domingo, 28 de setembro de 2008

FIM DE MANDATO BUSH CARACTERIZA A 'ERA PATO MANCO'

“A administração Bush vem veloz para seu fim, com a cada vez mais marcante inação presidencial evidenciando o que toda a mídia americana conservadora temia em apreciar: Bush não é um líder à altura dos Estados Unidos”.

Li no site “Vermelho”, em texto de Humberto Alencar:

“Após as controversas eleições de 2000, quando George W. Bush foi alçado à condição de presidente do Império americano pela Corte Suprema do país, ao julgar uma açao do concorrente Al Gore, que havia obtido mais votos que Bush, ninguém imaginava que o atual administrador fosse enveredar pelo caminho vacilante que marca o fim de seu mandato.

Em 2001, Bush reagiu aos ataques de 11 de setembro com alguma 'lentidão', mas o país se viu satisfeito com a resposta que sua administração deu à não provada agressão estrangeira às torres de Nova York e ao Pentágono.

O chamado à guerra foi aclamado por quase todos os americanos, quando a popularidade do presidente bateu níveis altíssimos. Mais de 90% dos habitantes do país aprovavam os clamores guerreiros de seu chefe.

Altos índices de apoio são comuns para os presidentes em tempo de guerra, mas Bush conseguiu mantê-los durante um ano após os atentados. Em novembro de 2002, Bush tinha índices de apoio mais altos do que qualquer outro presidente, desde Dwight Eisenhower.

A decisão de atacar o Afeganistão, realizada em outubro de 2001, foi-lhe comunicada ''por Deus''. É assim que Bush faz crer. O ex-primeiro ministro da Alemanha, Gerhard Schröder, declarou seguidas vezes à mídia que o presidente americano tomava decisões após ''consultas diárias a Deus''. Apesar disso, Bush nunca declarou publicamente a sua religião.

'IRAQUE NADA EM PETRÓLEO'

Alardeou a 'Guerra ao Terrorismo' e demonizou Osama bin Laden, um multimilionário árabe de uma família aliada em negócios petrolíferos dos Bush. Em março de 2003 invadiu e iniciou a ocupação do Iraque. Alegou para isso que o país árabe, dirigido pelo presidente Saddam Hussein, dava apoio logístico à al-Qaida e tinha ''armas de destruição em massa''.

A ONU não aprovou a agressão. França, Rússia e Alemanha se opuseram. Mesmo assim, as tropas da ''coalizão'' apoiada pelo britânico Blair e pelo espanhol Aznar invadiram o Iraque.

Pouco tempo depois vieram à tona os motivos sinceros da invasão. Em uma entrevista à mídia americana, o ex-vice-secretário da Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, afirmou que ''nadar em petróleo'' foi a principal razão para a ação militar no Iraque: ''A principal diferença é que no caso do Iraque, economicamente falando, nós simplesmente não tínhamos escolha. O país [Iraque] nada em um mar de petróleo''.

No âmbito da política interna, Bush realizou intervenções consideradas importantes na economia, que desembocaram na atual crise financeira. Entre as leis mais agudas que Bush fez aprovar num Congresso dominado, à época, pelos republicanos, estão vários cortes de impostos, o ato ''Nenhuma Criança Deixada para Trás'', e as reformas no sistema de saúde.

Enquanto os simpatizantes de Bush alegavam que os cortes de impostos aumentariam a ''prosperidade da recuperação da economia'' e propiciariam a ''criação de empregos'', os seus oponentes denunciaram que Bush estava criando um déficit histórico. Deu no que deu.

Veio o furacão Katrina, em agosto de 2005, assolando Nova Orleans e os estados do sudeste americano. Bush, alertado, fez pouco caso. Há vídeos na Internet provando que ele ignorou vários alertas sobre a gravidade da situação. Mais por arrogância, menos por ignorância. Mais de 1.400 moradores de Nova Orleans, principalmente negros e pobres, morreram na esteira do Katrina.

A imagem de Bush começou a contrastar. De megafone nas mãos, sobre os destroços do Word Trade Center, e à bordo do Air Force One, distante dos pobres e dos destroços que boiavam em Nova Orleans. A imagem que queria deixar no fim de sua administração, a de um "conservador compassivo", começava a submergir nas águas trazidas pelo furacão.

O golpe quase fatal nessa imagem foi dado três anos depois, no mesmo ''fatídico'' mês de agosto. No sétimo dia do mês, às vésperas da abertura dos jogos Olímpicos de Pequim, o presidente Mikhail Saakashvili, da Geórgia, deu luz verde a um ataque contra Tskhinvalí, capital da região autônoma da Ossétia do Sul.
Duas mil pessoas foram mortas. A cidade foi quase inteiramente arrasada e a população osseta, de 70 mil pessoas, fugiu para o norte, em busca de refúgio na vizinha Ossétia do Norte, uma região autônoma russa e formada pela mesma etnia.

A agressão georgiana foi respondida com dureza pelos russos. O país atacou instalações militares georgianas, despejou blindados e tropas dentro da Geórgia e desafiou abertamente o aliado de Saakashvili, que naquela altura acompanhava o nadador Michael Phelps nas disputas de natação do Cubo d'Água em Pequim.

Bush não deu a mão ao seu aliado, o que significaria uma guerra aberta com a Rússia. Reagiu com um muxoxo de insatisfação e não tomou nenhuma das medidas que ameaçou tomar contra a Rússia. O assunto, que fez eclodir na mídia a velha ladainha anticomunista da época da guerra fria, evaporou, junto com a cada vez mais ausente liderança do país.

Como a cereja do bolo, só faltava uma crise financeira para fazer o apodo de ''pato manco'' colar de vez em Bush. Em 15 de setembro a famigerada bolha imobiliária estourou, levando consigo — de acordo com as previsões mais pessimistas — cerca de US$ 1,3 trilhões de dólares da economia americana pelo ralo.

Bush permaneceu inerte. Veio admitir em público que o país estava em crise nove dias depois, na última quarta-feira. Mesmo em seu discurso na Assembléia Geral da ONU, Bush evitou falar do assunto.

Por sua vez, Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, e Ben Bernanke, titular do banco central americano, ocuparam o cenário que pertence ao líder dos Estados Unidos, fazendo um apelo ao Congresso para que os legisladores aprovem com rapidez as medidas que, segundo os dois, poderiam debelar os estragos causados pelo espoucar da bolha imobiliária.

Sobre a crise financeira, Bush limitou-se a dizer, na ONU que: ''é preciso agir com a urgência que a crise precisa''. E mais além rolou outro inerte ''Precisamos trabalhar em termos de metas e nos mantermos firmes em relação às nossas propostas''. O discurso se preocupava mais com a 'luta antiterrorista' e questões secundárias.

Omisso naquela ocasião, Bush fez um pronunciamento dramático, na quarta-feira, transmitido simultaneamente para o mundo inteiro, afirmando que a ''economia inteira está em perigo''. Bush estava visivelmente abalado, suas mãos tremiam e seu rosto exprimia seu estado de dilaceração emocional, já que se via prestes a entrar para a história como o presidente ''pato manco''.

A derrota imposta nesta quinta-feira pelo seu partido ao plano de socorro ao mercado financeiro colocou o homem ''mais poderoso do planeta'' metido em uma grande enrascada, e ele não tem a mínima idéia de que fazer para sair dela”.

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