sábado, 15 de março de 2008

PRESIDENTE DO EQUADOR: “OS EUA QUEREM GOVERNO MARIONETE”

RAFAEL CORREA: “OS EUA QUEREM INSTALAR (NO EQUADOR) UM GOVERNO MARIONETE QUE SE RENDA AO PLANO COLÔMBIA”

O pior de tudo: o presidente do Equador está certo. Ele disse isso este sábado, no seu programa semanal de rádio.

Se é oportuno ou conveniente ele falar essa verdade, é outra história. Depois de amanhã (2ª), haverá o encontro de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA). Espera-se que, no encontro, seja aprovada uma resolução pacificadora definitiva para o conflito desencadeado pela invasão militar colombiana no Equador.

O PLANO COLÔMBIA

A execução do “Plano Colômbia” entre os EUA e a Colômbia compreende mais de mil “assessores” militares norte-americanos permanentemente sediados na Colômbia, equipamentos e armas norte-americanos sofisticados, helicópteros de combate e muito mais, para a “erradicação das plantações de coca” (que abastecem 90% do mercado de cocaína dos EUA).

A força política e militar norte-americana na Colômbia é muito forte. Segundo a imprensa americana noticiou na semana passada, os EUA já despenderam no Plano Colômbia mais de US$ 5 bilhões, sem resultado, pois a produção de coca aumentou com a presença norte-americana.

O governo do presidente colombiano Uribe tem sido um fiel e obediente aliado dos EUA.

O governo anterior a Rafael Correa envolveu também o Equador no Plano Colômbia. Fez acordos permitindo a utilização militar pelos EUA da Base Aérea de Manta. Rafael Correa já anunciou que não vai renovar a autorização, que vence no próximo ano.

Foi um pecado grave para um país exportador de petróleo. Caiu em desgraça perante o governo Bush e, conseqüentemente, perante toda a grande mídia latino-americana, especialmente a brasileira. Passou a ser depreciado e demonizado.

COMO A MÍDIA BRASILEIRA DÁ A NOTÍCIA

Exemplifico a forma de “trabalhar a notícia”, comum no Brasil, com o texto do portal da Folha de São Paulo, no artigo de hoje de Josias de Souza.

Percebe-se claramente, no texto abaixo, os “venenos” inoculados na imagem do presidente equatoriano. Para a Folha, ele tem “rompantes retóricos”, “reaviva brasas da fogueira”, “insinua que o presidente dos EUA estaria por trás” (que injustiça!), “faz duras críticas a George Bush” (que mau!) e outras gotas de veneno do processo de demonização em curso.

Vejamos o texto do blog da Folha:

“CORREA REACENDE CONFLITO ANTES DA CÚPULA DA OEA

--Equatoriano se diz vítima de uma ‘campanha criminosa’
--Acusações de vínculos com as Farc visariam derrubá-lo
--Insinua que Bush deseja substituí-lo por um ‘marionete’
--Para o Itamaraty, novo rompante não ajuda pacificação

“Na próxima segunda-feira, em encontro de chanceleres, a OEA (Organização dos Estados Americanos) tenta aprovar uma resolução que pacifique, em termos definitivos, o conflito diplomático que opôs a Colômbia ao Equador. A dois dias da reunião, o presidente equatoriano Rafael Correa, em novo rompante retórico, reavivou as brasas de uma fogueira que caminhava para a extinção.

Neste sábado (15), falando em seu programa semanal de rádio –“Diálogo com o Presidente”—, Correa fez duras críticas a George Bush. As declarações ganharam instantaneamente as páginas da imprensa equatoriana e o sítio que a presidência do Equador mantém na internet.

Correa insinuou que o presidente dos EUA estaria por trás de uma “campanha criminosa de desprestígio” de sua gestão. Segundo disse, tenta-se difundir informações “inverídicas” sobre vínculos do Equador com a narcoguerrilha colombiana. “Para variar”, disse Correa, “se uniu o governo do senhor Bush a dizer que o preocupa a permissividade do Equador com as Farc.”

Para Correa, está em curso uma campanha de desestabilização de seu gabinete. O objetivo seria, segundo disse, instalar no Equador “um governo marionete que se renda ao Plano Colômbia [referência à aliança militar dos EUA com a administração de Álvaro Uribe].” Deseja-se, no dizer de Correa, envolver o Equador “na guerra colombiana”, tornando-o “sócio ou cúmplice do governo Uribe.”

O problema da guerrilha, disse Correa, é da Colômbia, não do Equador. “Com que desfaçatez essa gente quer nos dar lições de moral e boas maneiras e dizer que o pobrezinho Uribe está lutando contra as Farc e o Equador não o ajuda? Por que temos que ajudar se é um problema dele?”

O signatário deste blog (Josias de Souza) conversou há pouco com um diplomata do Itamaraty sobre os novos rompantes de Rafael Correa. Considerou-os preocupantes. Disse que não servem à causa da pacificação. Afirmou que a cúpula da OEA se encaminha para a aprovação de uma resolução que consagra o princípio da inviolabilidade territorial. Uma tese que encontra dura oposição justamente dos EUA.

Nesta semana, em visita ao Brasil, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, deixou claro que, do ponto de vista dos EUA, as fronteiras nacionais não são intangíveis. Não se sobrepõem, por exemplo, à necessidade de combater o terrorismo. Para a administração Bush, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia são uma organização “terrorista”.

Daí o receio do Itamaraty de que as novas declarações de Correa açulem o ânimo dos EUA na reunião da OEA, agendada para a tarde desta segunda-feira (17), em Washington. Será analisado no encontro o relatório produzido por uma missão enviada à zona de fronteira entre Colômbia e Equador, região em que militares colombianos aniquilaram um acampamento das Farc, em operação que resultou na morte do número dois das Farc, Raúl Reys. Os termos do relatório foram discutidos em reunião prévia realizada neste sábado.

A alma de Rafael Correa voltou a ficar convulsionada na última quarta-feira (12). Nesse dia, o diário espanhol El Pais publicou reportagem de sua correspondente em Bogotá, Maite Rico, renovando as suspeitas de que o Equador é complacente com as Farc. O texto sustenta que, sob Correa, a região norte do Equador “converteu-se num santuário das Farc.” Haveria ali pelo menos oito bases guerrilheiras dedicadas ao “tráfico de armas, transporte de drogas e doutrinamento da população.” Em nota enviada ao jornal, a embaixada do Equador em Madri negou o conteúdo da notícia.”

Perceberam os venenos salpicados na notícia acima da Folha? Essa campanha da grande mídia, de detratação de Chávez e, agora, de Correa, está dando certo no Brasil, pelo menos para uma classe da população que se julga mais esclarecida.

Basta exemplificar com o resultado publicado hoje da enquete lançada aos leitores do portal do O Globo Online no blog do Noblat. Vê-se que a Colômbia (e os EUA) invadem de surpresa militarmente o Equador, bombardeiam o território equatoriano com aviões, lançam nela tropas aerotransportadas e, pasmem, para 75% dos leitores do referido portal do Globo Online, a maior culpada é a Venezuela!!! Transcrevo:

“Resultado e pergunta da última enquete:
"Qual país é o maior culpado pela tensão criada na América do Sul depois que a Colômbia invadiu o Equador para matar um líder das FARCs?"

Colômbia 10.74%
Equador 3.02%
Venezuela 74.89%
Estados Unidos 7.40%
Todos eles 3.34%
Nenhum deles 0.48%
Não sei 0.12%”

Nenhum comentário: