de fora, num estúdio improvisado, voluntários transmitem os debates. Comunicação viva!

Aqui, o povo não parece ocupado em reclamar da mídia corporativa brasileira. A idéia é construir outra mídia!

A "horizontalidade" impera. Mas, será que basta?”

OPOSIÇÃO REVOLUCIONA ELEIÇÃO NA BOLÍVIA: 61X39 VIROU EMPATE

Li hoje no site “vermelho” o seguinte texto da “Bolpress”, em tradução de Fernando Damasceno:

“Uma das primeiras normas de convivência que se aprende no jardim de infância é que "a maioria manda"; um princípio democrática indiscutível reconhecido em quase todas as nações do mundo é a eleição de governos e políticas de Estado por "maioria absoluta" de votos (50% mais um). Na Bolívia, a oposição minoritária – já derrotada três vezes consecutivas nas urnas – tentou acabar com o governo por meio de violência e agora interpreta que o referendo do último domingo terminou empatado.

O MAS aplicou surras na oposição de direita nas eleições nacionais de 2005 (53%), na eleição de assembleístas de 2006 (51%) e no referendo revogatório de 2008 (67%). Os opositores respiram aliviados porque sua quarta derrota, no referendo constitucional de 25 de janeiro, não foi tão humilhante.

Com 99,63% dos votos apurados, a proposta de nova Constituição Política de Estado foi rechaçada por 38,51% dos bolivianos, tendo perdido em cinco das nove capitais de departamentos do país. No entanto, mais de 60% do eleitorado aprovou a nova Carta.

O lógico seria que as minorias derrotadas aceitassem a decisão da maioria da população, mas na Bolívia os opositores nem sempre respeitam a lógica. O presidente do Senado, Oscar Ortiz, e o dirigente cívico de Santa Cruz Branco Marinkovic entendem que ''não há ganhadores nem perdedores, mas sim um empate técnico''.

Segundo a direita boliviana, o referendo constitucional demonstrou que "a metade do país" disse "não" à Constituição, o que obrigaria Evo Morales a "aprender a reconhecer as distintas visões existentes no país".

A partir dessa leitura, a oposição afirma que chegou o momento de "pactuar" com o governo, ou seja, "combinar" leis interpretativas para cada um dos artigos da Constituição que necessitarem de normas esclarecedoras.

O senador Tito Hoz de Vila (Podemos) antecipa que em toda essa etapa de "acertos" seu partido fará com que sejam respeitados os direitos da "minoria, que não é tão minoritária". "Se quiserem atropelar, estaremos no Senado para ser um fator de equilíbrio, que obrigará o governo a governar para todos, evitando assim o totalitarismo...".

A oposição, fracassada como classe política, foi sepultada pela votação cidadã e agora fala de um novo pacto para revisar uma Constituição que já foi aprovada. "Esse é um insulto à dignidade do povo soberano, à democracia e à inteligência", protestou o deputado Alejando Colanzi (UN).

Segundo Colanzi, a discussão política que se avista será mais de forma do que de fundo, pois o soberano já se definiu contra a classe política que bloqueou toda possibilidade de diálogo e mudanças em mais de 20 anos de democracia.

Também reapareceu no cenário político o ex-presidente Jaime Paz para fazer com que Evo entenda que "40% da população não está de acordo com seu projeto de Constituição, e que essa vontade tem que ser respeitada". O ex-mandatário propôs, como exemplo, a estruturação de um governo departamental que represente a todos os habitantes de Tarija, de modo a blindá-los de "qualquer imposição".

Por sua vez, o senador Ricardo Diaz, do MAS, afirma que os partidos tradicionais não têm moral para exigir porcentagens especiais para a aplicação da nova CPE, pois quando administraram o modelo neoliberal nunca obtiveram mais do que 34% dos votos em nível nacional.

O presidente Evo Morales descartou qualquer negociação com a oposição para modificar o conteúdo da nova CPE, muito menos no que diz respeito às questões agrárias, e se recusou a conversar com o cívico Marinkovic, envolvido em ações anti-democráticas e violentas em 2008.”

POR QUE A MÍDIA PRIVADA NÃO CONSEGUE VER O FSM?

Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo do filósofo e cientista político Emir Sader, publicado no site “Carta Maior”:

“Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM (Fórum Social Mundial). Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por quê? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios — como não se encontra em lugar algum do globo — estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço — diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP [Força Serra Presidente (forma como Sader se refere à Folha de S.Paulo)] se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, conseqüentemente, a nenhum Fórum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula — a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Fórum Pan-Amazônico, não deram uma linha sobre o Fórum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável — fundamentais no FSM — estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.”

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.: CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DA BUFUNFA

O autor deste artigo publicado na Folha de ontem, Paulo Nogueira Batista Jr, é Diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago):

“Nem políticas fortemente expansivas podem garantir uma retomada dos países desenvolvidos a partir de 2010”

“Recentemente, escrevi nesta coluna sobre os estragos decorrentes da ação global da turma da bufunfa. Na minha indignação, dei "arrancos triunfais de cachorro atropelado".

Na verdade, o mundo inteiro está dando "arrancos triunfais de cachorro atropelado".

A crise financeira que eclodiu em meados de 2007 aqui nos Estados Unidos vem tendo efeitos cada vez mais graves nos quatro cantos do planeta. O tsunami dos bufunfeiros atingiu primeiro os sistemas financeiros nos Estados Unidos e na Europa. Numa segunda etapa, desde meados de 2008, a crise começou a afetar mais fortemente a atividade econômica nos países desenvolvidos. Na terceira etapa, a partir de setembro/ outubro, a crise se propagou para a periferia da economia internacional. A região mais atingida é a periferia europeia (Islândia, Hungria, Ucrânia, Letônia, Belarus, Turquia, entre vários outros países), mas todos os continentes estão acusando o golpe nos meses recentes.

Ontem, o FMI divulgou suas novas projeções para a economia mundial. O quadro é desastroso. Para todos ou quase todos os países importantes, desenvolvidos e emergentes, as projeções de crescimento para 2009 foram drasticamente reduzidas.

Desde as últimas estimativas, divulgadas em novembro, a projeção para o crescimento global caiu de 2,2% para apenas 0,5%. A revisão foi de 1,7 ponto percentual em menos de três meses! Segundo o FMI, a recuperação, provavelmente lenta, só virá em 2010.

Haverá recessão em todos os principais países desenvolvidos, sem exceção. Para o conjunto das economias avançadas, a contração esperada chega a 2% em 2009 -a primeira queda anual desde a Segunda Guerra Mundial. As expectativas para as economias emergentes e em desenvolvimento, inclusive o Brasil, também sofreram um baque. No caso desses países, as projeções ainda apontam para crescimento em 2009, mas a taxa de expansão do PIB cairia quase pela metade, segundo o Fundo, passando de 6,3% em 2008 para 3,3% em 2009. Em alguns emergentes importantes, haveria queda do produto (Rússia, México e Coreia do Sul, por exemplo).

O Brasil ainda teria algum crescimento econômico em 2009, porém a taxa ficaria em apenas 1,8%, segundo o FMI, número um pouco inferior às projeções feitas por analistas privados no Brasil. Para 2010, o Fundo projeta crescimento de 3,5% para a economia brasileira.

Note-se que essas projeções do FMI embutem a hipótese de que os governos dos principais países adotarão políticas fortemente expansivas, particularmente no campo fiscal. O Fundo calcula, por exemplo, que o déficit público nas economias avançadas alcance nada menos que 7% em 2009! Isso refletiria medidas de aumento de gastos, cortes de impostos, o efeito da recessão sobre as contas governamentais e, por último mas não menos significativo, os imensos pacotes montados para resgatar a turma da bufunfa.

O resultado será um enorme aumento da dívida pública dos países desenvolvidos. E o pior é que nem isso evitará a recessão ou garantirá uma recuperação em 2010 e nos anos seguintes. Os países desenvolvidos e o resto do mundo irão pagar preço muito elevado pela desenfreada especulação financeira dos últimos anos. Como diria Nelson Rodrigues, os bufunfeiros serão caçados a pauladas, feito ratazanas prenhes.”

BOLÍVIA

Li na Folha de São Paulo de ontem:

"SIM" À CARTA TEM 61,68% COM 99% APURADOS

“O presidente boliviano Evo Morales anunciou ontem que pretende convocar "um por um" os governadores de todos os departamentos do país para "recolher propostas para implementar o tema das autonomias", previsto na Constituição aprovada em referendo no domingo. Um dos projetos urgentes é a criação de um Ministério das Autonomias.

De acordo com os últimos dados da Corte Nacional Eleitoral, o "sim" para a nova Constituição teve 61,68%, com 99% dos votos computados. Além de La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosí, o "sim" ganhou no departamento de Chuquisaca, governado pela oposição a Morales.

O "não" foi majoritário em Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando, cujos dirigentes reclamam um pacto nacional para revisar o texto. Morales, no entanto, respondeu que "a nova Constituição aprovada pela vontade soberana do povo já é de fato um pacto".

Morales disse ainda que seu governo já prepara leis e decretos para regulamentar a Carta, como o novo código eleitoral -que precisa ser aprovado para as eleições gerais em dezembro.”

COMO NO BRASIL

Li na coluna “Toda Mídia”, de Nelson De Sá, na Folha de São Paulo, o seguinte artigo:

“Fim do dia e a Bovespa disparou nas manchetes dos portais, por conta da Petrobras. Antes e já por alguns dias, agências de Dow Jones a Xinhua e Mercopress noticiam a mais nova descoberta da estatal, agora de gás, em dois blocos no pré-sal.

Mas o que mais ecoa da Petrobras é a confirmação do investimento no pré-sal, desde o anúncio por aqui, com repercussão por agências, "Financial Times" etc. Ontem, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, deu entrevista ao site e canal Bloomberg detalhando planos e, em especial, meios de financiamento.

O plano de investimento, registre-se, foi louvado ontem pelo artigo "Petrobras faz grande aposta", do editor de economia da "BusinessWeek"; pelo editorial "Explore como o Brasil", do Investor's Business Daily; pela análise "Petrobras: uma luz brilhante para as companhias de serviço de petróleo", no site Seeking Alpha; e pela análise "Brasil enfrenta a recessão com investimentos", da organização Americas Society.”

CONCENTRAÇÃO

Li na Folha de São Paulo a seguinte nota de Janio de Freitas:

“A existência de uma Guantánamo ainda pior no Afeganistão, criada pela CIA e pelos militares dos Estados Unidos, causa pasmo em americanos e europeus. Esperemos agora que apareça entre os problemas de Obama a prisão escondida na Tailândia, em uma restaurada base de interrogatório e tortura montada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. A existência dessa terceira Guantánamo está citada em documentos da CIA há pouco submetidos à lei de quebra de sigilo. Mas com discreta exposição pública.”

O CAPITALISTA E O COMUNISTA

O jornal Folha de São Paulo ontem publicou o seguinte artigo do seu colunista Clóvis Rossi:

Davos - Pode-se acusar George Soros de tudo ou de quase tudo, menos de não saber ganhar dinheiro.

Mesmo sabendo, é o único grande capitalista que tem feito críticas sólidas ao capitalismo.

Sua análise sobre a presente crise é irrebatível nesse aspecto. Começa por dizer que a decantada eficiência do mercado "foi desmentida", assim como foi desmentida a tese de que os mercados, deixados por sua conta, "tendem ao equilíbrio". Na verdade, Soros usou o verbo "desproved", que, em português, seria "não provado/a", mas fica esquisito, não é?

O megainvestidor lembra, de novo com toda a razão, que não foi um "choque exógeno" que levou aos "distúrbios" no sistema financeiro.

Ou seja, os "distúrbios" nasceram no próprio sistema financeiro e acabaram por levá-lo ao "colapso", sempre na análise de Soros.

Ele se recusa a fazer previsões sobre o tamanho e o tempo de duração da recessão provocada pelos "distúrbios" (ou "colapso", você escolhe). Diz que não é importante.

Ou que de fato importante seria reconstruir o sistema que entrou em colapso, o que exige uma fantástica, quase incalculável, injeção de dinheiro para capitalizar os bancos em coma.

De onde virá o dinheiro? Óbvio: de papai-Estado, o único que tem recursos para fazê-lo, nem que seja preciso imprimi-lo.

Soros também defende o que a maioria de seus pares rejeita: a regulação do sistema financeiro. Não que acredite na capacidade de o Estado fazer direito as coisas. Mas "tem que fazê-lo, mesmo que tenda ao erro, porque, se errar, o mercado reage e permite corrigir o erro", que no caso seria de calibragem da regulação.

Prefiro Soros a um suposto comunista, o premiê chinês Wen Jiabao, que só ontem se lembrou de que, ao reler os dois clássicos de Adam Smith, encontrara apenas uma única menção à justiça social.”

VOTO SECRETO

O jornal Diário do Nordeste publicou ontem o seguinte artigo de Lustosa da Costa em sua coluna:

“O voto secreto é defesa da liberdade do eleitor contra a prepotência, seja a armada, seja da mídia. Por isso, os jornais e a televisão o combatem tanto. Porque querem assumir o papel de vereador, deputado e senador, sem representação popular, apenas para servir a seus interesses que nunca são os da maioria do povo brasileiro.

Durante a ditadura militar, em que o Congresso funcionava, embora mutilado, a vontade popular se expressou algumas vezes, seja negando licença para processar o então deputado Márcio Moreira Alves por imposição das Forças Armadas seja para restaurar a eleição direta para presidente da República. De nada adiantava o voto, se fora havia a força bruta para o deter e o negar.

De vez em quando, os meios de comunicação, insatisfeitos com a vontade popular expressa pela Câmara e pelo Senado, sonham restaurar o voto aberto, nos plenários, para sustentar conveniências que não são as de interesse nacional.”

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

NOVO IMPASSE ATRAPALHA BASE DE FOGUETE

A Folha de São Paulo ontem publicou a seguinte reportagem de Rafael Garcia e João Carlos Magalhães:

"Comunidade quilombola impede pesquisadores de fazerem levantamento socioambiental em Alcântara, no Maranhão Disputa territorial acabou, mas empresa não consegue realizar estudo de impacto, o que pode atrasar voo de foguete previsto para 2010

Mesmo após a última disputa territorial entre quilombolas e o Programa Espacial brasileiro ter sido resolvida, a construção de uma nova base para lançar foguetes em Alcântara (MA) está gerando conflito. Segundo a ACS (Alcântara-Cyclone Space) -empresa binacional brasileira e ucraniana que vai se instalar no local- comunidades da região impedem a realização de um estudo de impacto ambiental e um levantamento socioeconômico da região.

O impasse, diz a empresa, atrasa o cronograma de seu primeiro lançamento, programado para 2010. Desde outubro do ano passado, a ACS abdicou áreas pleiteadas pelos quilombolas das comunidades de Mamuna e Baracatatiua, dando fim a uma disputa de seis anos.

Agora, a binacional ficará no Centro de Lançamento de Alcântara, da Aeronáutica, vizinho à área. Para começar suas construções, porém, a ACS precisa entregar ao Ibama um estudo de impacto com dados de vários pontos da região, o que requer a entrada de funcionários em território quilombola.

"Para fazer esse estudo, temos de pegar materiais além do nosso sítio, mas eles [quilombolas] não deixam", disse à Folha Gustavo Tourinho, assessor de imprensa da ACS. "E, para deitar um único tijolo lá, precisamos do estudo."

O que perturbou o aparente acordo atingido após a ACS abdicar áreas das comunidades é que, apesar de o INCRA já ter dado início à demarcação das terras, a vitória quilombola é parcial. Segundo a antropóloga Maristela de Paula Andrade, da Universidade Federal do Maranhão, comunidades têm receio em deixar a ACS entrar na área, temendo perder mais terras.

"Esse recuo da empresa se deveu à resistência dos trabalhadores, porque os engenheiros simplesmente entraram com as máquinas dentro do povoado, começaram a fazer perfuração e derrubaram mata sem autorização", diz. "Existe uma história recente muito complicada, e essa empresa [ACS] tem um significado político. Houve várias tentativas de expropriar essas famílias, e eles estão resistindo há cinco ou seis presidentes da República."

Em agosto último, uma barricada chegou a ser feita, conta Benedito Carvalho, representante do Movimento dos Atingidos pela Base de Alcântara. Houve tensão, mas não conflito. "Agora, não há a possibilidade de sairmos de lá", diz. Carvalho está em Belém agora para o Fórum Social Mundial, que começou ontem e terá eventos sobre a causa quilombola.

Para Carvalho, o problema é que parte dos descendentes já foram expulsos das terras na década de 1980, à época da criação da base. E, segundo ele, o governo federal não cumpriu promessas como incentivo à agricultura familiar e assistência médica. "Se eles não cumpriram aquilo, porque a gente vai acreditar agora?"

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO: RECEITA PARA EVITAR BOAS NOTÍCIAS

O site “vermelho” publica o seguinte texto de Luciano Martins Costa, postado originalmente no “Observatório da Imprensa”:

“Durante boa parte da segunda-feira (26/1), um dos principais destaques nos serviços informativos pela internet era a notícia de que, apesar da crise financeira global, o investimento estrangeiro direto no Brasil havia alcançado a cifra de 45 bilhões de dólares em 2008.

Era o maior volume de ingresso de capital estrangeiro para investimento produtivo ou aquisição de empresas no país desde 1947. Era não apenas um número surpreendente pelo volume de recursos, mas também por contrariar as expectativas dos analistas consultados pelos jornais.

No ano passado, desde as primeiras manifestações da crise, as multinacionais instaladas no Brasil aproveitaram os altos lucros obtidos por aqui e transferiram quase 34 bilhões de dólares para tentar melhorar as contas de suas matrizes e subsidiárias em outros países.

Nessa ocasião, os jornais brasileiros fizeram barulho, anunciando que o estoque brasileiro de divisas estava sangrando, quando na verdade tratava-se do movimento cíclico de repatriação de lucros, ainda mais natural por causa das dificuldades geradas pela crise.

Essa é uma das razões para a surpresa: os analistas prediletos dos jornais achavam que, com o agravamento da crise financeira, a remessa de lucros e dividendos para o exterior iria aumentar. Mas quando se esperava a má notícia, ocorreu o contrário, com um detalhe curioso: quase metade dos investimentos estrangeiros no Brasil aconteceu depois de setembro, quando estourou a chamada bolha imobiliária nos Estados Unidos e o mundo se deu conta do desastre financeiro em que estava metido.

SEGUNDO PLANO

Essa era a notícia econômica que predominava na tarde de segunda-feira (26) na internet. Mas essa não foi a notícia escolhida para a manchete da maioria dos jornais de terça (27).

Dos chamados grandes jornais brasileiros, apenas a Folha de S.Paulo colocou a boa notícia entre os principais destaques, ainda assim misturada a uma notícia sobre restrições a importações.

A maioria dos editores escolheu para manchete a pior notícia econômica disponível – a informação de que, na segunda-feira, empresas multinacionais anunciavam milhares de demissões pelo mundo afora. Os números variam conforme o jornal: para a Folha, foram 75 mil. Segundo o Estado de S.Paulo, foram 86 mil demissões. Para O Globo, foram 76 mil.

A boa notícia que era destaque na internet ficou em segundo plano no jornal de papel.”

BRASIL TEM 14 EMPRESAS "CANDIDATAS" A MULTINACIONAIS

Li hoje no site “vermelho" a seguinte notícia divulgada pela agência espanhola EFE::

“Quatorze empresas brasileiras compõem a lista de 100 companhias de economias emergentes classificadas como sérias concorrentes a multinacionais de países desenvolvidos, publicada pela consultora Boston Consulting Group e divulgada no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

A característica destas 100 empresas é que, juntas, elas somaram, em 2007 (ano-base da lista) receitas de US$ 1,5 trilhão e alcançaram ou superaram rivais muito mais antigas de EUA, Europa e Japão.

O Brasil é o terceiro país com mais firmas na lista, atrás da China (36) e da Índia (20). Em seguida, vêm México (7) e Rússia (6).

Pela primeira vez, a lista inclui companhias do Oriente Médio, com quatro dos Emirados Árabes Unidos e uma do Kuwait.

O destaque no Brasil vai para o conglomerado Camargo Corrêa, que atua em setores que vão da construção ao têxtil e foi incluído este ano na lista, por seu crescimento internacional em 2007, em especial na América Latina, na África e na Espanha, alcançando uma receita de US$ 6,4 bilhões naquele ano.

As outras 13 empresas brasileiras já faziam parte da lista, entre elas a Petrobras, a mineradora Vale, a construtora Odebrecht, a siderúrgica Gerdau, a aeronáutica Embraer, os frigoríficos Sadia e Perdigão, a têxtil Coteminas - da família do vice-presidente José de Alencar -, a cosmética Natura e o conglomerado Votorantim.

Também compõem a lista a montadora de ônibus Marcopolo, a fabricante de motores elétricos WEG, a produtora de carne bovina JBS-Friboi”.

DESEMPREGO ATINGE A MENOR TAXA DESDE 1998, APONTA O DIEESE

No site “vermelho está publicada hoje a seguinte reportagem:

“A taxa de desemprego teve ligeira queda no final de 2008, passando de 13% em novembro para 12,7% em dezembro, menor taxa desde 1998. Considerado todo o ano passado, o índice ficou em 14,1%, abaixo dos 15,5% verificados em 2007.

Os dados fazem parte de pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) e da fundação Seade divulgada nesta quarta-feira (28). O levantamento abrange seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal).

No dia 22 de janeiro, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou pesquisa apontando que o desemprego caiu de 7,6% em novembro para 6,8% em dezembro. A diferença entre essa taxa e a do Dieese é explicada por uma diferença de método.

O Dieese e a Seade consideram desempregadas não apenas as pessoas que não têm uma ocupação, mas inclusive aquelas que exercem um trabalho precário (popularmente conhecido como "bico") enquanto procuram emprego relacionado à sua profissão.

Também aqueles que desistiram de procurar emprego nos últimos 30 dias por pessimismo são considerados desempregados na pesquisa Dieese Seade, mas inativos na pesquisa do IBGE.

Excluindo os empregados precários e os que não procuram trabalho por desalento, a taxa de desemprego cai para 8,6% em dezembro na pesquisa
Dieese/Seade.

VAGAS CRIADAS E ALERTA

A taxa de desemprego caiu no ano passado porque foram criadas 804 mil vagas no período, enquanto o número de pessoas que entraram no mercado de trabalho foi de 613 mil. Com isso, o contingente de desempregados foi reduzido em 190 mil pessoas.

A redução da taxa de desemprego total reflete a diminuição das seis capitais pesquisadas. No Distrito Federal, a taxa passou de 17,7% em 2007 para 16,6% em 2008; em Belo Horizonte, de 12,2% para 9,8%; em Porto Alegre, de de 12,9% para 11,2%) e em São Paulo, a taxa decresceu de 14,8% para 13,4%. Apenas em Recife a taxa manteve-se relativamente estável (de 19,7% para 19,6%).

De acordo com o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, um dos motivos que explica o recuo no desemprego em meio à crise financeira global são as contratações temporárias do mês de dezembro, principalmente no comércio, que admitiu mais em 2008 que em 2007.

Para os pesquisadores, a partir de janeiro, a pesquisa já deve mostrar um desemprego maior, com os dados das demissões e a ausência dos trabalhadores temporários que, ao contrário de outros anos, não devem ser contratados.”

MÍDIA, DEMOS E A TRAGÉDIA DA RENASCER

No site “vermelho” está publicado o seguinte artigo de Altamiro Borges:

"O sempre atento Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB e ex-deputado estadual, postou no seu blog uma notinha reveladora do caráter da mídia. “O Bispo Gê Tenuta, o responsável pela Igreja Renascer, já foi deputado estadual e hoje é suplente de deputado federal pelo DEM/SP. Parece, inclusive, que vai assumir o mandato. Não vi uma única linha que tocasse nesta condição política do religioso. A mídia não quer associar a tragédia, que resultou na morte de nove pessoas, com a prefeitura. Kassab e Bispo Gê são do mesmo partido. Tanto a prefeitura como os responsáveis da igreja descuidaram de itens essenciais à segurança dos fiéis”, registra o texto “Empresário da fé”.

A manipulação da mídia, como alerta Nivaldo, é realmente impressionante. Se o tal bispo tivesse apoiado Marta Suplicy na eleição paulistana, com certeza o vínculo seria manchete dos jornalões e das revistas. O “colunista” Arnaldo Jabor, cuja esposa, Suzana Villas Boas, presta assessoria ao governador José Serra, teria feito suas gracinhas na TV Globo. Mas como o líder evangélico é do demo (ex-PFL), nem a sigla partidária aparece quando citam seu nome. As imagens de Kassab e Bispo Gê juntos em campanha sumiram do ar. Talvez nem as centenas de pessoas soterradas nos escombros do prédio inseguro da Igreja Renascer façam a devida ligação bispo-prefeito-demos.

TV GLOBO ESCONDE A SUJEIRA

A Renascer fez ativa campanha para Gilberto Kassab, apadrinhado do presidenciável José Serra. Engajado na campanha, o diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, deu até uma trégua na guerra liderada pela emissora contra as igrejas evangélicas. Para livrar a cara do demo, ela deixou de alardear a prisão, nos Estados Unidos, dos fundadores da igreja, Sônia e Estevam Hernandes, acusados de desvio ilegal de dinheiro. Também abafou as investigações que apontaram Fernanda Hernandes, filha dos fundadores da Renascer, como “funcionária fantasma do deputado estadual Geraldo Tenuta, conhecido como Bispo Gê”, segundo relato do casal global no Jornal Nacional.

Para interferir na batalha eleitoral, a mídia deixou de lado a “imparcialidade” nas apurações das irregularidades da Igreja Renascer — inclusive as que denunciaram o uso indevido de entidades assistenciais para enriquecer a instituição “religiosa”. Faz o mesmo agora, diante dos escombros do prédio e dos nove mortos, omitindo as relações do Bispo Gê com o DEM e o prefeito reeleito da capital paulista. A cada dia que passa, a mídia hegemônica se transforma no principal partido da direita no Brasil. O que ela chama de cobertura jornalística é, de fato, manipulação política.

AERO-YEDA E O SILÊNCIO MIDIÁTICO

Outro caso emblemático desta distorção é o tratamento dado pela mídia à compra de um jato para governadora do Rio Grande Sul, Yeda Crusius. A tucana, que chafurdou o governo em inúmeros casos de corrupção, anunciou a aquisição do avião executivo orçado em US$ 26 milhões. Diante das críticas, ela rebateu: “Podem chamá-lo de Aero-Yeda, de Queen Air, do que quiserem”, em mais uma prova de inabilidade e arrogância políticas. A mídia, porém, parece que inocentou a governadora. Na Folha de S.Paulo foram publicadas apenas três notinhas, não houve destaque no Jornal Nacional. Bem diferente do escarcéu promovido contra o chamado “Aero-Lula”.

Até o blogueiro Ricardo Noblat estranhou as reações diante desta nova aquisição. “Quatro anos depois de criticar duramente o governo do presidente Lula pela compra do Airbus presidencial, integrantes do comando do PSDB se esquivaram de comentar a decisão da governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius, de também adquirir um jato para vôos internacionais”. O blogueiro, que também é colunista do jornal O Globo, só não criticou o vergonhoso silêncio da mídia hegemônica — por motivos óbvios.”

ENTREVISTA COM O BRIG SAITO, COMANDANTE DA AERONÁUTICA

No site Defesa@net li a seguinte entrevista:

PROGRAMA F-X2: "NOSSA META É ADQUIRIR 36 AVIÕES, MAS A CRISE ECONÔMICA PREOCUPA".

"Defesa@Net teve a oportunidade de entrevistar o Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, quando este visitou o V Comando Aéreo Regional (COMAR), na manhã de ontem, 27 Janeiro. Na oportunidade houve a troca do comando do Hospital da Base de Canoas (HACO).

O PROGRAMA F-5BR

Não serão adquiridos mais aviões F-5. Estamos em negociação final com a EMBRAER para a assinatura do contrato de modernização do aviões adquiridos da Jordânia para o padrão F-5EM/FM. Será criado mais um grupo de caça que ficará situado na Região da Amazônia.

O F-5BR deverá permanecer em serviço até 2020-25. O avião nos tem atendido perfeitamente. A performance na Operação Red Flag nos satisfez muito. No fim do ano foi introduzido o sistema de datalink (enlace de dados), que permite que os pilotos troquem informações de forma segura entre si. Não temos tido maiores problemas de pane com os motores F-5.

A OPERAÇÃO DO C-105 AMAZONAS

Temos 8 aviões em Manaus (AM) e 4 em Campo Grande (MS) E no futuro um grupo de 4 em Belém(PA). Estamos negociando mais 8, sendo 4 em função SAR, que serão usados nas áreas das Fronteiras Norte e Oeste.

O P-3

Visitei recentemente uma unidade operacional do P-3 e também a as atividades de modernização do P-3BR, na Espanha e me surpreendeu a diversidade e capacidade da eletrônica embarcada. Será um importante meio nas operações de proteção às atividades do Brasil na área do pré sal. E operações no Atlântico Sul junto com os Banderulhas.

PROGRAMA F-X2

No próximo dia 2 de Fevereiro (segunda-feira) teremos a entrega das propostas das empresas (BOEING, DASSAULT e SAAB) ao RFP (Request for Proposa) emitido pela FAB.

Nosso cronograma prevê que em Junho, no máximo, Julho deste ano, seja definido o finalista. E em Outubro espero assinar o contrato. Nessa fase de análise de propostas estaremos em contato direto com os fabricantes, para solucionar dúvidas e esclarecer detalhes.

TRABALHAMOS COM O NÚMERO DE 36 AVIÕES, ESTA É A NOSSA META.

Nos preocupa o ambiente econômico, pois poderá interferir, não podemos ignorar isso. O Brasil não está sendo tão afetado pela crise econômica e esperamos que até o segundo semestre o cenário tenha mudado.

PROGRAMA F-X2: A NECESSIDADE

Aquisição de um novo caça que nos levará a um novo patamar tecnológico e operacional. Será um passo significativo para a FAB e também para a indústria nacional.

PROGRAMA F-X2: A PARTE INDUSTRIAL

Não temos um requisito formal, negociaremos com as empresas. Se serão 12 fornecidos diretamente pelas empresas e os demais 24 montados no Brasil, tudo isto será definido nas negociações.

MODERNIZAÇÃO DOS BANDEIRANTES

Já estamos com o contrato assinado e nos próximos meses a Aeroeletrônica preparará os protótipos da nova aviônica que será introduzida no avião.

O IMPACTO DA CRISE ECONÔMICA

Ainda não avaliamos o impacto. Primeiro o governo deverá avaliar e estabelecer as ações, após isto nós analisaremos o efeito em nossos programas e atividades. (Nota do Editor: ao mesmo tempo em que o Brig. Saito dava esta declaração, o Ministério do Planejamento anunciava contingenciamento de 56% no orçamento do Ministério da Defesa para a rubrica de investimentos)."

O IRAQUE DE OBAMA

O jornal espanhol El Pais publicou ontem o seguinte texto de Ramón Lobo. Li no UOL em tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves):

“O novo presidente dos EUA quer retirar suas tropas de um país que luta contra a rebelião e com instituições ainda frágeis. Um jornalista de "EL PAÍS" viu a situação em campo, seis anos depois da aposta de Bush em uma guerra rápida e barata

Os soldados americanos no Vietnã escreviam e pintavam nos capacetes de combate para afastar sua irritação. A sigla mais comum era "FTA: Fuck The Army". No Iraque está proibido, por questão de uniformidade e imagem. Aqui a preferida é "WTF: What The Fuck" [que merda]. A via de escape é a Internet e as paredes de alguns banheiros: "Matar muçulmanos em nome de Deus ou de Bush, que merda importa?" Também se podem ler citações mais intelectuais e uma de Platão: "Só a morte viu o final da guerra".

Quando o blindado serpenteia entre as estacas do último posto de controle e deixa as defesas da base, os militares carregam suas armas e preparam os nervos. Entram em território hostil. Os iraquianos têm ordem de afastar-se para o lado e deter seus veículos.

Todos obedecem às instruções dadas através da televisão e da rádio. Quando não, dispara o alarme: "O que faz esse imbecil nos seguindo?" Os pedestres adultos observam a passagem dos comboios sem mover um músculo. Ninguém sorri, ninguém cumprimenta, ninguém parece ter esperança de que Barack Obama represente uma mudança em suas vidas. Só os meninos agitam as mãos e levantam o polegar. Para eles trata-se de um filme de ação.

No norte de Bagdá o inimigo são os franco-atiradores emboscados em residências e edifícios semidestruídos. Na província de Diyala, onde atua a organização Al Qaeda no Iraque, o perigo são os explosivos. Ali se viaja de Striker, um veículo teoricamente resistente a bombas. O atirador principal rastreia o tráfego com um monitor que detecta fontes de calor. Esta é uma zona de guerra, como a província de Nínive, no norte.

"Quando matam um companheiro da base, cortam nossas comunicações telefônicas e de Internet para não contarmos o que aconteceu. Querem seguir o protocolo, que seja o exército quem se apresenta na residência e informa a família sobre o ocorrido", afirma o sargento de origem peruana Carlos Mora-Pacora. "Há algumas semanas, depois de vários dias sem comunicação devido à morte de dois rapazes, pude falar com Katia, minha mulher. Ela estava preocupada. Expliquei que o gerador tinha quebrado. Se dissesse a verdade, ela viveria aterrorizada cada vez que não houvesse comunicação, olhando para a porta à espera de alguém chamando para dar a notícia."

A guerra destinada a salvar o mundo da ameaça das armas de destruição em massa que nunca foram encontradas custou a vida de 4.214 soldados americanos, segundo "The Washington Post", e ferimentos em mais de 33 mil, segundo o Pentágono. Também houve 316 baixas de militares de países que participaram ou participam da chamada Coalizão Multinacional; entre eles 11 espanhóis. Embora não existam dados oficiais sobre o número de iraquianos mortos desde 19 de março de 2003, data da invasão, a revista britânica "The Lancet" publicou há dois anos um relatório que estimava a cifra em mais de 600 mil. O site www.antiwar.com oferece outra que inclui os mortos em atentados e por falta de cuidados médicos de qualidade: 1,3 milhão.

Ted Englemann, veterano do Vietnã que aderiu às tropas americanas em busca de material para um livro que apague seus fantasmas, preocupa-se que o índice de suicídios seja muito superior ao de outras guerras. "Eles os dissimulam como baixas em combate e ninguém conta os que voltam para casa, compram uma moto, aceleram e se espatifam." O exército admite a morte por suicídio no Iraque de 121 soldados em 2007, 20% a mais que em 2006.

Quando se conhecerem as cifras de 2008, o mais provável é que sejam semelhantes; até agosto se suicidaram 93 soldados. O exército admite que uma média de 5 soldados por dia tentam acabar com sua vida ou ferir-se.

Um cabo de sobrenome espanhol que só fala inglês e a quem falta um mês para voltar para casa no Colorado, se declara "cansado de lutar". É sua terceira missão. Combateu a Al Qaeda na província de Diyala em 2006 e a milícia xiita do Exército do Mahdi em Cidade Sader entre março e maio deste ano. "Os que não matamos fugiram para a Síria e o Irã ou se esconderam. Cada vez que saímos, arriscamos a vida. Há muita tensão. A cabeça precisa se afastar para não enlouquecer. Há alguns dias mataram um rapaz da unidade. Uma granada arrancou a metade do seu rosto. Não foi possível fazer nada por ele."

Há bases McDonald's: comida "junk" de vários tipos, lavanderia em 48 horas, camas aceitáveis, lojas e chuveiros quentes. Mas a maioria dos soldados em missões de segurança vive nos Combat Out Post (COP, bases avançadas de combate), cujas condições são espartanas: banheiros exíguos, patrulhas constantes e colchões cheios de percevejos. "Eu troco de camiseta a cada três dias; de casaca a cada sete, e tomo uma ducha quando posso.

Não se preocupe com o cheiro. Aqui ninguém vai perceber o seu", diz um capitão do COP Apache.

A guerra que o Pentágono de Donald Rumsfeld calculou que seria rápida, produtiva e a um preço ínfimo, cerca de US$ 60 bilhões, resultou em um desastre. O já ex-presidente George W. Bush gastou na operação Liberdade para o Iraque dez vezes mais do que custou a primeira Guerra do Golfo e três vezes mais do que se gastou na do Vietnã. Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia, calcula que o custo real do período 2003-2008 supere os US$ 3 bilhões, cerca de 2,3 bilhões de euros.

"Perdemos quatro anos", afirma Husam Alwan Abd, chefe dos Filhos do Iraque em Murtadiya, a segunda cidade em importância de Diyala. "Lutamos conta a Al Qaeda desde 2006. No início o fizemos sozinhos na província de Al Anbar. Ninguém nos ajudou. Agora contamos com o apoio americano. Demoraram muito para perceber que os sunitas não somos o inimigo [Sadam Hussein era sunita]. Entre todos, destruímos este país, e o Irã é agora o grande beneficiário."

Os Filhos do Iraque é o novo nome do Despertar, um movimento iniciado pelas principais tribos sunitas cansadas do extremismo de Abu Musab al Zarqawi e da Al Qaeda. O general David Petraeus, chefe militar americano em Bagdá entre fevereiro de 2007 e setembro de 2008 e hoje chefe do Comando Central, que também cuida do Afeganistão, soube aproveitar: os atraiu com a promessa de uma certa amnésia sobre o passado e salários de US$ 300 mensais (que hoje são pagos pelo governo de Bagdá), apesar de muitos serem antigos insurgentes que atentaram contra soldados americanos.

"O que esperavam ao nos invadir? A resistência é um direito. Antes os considerávamos ocupantes; agora são forças que nos ajudam. Não estaremos preparados antes de 15 anos. É o preço de ter destruído o estado. Agora é preciso construí-lo. Se os americanos fossem embora amanhã, seria um desastre, o Irã nos invadiria", acrescenta Husam.

Depois de três guerras, embargos internacionais e a ditadura de Sadam Hussein, este é um povo de atores, gente que pretende representar um personagem com o objetivo de sobreviver. Nunca se sabe quem diz a verdade e que quantidade de verdade. "Não têm iniciativa, sempre esperam que alguém faça algo por eles, mas as coisas estão mudando.

Depois de cinco anos e meio, rompemos as barreiras culturais: entendemos melhor o sistema das tribos e eles nos entendem melhor", diz o coronel Burt Thompson, chefe da 1ª Brigada da 25ª Divisão, com sede em Baquba, capital de Diyala, e especialista em estratégia.

Os americanos não fumam cigarros, só mascam tabaco e arrotam. Os árabes arrotam e fumam cigarros, mas não mascam tabaco. Ainda restam diferenças insuperáveis.

O maior dos erros de Paul Bremer, o procônsul colocado pelos neoconservadores depois da ocupação do Iraque, foi a dissolução das forças armadas iraquianas em maio de 2003. Desde então os EUA viajaram na direção errada. Cada ano era pior que o anterior: atentados contra as forças estrangeiras, grandes matanças de civis, sequestros indiscriminados, cidades inteiras como Faluja, Ramadi e Samarra nas mãos da rebelião, violência sectária e limpeza étnica (religiosa)... Dezenas de milhares de mortos até que Petraeus teve a inteligência e a coragem de mudar o enfoque. Apesar das críticas recebidas nos EUA pelos setores mais conservadores - o acusam de esquecer o sangue derramado -, a estratégia funciona: a violência diminuiu, inclusive nas ainda problemáticas Diyala e Nínive. Agora o general Petraeus quer exportá-la para o Afeganistão para combater os taleban.

Trata-se de um avanço sólido? Depende só da presença das tropas americanas e do aumento de 30 mil soldados em fevereiro de 2007? Uma retirada antecipada por ordem de Obama provocaria problemas? "As percepções são importantes no Iraque", afirma o coronel Thompson. "A percepção de que existe um melhor governo faz que o governo funcione melhor. A percepção de maior segurança gera segurança. Esta não é uma guerra convencional, é uma guerra contra insurgentes; luta-se em muitas frentes: a militar, a econômica, a social e nas percepções das pessoas."

Dos grafites de Generation Kill nos banheiros - "Amo o exército e amo matar muçulmanos" - se passaram nos últimos meses a soldados que enchem os bolsos de balas, distribuem bolas de futebol dos blindados e aprendem frases coloquiais em árabe. Aprenderam empatia.

O Humvee (sucessor do cinematográfico Jeep) cruza uma rua de Bagdá na qual dezenas de crianças cumprimentam seus atores favoritos. "Talvez estejam dizendo com um sorriso: odeio vocês, filhos da puta", exclama um soldado, entre gargalhadas. Os três homens que viajam no blindado se distraem com conversas triviais e se alertam da presença de mulheres bonitas sem a "abaya" (traje tradicional que cobre todo o corpo e a cabeça): "Uma de sete pontos à direita e às duas e dez". A saída de um colégio feminino se transforma em acontecimento. Todos olham dissimuladamente para não ofender sensibilidades.

Um desses homens conta que antes do Ramadã receberam instruções sobre como se comportar no mês do jejum muçulmano. "Um dia desci do veículo mastigando pão e um homem me criticou: 'Você não pode comer, é Ramadã', disse. Depois vi que ele acendia um cigarro e corri para avisá-lo que também não era permitido fumar. O homem encolheu os ombros e respondeu que ele podia fumar porque Alá estava olhando para o outro lado."

Nos refeitórios das bases há televisores enormes. Acompanham-se os canais militares que transmitem basquete e futebol universitário, as notícias do Pentágono e anúncios para se alistar em qualquer força. Também gostam de alguns programas da ultraconservadora "Fox News", mas o campeão de audiência é a luta radical. Quando um dos combatentes acerta um pontapé entre as pernas do adversário, o refeitório ruge como um estádio. Em salas de lazer projetam-se vídeos. Abundam os argumentos sobre a guerra, bons e maus. Nos computadores conectados à Internet há soldados que navegam por sites que anunciam carros e objetos de luxo. É sua ligação com o mundo que deixaram para trás, sua forma de pintar o capacete.

O sargento Jerry pertence à Guarda Nacional de seu estado e acaba de prolongar voluntariamente sua estada. Sua obsessão é alcançar os três anos de serviço em zona de guerra para ter acesso a benefícios especiais aprovados nos EUA depois do 11 de Setembro. "Me faltam seis meses e com essa ajuda poderei pagar os estudos universitários de minha filha. Tenho família e uma hipoteca. Se eu estiver lá, posso vê-las, mas não pagar a casa.

Aqui enfrento os gastos, mas não estou com elas. O que você teria escolhido?" Quando narra sua história seus olhos ficam úmidos, apenas uma leve película. Dentro dele ferve um vulcão que quer se expressar.

No Vietnã houve um recrutamento obrigatório; no Iraque é voluntário, um eufemismo que esconde urgências econômicas.

"Muitos soldados são rapazes de 19 ou 20 anos que acabam de sair do colégio. Outro dia um deles matou um homem que pretendia entrar na base para se suicidar. Eu disse a ele que fez bem, que salvou a vida de muitos companheiros, mas nunca se sabe como funciona o processo por dentro", diz o capitão Charles Brown, destinado a um COP em território da Al Qaeda. "Uma vez tivemos vários feridos na explosão de uma casa. Um rapaz correu para o helicóptero com o pé de um companheiro mergulhado em gelo, na tentativa de salvá-lo. São experiências difíceis."

"A Al Qaeda no Iraque é um inimigo dinâmico e interativo que se move em pequenas células. Nós aprendemos com eles e eles conosco. Nunca buscam o confronto direto porque sabem que os arrasamos. Utilizam explosivos contra as tropas e contra a população civil. (...) Os Filhos do Iraque fizeram um trabalho extraordinário. É preciso ser realistas e buscar a eficácia. (...) Historicamente, as guerrilhas têm uma duração média de dez anos. Neste caso nos restariam quatro", brinca Thompson. O capitão Brown, que lutou em Faluja no final de 2004, é otimista: "Pela primeira vez vejo a luz no fim do túnel e me parece que a maioria dos iraquianos também".

Os soldados americanos vão se retirar do Iraque em dezembro de 2011, segundo o Acordo do Estatuto de Forças (SOFA na sigla em inglês). Faltam três anos, a metade se Obama cumprir uma de suas promessas da campanha eleitoral. Ninguém acredita que o exército iraquiano esteja preparado dentro de 16 meses, nem de 36. Thompson afirma que o problema é de material e capacidade para sustentar um combate prolongado. E também de confiança - outra vez as percepções. Desde 1º de janeiro, o Comando Militar americano tem de pedir autorização ao governo de Bagdá para atuar, salvo em caso de perigo para suas tropas, que deixarão de patrulhar as cidades a partir de junho próximo.

O outro buraco negro, além da insegurança, é a corrupção. Em um país com reservas de petróleo estimadas em mais de 115 bilhões de barris não existe Mister 10%; aqui o que aplica a mordida deseja 50%. Quando a cadeia do desfalque chega ao patamar mais fraco, quase não resta nada para pôr no bolso. "Em todos os países existe corrupção. Existe nos EUA e na Europa", reconhece um comandante americano. "Mas a corrupção que pode haver em nossos países não afeta nosso modo de vida; aqui no Iraque impede o funcionamento da eletricidade, da água e do comércio", explica o chefe militar.

Se o exército iraquiano melhorou muito nos últimos 12 meses, depois da incorporação de alguns comandos do regime anterior, não se pode dizer o mesmo da Polícia Nacional, composta por antigos membros das milícias Badr do Conselho Supremo da Revolução Islâmica no Iraque e as do partido Dawa, ambos xiitas. A Polícia Civil é ainda pior: está muito infiltrada pelo Exército do Mahdi. Contra eles, os Filhos do Iraque, cerca de 100 mil sunitas armados que não confiam no governo de Bagdá nem em suas instituições de segurança. São ingredientes para o confronto civil ou para a incubação de outro ditador. Seria a mãe de todas as ironias.”

“EM RESPOSTA”

Em toda a grande mídia brasileira e estrangeira, sempre os ataques de Israel são “em resposta”. Jamais um ataque palestino será noticiado como “em resposta” à ocupação das terras palestinas pelos israelenses com assentamentos e tropas.

Vejamos a seguinte notícia divulgada ontem pela agência espanhola EFE (li no UOL) na maneira padronizada pela mídia:

ISRAEL ATACA GAZA EM RESPOSTA A LANÇAMENTO DE FOGUETES PALESTINOS

Jerusalém, 29 jan (EFE).- O Exército de Israel bombardeou nesta noite a região de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em resposta a um ataque com foguete das milícias palestinas contra território israelense, informou à Agência Efe um porta-voz militar”.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

EDUARDO GUIMARÃES: COMO VENDER SERRA NA MÍDIA

O blog “Cidadania.com” publicou o seguinte artigo de Eduardo Guimarães (li no site "vermelho":

“Um amigo que muito prezo pediu-me que escrevesse sobre como a mídia vende incessantemente o governador José Serra, receitando-o como remédio para, desde unha encravada até mau-olhado. Meu amigo leu um texto do Paulo Henrique Amorim falando do assunto e, pelo que deduzi, quis vê-lo (o assunto) sendo analisado sob a minha ótica.

Respondi que não tenho feito outra coisa além de exemplificar o que a mídia tem sido capaz de fazer para encher a bola do governador paulista, mas meu amigo insistiu e exemplificou o que queria que eu analisasse, especificamente.

Li o texto de Amorim. Ele escreveu que os jornais e tevês de Serra vendem que o Brasil acabou pela crise e que o tucano é que o reconstruirá. Trata-se de um texto divertido, bem ao estilo desse jornalista. Vale a pena ler.

Mas não tenho a veia cômica de Amorim. E, além disso, começo a achar que o mais importante nem é o que Folhas e Globos são capazes de fazer para ajudar o tucano a se eleger presidente em 2010 — e que sabemos que é muito —, mas como esses veículos podem fazer para convencer alguém a seguir seu conselho eleitoral.

Tomo a mim mesmo como exemplo: se alguém me mostrasse alguma evidência de que Serra seria um bom sucessor para Lula, à altura de sua obra — a qual eu, como a maioria absoluta dos brasileiros, considero digna de nota —, certamente que o tucano teria o meu voto.

O grande problema é que a venda incessante de Serra como uma espécie de elixir para a felicidade eterna do eleitorado, até agora, por mais que essa venda diga como ele é competente para resolver isto ou aquilo, não me disse como ele faria melhor do que Lula, por exemplo, para mitigar os males advindos do cataclismo econômico em curso no planeta.

Um bom começo para a mídia parar de anunciar seu produto e tentar fechar a venda — e digo isso como vendedor, só que de autopeças — seria explicar como funciona esse aparato magnífico que seria José Serra. Como ele funcionaria para impedir que empregos escoassem pelo ralo? Será possível que me diriam que ele teria reduzido a Selic antes de Lula?

Há muito que dizer sobre o que a mídia é capaz de fazer para eleger o governador de São Paulo, mas não há nada a dizer sobre o que ela é capaz de mostrar sobre como o tucano poderia melhorar o que Lula fez ou o que faria quem o presidente indicasse para sucedê-lo.

Serra é um produto muito consumido em São Paulo e São Paulo é muito importante, mas o Brasil é bem maior e mais importante do que São Paulo. E em muitas regiões do país, regiões que têm suas vozes sempre abafadas pela barulhenta mídia do eixo São Paulo-Rio, essa tragédia que a mídia diz que está acontecendo por culpa de Lula é vista como uma marolinha, comparada ao que acontece no resto do mundo.

Os meios de comunicação têm sido capazes de fazer praticamente tudo, até o momento, para tentar eleger esse homem. Não têm sido capazes, porém, de fazer o principal: dar um único motivo inteligente e prático para alguém querer votar nele. Um motivo que convença mesmo essas pessoas que a mídia julga idiotas, mas que são muito mais espertas do que ela pensa.”

AMORIM: PETROBRAS AFOGOU O PIG E A GLOBO NA BACIA DE CAMPOS

Li ontem à tarde no site “vermelho” o seguinte artigo escrito por Paulo Henrique Amorim, no seu site "Conversa Afiada":

"Já houve um tempo em que Roberto Marinho gostava muito da Petrobras. Não podia sair nenhuma notícia na editoria de Economia dos telejornais da Globo sobre a Petrobras que não fosse autorizada por ele.

As manchetes do jornal O Globo sobre a Petrobras tinham uma consistência: precediam ou sucediam bruscos movimentos de alta ou baixa das ações da Petrobras. Era uma coincidência… O Dr. Roberto sabia, sempre, antes, quem seria o Presidente da Petrobras.

Um dia, quando eu tinha uma coluna sobre Economia no Jornal da Globo, anunciei um dia antes que o presidente da Petrobras seria Helio Beltrão. No dia seguinte, o Dr Roberto me chamou à sala para explicar com suavidade e firmeza — como era o seu estilo pessoal — que, ali, na Globo, notícias como aquelas exigiam a autorização dele.

Ponderei que, afinal, aquilo era um furo meu, e que eu me comprazia em dar furos “na minha coluna no Jornal da Globo”. Ele respondeu firme: “a coluna é do Globo, meu filho”. Para ele, a televisão era precedida do artigo masculino.

A relação íntima de Roberto Marinho com a Petrobras se tornou “carnal”, como diria Carlos Menem, no Governo Sarney. Na verdade, Roberto Marinho co-presidiu o Brasil no Governo Sarney. Antonio Carlos Magalhães, no Ministério das Comunicações, era o leva-e-traz dessa parceria.

Agora, os filhos de Roberto Marinho (eles não chegam a ter nome próprio) mantêm uma relação hostil com a Petrobras. Veja, por exemplo, caro leitor, o que disse o Globo online, na noite desta segunda-feira. No jornal impresso, na abertura da seção de Economia, nesta segunda-feira, a chamada é “Abalo Global” (sic) e o título, “Um plano de negócios arriscado — para analistas (???) incertezas na economia podem elevar custo de investimentos da Petrobras”.

O que é uma afirmativa dramaticamente estúpida, já que incertezas na economia podem elevar o custo de investimento da Globo, da Microsoft, da Gazprom, da Basf, British Airways, da Vale, da Votorantim, da GM, do Bahamas – e da minha tia do Grajaú…

A Petrobras anunciou no fim da semana passada, ao fim de uma reunião com o Presidente Lula, que vai investir entre 2009 e 2013 a bagatela de US$ 174 bilhões de dólares. Isso é o PIB de uma meia dúzia de países. Só no ano de 2009 serão US$ 29 bilhões.

Por que os filhos do Roberto Marinho são contra isso tudo? (Será que eles recusarão comerciais da Petrobras no intervalo do jornal nacional?) Por dois motivos. Um, por um motivo ideológico. Uma empresa estatal não pode dar certo. Não pode ter bala.

Embora o Dr Roberto tenha sido “sócio” das oscilações da Petrobras na Bolsa, por muito tempo ele se filiou ao Pai de todos os Colonistas, Roberto Campos, que passou a vida a falar mal do “Petrossauro”. Devidamente estimulado pelas empresas estrangeiras de petróleo, especialmente as americanas, Campos lutou, inutilmente, contra Petrobras.

E foi o colonista do coração de Roberto Marinho, Octavio Frias e dos Mesquita. Todos eles morreram afogados nas águas profundas da Bacia de Campos. Essa é a questão ideológica. A Petrobras não pode dar certo. (É por isso que a notável urubóloga Miriam Leitão contrapõe sempre o fracasso da Petrobras ao sucesso retumbante da Vale, que por sinal, é estatal, ainda…)

Mas, tem também a questão eleitoral. A Petrobras é um dos instrumentos do Governo Lula para conter a crise econômica. Quanto mais a Petrobras investir, menores serão as possibilidades de a economia brasileira ir à breca.

O que interessa ao PiG e aos filhos do Roberto Marinho? Que o Governo Lula fique sentado em cima das mãos, não faça nada e espere a crise ficar co tamanho que o PiG pinta todos os dias.

O sonho do PiG é o Governo Lula se afundar na crise e não fazer nada. E esperar o José Pedágio salvar o Brasil. Faz parte do marketing de José Pedágio pintar uma crise profunda para que ele, São Jorge redivivo, possa salvar o Brasil.

Porque, se o PiG estiver errado e o Governo Lula evitar a crise, o Presidente Lula fará o sucessor. É só isso. A Petrobras tem que fracassar. O Brasil tem que fracassar."

CAEM OS GASTOS DO GOVERNO

O jornal Correio Braziliense ontem publicou a seguinte reportagem de Denise Rothenburg sobre uso de cartões corporativos:

Os gastos do governo federal com suprimento de fundos caíram significativamente em 2008, em comparação com o ano anterior.

A redução pode ser percebida tanto no valor total desse tipo de gastos quanto isoladamente com os cartões de pagamento. No caso do suprimento de fundos, a queda chegou a 31%, caindo de R$ 168,3 milhões, em 2007, para R$ 116,5 milhões em 2008.

Nos cartões de pagamento, a queda foi de 27%, de R$ 76,3 milhões para R$ 55,3 milhões.

A informação foi divulgada ontem pelo ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União (CGU), para quem o fato se deve não apenas à política de transparência adotada pelo governo, mas também ao aumento do rigor das normas. Um exemplo disso, segundo ele, foi a edição do Decreto Presidencial nº 6.370, que, dentre outras medidas, extinguiu, em junho passado, as contas de talão de cheque (contas tipo B), ressalvando algumas situações excepcionais, e limitou fortemente os saques em espécie.”

JORNALISTA DIZ QUE É ALVO DE "PERSEGUIÇÃO"

A Folha de São Paulo, “serrista doente”, ontem publicou a seguinte notícia, “trabalhada” para poder ser publicada naquele jornal. Por exemplo, o jornal colocou dolosamente aspas depreciativas em “perseguição” no título acima. Tenho certeza que falseia a verdade, pois Paulo Henrique Amorim não pediu à Polícia com essas aspas na sua petição. Vejamos o texto da Folha:

“O jornalista Paulo Henrique Amorim pediu à Polícia Federal que investigue suposta perseguição contra ele e sua família "por indivíduos a mando" do banqueiro Daniel Dantas e do governador José Serra (PSDB). Disse que dará detalhes à PF.

O Ministério da Justiça se colocou à disposição de Amorim. O banco disse que não foi notificado. A assessoria de Serra não o localizou.”

ARRECADAÇÃO FEDERAL CRESCE E ATINGE R$701,4 BI EM 2008

A agência norte-americana de notícias Reuters divulgou ontem a seguinte reportagem de Fernando Exman, com edição de Alexandre Caverni (li no UOL):

“O governo federal arrecadou 66,229 bilhões de reais em impostos e contribuições em dezembro, elevando para 701,403 bilhões de reais o volume arrecadado em 2008, informou nesta terça-feira a Receita Federal do Brasil.

O valor do ano passado foi 7,68 por cento maior que os 651,371 bilhões de reais arrecadados em 2007.

Na comparação com novembro, quando a Receita apurou a primeira queda mensal na arrecadação, houve um crescimento de 20,67 por cento no mês passado. Mas em relação a dezembro de 2007, houve uma queda de 4,71 por cento.

Apesar dessa queda, a arrecadação mensal obtida em dezembro foi a maior de 2008.

Para o secretário-adjunto da Receita Federal Otacilio Cartaxo, o resultado foi "auspicioso", já que a arrecadação dos meses de novembro e dezembro foi prejudicada pela crise financeira global.

"Foi uma arrecadação extremamente positiva. Para um ano de crise, não poderia haver melhor resultado", disse Cartaxo a jornalistas. "Os setores mais afetados, como em toda a crise, foram o automotivo e o de linha branca."

Impulsionado pela arrecadação dos tributos associados à venda de ativos com lucro, como o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Pessoa Física e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), a arrecadação das receitas federais registrou forte crescimento entre janeiro e outubro.

Com o recrudescimento da crise, no entanto, esses indicadores foram afetados. Como consequência, o crescimento da arrecadação desacelerou.

Nos últimos dois meses de 2008, a arrecadação desses três tributos caiu 22,73 por cento em relação ao mesmo período de 2007, para 15,684 bilhões de reais. Já a recolhimento dos demais tributos administrados pela Receita cresceu 0,30 por cento, para 103,405 bilhões de reais.

Mesmo assim, a Receita Federal apurou alta na arrecadação desses três tributos no acumulado do ano.

De janeiro a dezembro de 2008, essa arrecadação cresceu 16,22 por cento na comparação com 2007, para 136,716 bilhões de reais.

Já a arrecadação dos demais tributos subiu 4,66 por cento no ano passado ante o ano anterior, somando 538,613 bilhões de reais.

"Os meses de novembro e dezembro acusam exatamente os decréscimos decorrentes da crise financeira", comentou o secretário-adjunto da Receita Federal.

Segundo ele, a crise também foi evidenciada pela queda da arrecadação de Cofins e PIS/PASEP em dezembro. A redução foi de 5,39 por cento em relação ao último mês de 2007, para 12,187 bilhões de reais.

"A Cofins incide sobre o faturamento e reflete a produção de todos os setores da economia", explicou.

Cartaxo recusou-se a revelar qual é a previsão de arrecadação para 2009. Disse que, devido às constantes alterações do cenário econômico causadas pelos efeitos da crise, a Receita deve concluir a revisão da estimativa nos próximos dias.

Os dados, divulgados pela Receita são corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

CRÉDITO CRESCE 31% EM 2008

Da mesma forma que no texto anterior aqui postado, li ontem no UOL a seguinte reportagem de Eduardo Cucolo, da Folha Online, publicada com a obrigatória conjunção adversativa (“mas”, no caso) sempre colocada pela midia brasileira após notícia boa para o governo Lula:

CRÉDITO CRESCE 31% EM 2008 E BATE RECORDE, MAS ESTAGNA NO FIM DO ANO

“A crise financeira internacional reduziu a liberação de novos empréstimos para pessoas físicas e empresas, que ficou estagnada no último trimestre do ano. Mesmo assim, o volume de crédito na economia fechou 2008 com patamar recorde, segundo a pesquisa mensal de crédito do Banco Central, divulgada nesta terça-feira.

Em termos absolutos, o crédito bateu novo recorde: chegou a R$ 1,227 trilhão no final de dezembro, aumento de 31,1% no ano. Em 2007, o crédito havia registrado expansão de 27,8%.

Juros caem em dezembro, mas cheque especial, "spread" e inadimplência sobem
Confiança do consumidor cresce 3% em janeiro, diz FGV

Confiança de empresários em economia é a menor desde 99, aponta CNI
Crise levará juro ao menor patamar da história, diz pesquisa do BC

Também foi recorde na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas), passando de 40,4% em novembro para 41,3% no mês passado. No final de 2007, estava em 34,2%.

Houve queda, no entanto, nas novas concessões de crédito depois da piora da crise internacional. No último trimestre do ano, as novas concessões ficaram praticamente estáveis (alta de 0,1%), afetadas pela paralisação no crédito em outubro e novembro.

O mês de dezembro apresentou recuperação, com um aumento de 14% nas concessões. A liberação de crédito para empresas subiu 16,8% no mês passado. Para o consumidor, avançou 8,1%.

De acordo com o BC, a recuperação de dezembro se deve à liberação de recursos subsidiados por meio do BNDES (banco estatal de desenvolvimento). Os recursos direcionados aumentaram a base de crédito em 3,4%. Já os recursos livres, ficaram com expansão de 0,9%.

BANCOS PÚBLICOS

No último trimestre do ano passado, os bancos públicos aumentaram sua participação na liberação de crédito no país de 34% para 36%, tirando espaço do setor privado. O aumento se deveu à decisão governamental para tentar reativar o crédito durante o pior momento da crise.

"O que nós observamos hoje é uma estabilidade no crédito livre e um aumento no crédito direcionado. Isso abre mais espaço para os bancos públicos, que aumentaram sua participação no crédito entre setembro e dezembro", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.”

PETROBRAS BATE RECORDE EM EXPORTAÇÃO

Li há pouco no UOL a seguinte notícia da Folha Online publicada com a obrigatória conjunção adversativa (“mas”, no caso) no seu título, sempre colocada pela midia brasileira após notícia boa para o governo Lula:

“PETROBRAS BATE RECORDE EM EXPORTAÇÃO, MAS BALANÇA COMERCIAL TEM DÉFICIT DE US$ 928 MI

“A Petrobras registrou déficit de US$ 928 milhões em sua balança comercial ao longo do ano passado, apesar de ter obtido saldo positivo de 103 mil barris/dia em relação ao volume comercializado. Em 2007, foi observado um saldo positivo de US$ 71 milhões na balança da companhia.

Foram exportados, em média, 673 mil barris/dia de petróleo e derivados, crescimento de 9,4% sobre 2007. O volume médio vendido ao exterior é recorde na história da Petrobras. As importações de petróleo e derivados somaram 570 mil barris/dia, em média, alta de 5,9% em relação ao verificado no ano anterior..

Em valores, as exportações somaram US$ 21,2 bilhões, alta de 42,7% se comparado ao obtido em 2007. As importações cresceram mais, com alta de 49,6% sobre o ano anterior, totalizando US$ 23,1 bilhões.

A estatal alegou que o saldo negativo de US$ 928 milhões foi influenciado pelos preços no mercado internacional. A companhia exporta bastante petróleo pesado, de menor valor, e importa óleo leve, que custa mais caro. Em 2008, a Petrobras exportou 439 mil barris/dia de petróleo pesado. A importação média de óleo leve foi de 373 mil barris/dia.

'Também influenciaram a balança a diferença entre os preços dos derivados importados, principalmente diesel, nafta e GLP, de maior valor agregado, e os exportados, notadamente gasolina e óleos combustíveis', explicou a companhia, em nota.

A Petrobras não inclui em sua balança o volume importado de gás boliviano. Entram nessa conta apenas petróleo e derivados, todos produtos líquidos.

Os números da Petrobras se diferem dos que são divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), que se baseiam em informações da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Fazenda. A balança do país contempla importações de outros agentes, como as petroquímicas que compram nafta.”

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PROFESSOR: DISPUTA NA BOLÍVIA É LUTA DE CLASSES

O site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, publicou ontem a seguinte reportagem de Marcela Rocha:

A Bolívia aprovou uma nova Constituição com a votação de 3,8 milhões de eleitores.

Para o professor em Relações Internacionais e cientista político, Sérgio Gil, o referendo boliviano faz parte de uma tendência compensatória da política internacional.

Tem ocorrido uma busca por recompensar os povos historicamente excluídos de processos decisórios. Na conquista dos direitos civis por parte dos negros norte-americanos, mais recentemente no fim do apartheid na África do Sul, as cotas no Brasil.

O referendo ocorreu no último domingo. Votou-se a nova Constituição. São 411 artigos propostos pelo governo Evo Morales. Neles, temas polêmicos que podem afetar as relações com o Brasil.

Recursos hídricos e as reservas de gás, por exemplo, não podem ser privatizados. Os recursos energéticos só podem ser explorados pelo Estado boliviano.

Segundo Gil, o que tem causado problemas é a perda de privilégios da elite boliviana. O professor analisa que "tratam-se de índios e não-índios, mas que na verdade é uma luta de classes, ricos e não-ricos". Portanto alerta que "Evo não siga o caminho de Chávez".

- O SENHOR QUER DIZER QUE HUGO É UM EXEMPLO PERIGOSO PARA EVO MORALES?

- Na medida em que Chávez radicaliza para se eternizar no poder, sim.

Leia a entrevista na íntegra:

TERRA MAGAZINE - A OPOSIÇÃO BOLIVIANA ACREDITA QUE DIFERENCIAR OS DIREITOS ENTRE OS INDÍGENAS E OS QUE NÃO O SÃO IRÁ FRAGMENTAR A POPULAÇÃO. O SENHOR CONCORDA?

SÉRGIO GIL - Durante muitos anos, desde a dominação espanhola, a permanência dessa oposição mais ligada à elite branca sempre esteve no poder e agora se sentem ameaçados porque têm que partilhá-lo. Usam a religião para se opor ao resultado desse referendo e aos termos da nova carta. O que ocorre agora é uma emergência dessa maioria indígena que sempre foi marginalizada e desvinculada do processo decisório. Quem tem poder, teme perdê-lo. A fragmentação pode sim acontecer caso haja uma espécie de vingança por parte dessas lideranças indígenas, mas acredito que não. O vice-presidente boliviano é branco e provêm da elite de seu país. Nota-se que, desde o princípio, Evo Morales tenta compor uma conciliação e não fragmentação.

NO TOCANTE À POSSE DA TERRA, O SENHOR AVALIA QUE EVO QUER FAZER UMA PROFUNDA REFORMA AGRÁRIA?

Isso sim bate de frente com os interesses da elite dominante, que dispõe de várias faixas de terra. Inclusive é o caso de fazendeiros brasileiros que, em uma área mais fronteiriça, têm enormes fazendas de exportação de soja. Mas o Evo é suficientemente inteligente pra perceber que não pode destruir o sistema produtivo porque se o fizer, quebra a economia boliviana. Justamente por isso é que optou por não ser uma medida retroativa. Esta constituição não causa uma fenda grande, a não ser que a elite continue a ameaçar recessão, o que com certeza não receberá apoio do restante da América Latina.

MAS AINDA ASSIM, NÃO COMPROMETE O FUTURO DA ECONOMIA BOLIVIANA?

Não, até porque a grande força da economia boliviana ainda é a produção mineral, cobre e estanho. Mas quanto à produção agrícola, o fato de não ser retroativo significa que o que existe será mantido e acontecerá uma convivência entre dois sistemas: latifúndios e minifúndios. Se essa convivência vai comprometer a economia boliviana, temos que esperar pra ver.

A Bolívia perdeu sua única saída para o mar após a chamada Guerra do Pacífico (1879-84).

NA NOVA CONSTITUIÇÃO ESTÁ PREVISTO QUE TERÃO "O DIREITO IRRENUNCIÁVEL E IMPRESCRITÍVEL SOBRE O TERRITÓRIO DE ACESSO AO OCEANO PACÍFICO". ISTO CAUSARÁ DESAVENÇAS COM O PAÍS VIZINHO?

Não necessariamente. O Chile acenou com a possibilidade de rever os termos da perda do território e negociar essa saída para o mar para a Bolívia. Por isso não acredito na possibilidade de atrito. Até porque existe muita colaboração entre os países. A não ser que a Bolívia queira recuperar todo o seu território.

A NOVA CONSTITUIÇÃO BOLIVIANA TEM ALGUM IMPACTO PARA A AMÉRICA LATINA?

A Bolívia é um país historicamente instável, essa constituição pode ser um fator que traga estabilidade na medida em que ela contempla a população alijada dos processos decisórios, embora desagrade a elite boliviana. Mas tudo irá depender de como se dará a coexistência desses dois segmentos. Tratam-se de índios e não-índios, mas que na verdade é uma luta de classes, ricos e não-ricos. Tudo dependerá da conciliação entre classes. E que Evo não siga o caminho de Chávez. Embora a Venezuela tenha ajudado a Bolívia, Evo não pode se atrelar demais à Venezuela.

O SENHOR QUER DIZER QUE HUGO É UM EXEMPLO PERIGOSO PARA EVO MORALES?

Na medida em que Chávez radicaliza para se eternizar no poder, sim.

ESTE NOVO REFERENDO PREJUDICA AS RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE BRASIL E BOLÍVIA?

Não necessariamente. O grande ponto que poderia gerar algum atrito é a questão da terra.

Mas acredito que isto será respeitado, justamente para evitar problemas. Há uma certa cumplicidade do Presidente Lula com o processo político boliviano, até porque ele não quer que o Brasil piore sua imagem de imperialista na região.

EXISTE ALGUMA OUTRA EXPERIÊNCIA HISTÓRICA SEMELHANTE AO QUE HOJE OCORRE NA BOLÍVIA?

Isto é uma tendência. Tem ocorrido uma busca por recompensar os povos historicamente excluídos de processos decisórios. Na conquista dos direitos civis por parte dos negros norte-americanos, mais recentemente no fim do Apartheid na África do Sul, as cotas no Brasil. Isto, porque democracia é mais do que eleitoral. Ela deve ser partilhada entre os que contribuem com a riqueza nacional, ou seja, todos.”

PETROBRAS ANUNCIA DESCOBERTA DE RESERVA DE GÁS NA BACIA DE SANTOS

O portal UOL publicou há poucas horas o seguinte texto da Folha Online:

“A Petrobras anunciou nesta segunda-feira que o consórcio formado pela empresa e a Repsol, para a exploração do bloco BM-S-7, descobriu a presença de espessa coluna de gás em reservatórios acima da camada de sal na bacia de Santos, no Estado de São Paulo.

A empresa informou que a descoberta ocorreu com a perfuração do poço 6-BRSA-661-SPS (6-SPS-53), localizado em águas rasas da parte sul da bacia.

A Petrobras é a operadora do consórcio com 63% de participação. A Repsol tem 37%.

Este poço está localizado a cerca de 210 km a sudeste da cidade de Santos, na costa do Estado de São Paulo, em local onde a profundidade é de 214 metros. Sua perfuração faz parte das atividades exploratórias do Plano de Avaliação do poço 1-BSS-68, aprovado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás), que havia constatado a presença de gás em reservatórios arenosos da seção pós-sal.

A descoberta foi confirmada através de testes realizados nos reservatórios situados a partir de 3.970 metros de profundidade.

O consórcio informou que dará continuidade às atividades exploratórias com da realização de testes de formação a serem realizados nos intervalos de gás já constatados, quando então será possível declarar a comercialidade desta jazida.

A Petrobras afirmou ainda que esta descoberta tem grande importância devido ao potencial de produção de gás em águas rasas no sul da bacia de Santos.”

INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO BATE O RECORDE DE US$ 45,06 BI EM 2008

O jornal Valor Online publicou ontem a seguinte reportagem de Azelma Rodrigues (li no UOL):

“A entrada de investimentos externos diretos (IED) líquidos no país foi de US$ 45,060 bilhões no ano passado completo, montante recorde e superior àquele previsto pelo Banco Central (BC) para o período, de US$ 40 bilhões.

Na relação com o Produto Interno Bruto (PIB), o IED fechou equivalente a 2,84%. Em 2007, houve ingresso de US$ 34,585 bilhões (2,59% do PIB). Conforme nota do BC, o resultado de US$ 45,060 bilhões em 2008 foi o mais elevado na série história, iniciada em 1947.

Em dezembro apenas, foi registrada entrada de US$ 8,117 bilhões em investimentos externos diretos, melhor do que os US$ 886 milhões apurados em igual mês de 2007.

Os dados levam em conta também os empréstimos intercompanhias, aqueles feitos pela matriz da multinacional para a subsidiária brasileira. Além disso, abatem as remessas feitas por conta de ganho do capital investido.

Do total ingressado em 2008, US$ 30,064 bilhões foram participação no capital. Foram contabilizadas também entradas líquidas de US$ 14,996 bilhões em empréstimos intercompanhias.

Os investimentos diretos de companhias brasileiras no exterior (IBD) somaram US$ 20,457 bilhões. Um ano antes, as saídas ficaram em US$ 7,067 bilhões.”

ANALISTAS VEEM MAIOR PODERIO MILITAR

O jornal O Estado de São Paulo ontem publicou o seguinte texto de Wilson Tosta:

COMPRAS RECENTES DEVEM EQUIPARAR CAPACIDADE À DE PAÍSES COMO ESPANHA E ITÁLIA, LEVANDO A MAIOR PROTAGONISMO

“Especialistas em defesa ouvidos pelo Estado afirmam que as compras de material militar recentemente fechadas pelo governo não apenas repõem a capacidade bélica do País, mas também apontam para uma alteração, a longo prazo, do peso político-estratégico do Brasil no mundo. Segundo esses pesquisadores, as Forças armadas brasileiras continuarão distantes de países líderes no setor, como Estados Unidos, Rússia e China, e das potências europeias, como Reino Unido, França e Alemanha. Mas o País poderá aspirar a uma capacidade próxima da de outras nações da Europa, como Espanha e Itália, e assumir maior protagonismo internacional - exigível de um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, desejo da política exterior brasileira.

“É um processo de reposição e ao mesmo tempo de modernização”, diz Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp). “Desde 1995, as Forças armadas vêm sofrendo um processo de desmonte. Ficamos desatualizados em termos de tecnologia militar.”

A movimentação na área estratégico-militar foi intensa nos últimos três meses. Incluiu a compra de 63 helicópteros - 12 da Rússia e 51 da França -, a aquisição, também dos franceses, de quatro submarinos Scorpène e da tecnologia do casco do submarino nuclear, além da construção de um estaleiro para montar as embarcações e uma nova base naval no Rio. Também foi lançada a Estratégia Nacional de Defesa, documento de 64 páginas que lista 19 ações a serem iniciadas entre 2009 e 2010, para dinamizar a área.

TECNOLOGIA

Todo o processo tem como prioridade a transferência de tecnologia. A mesma preocupação pautará a concorrência para os 36 novos jatos de ataque. A operação prevê que esse lote inicial seja seguido de outros até o total de 120 a 150 aeronaves.

Para Cavagnari, as compras vão alterar o peso estratégico do Brasil, porque vão “repor e renovar” as perdas das Forças armadas desde 1995. No caso dos submarinos, ele destaca que as quatro unidades convencionais compradas da França serão as mais avançadas da frota.

A alteração maior de poder bélico, contudo, virá com a entrada em operação do submarino nuclear - previsto para 2020. Com ele, explica o pesquisador, “cresce o perfil político-estratégico do Brasil na América do Sul e no Atlântico Sul”.

Cavagnari pondera, porém, que a mudança não colocará o Brasil entre as grandes potências militares. “O Brasil aspira a um assento no Conselho de Segurança, quando não é nem potência militar convencional. Então, se o Brasil quer um assento militar, tem de ser reconhecido como potência militar.”

Doutorando no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e contra-almirante da reserva, Antônio Ruy de Almeida Silva destaca que o que acontece é uma recomposição de equipamentos das Forças armadas. “Já a questão do submarino nuclear, para longo prazo, é uma mudança estratégica”, diz ele, que também integra o Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Um país que tenha um submarino nuclear entra num seleto grupo de países do mundo, principalmente se domina a construção desse submarino. É uma mudança de patamar tecnológico e também no campo estratégico.”

Ele destaca a importância da transferência de tecnologia: “Por exemplo, na Guerra das Malvinas, quando os argentinos quiseram usar os (mísseis) Exocet, precisaram de mais, mas houve restrições”, conta. “No uso do satélite também.”

Silva afirma que hoje o País tem um peso estratégico muito superior à sua capacidade militar. “O Brasil hoje conquista muita coisa pelo seu soft power, a capacidade de se articular com os países do mundo”, explica. “O Brasil está com esse descompasso entre seu soft power e sua capacidade militar.”

CONTRAPONTO

O professor da Universidade Cândido Mendes (Ucam) Márcio Scalércio, mestre em história e doutorando em relações internacionais na PUC do Rio, tem posição diversa. “Acho que essas compras são feitas com o objetivo, que acho mais importante, de o País saber o que se passa no seu território.”

Scalércio destaca, porém, que pelo prazo das aquisições pode-se dar início a uma política de Estado, não de governo, para a defesa. “É uma política mais ampla, porque a aquisição desse material implica também uma reestruturação das Forças armadas para que usem adequadamente esse material.”