quinta-feira, 6 de março de 2008

HUGO CHÁVEZ FOI MENOS "DESTEMPERADO" DO QUE QUERIAM

GUERRA EUA vs VENEZUELA

O comportamento dos EUA nos últimos trinta anos dá margem para a seguinte linha de raciocínio: o desejado passo seguinte à invasão militar colombiana no Equador seria Hugo Chavez cair na armadilha e desencadear uma ação militar contra a Colômbia.

Após isso, toda a comunidade internacional daria suporte para uma ação militar norte-americana na Venezuela.

Assim, rapidamente, ainda durante o governo republicano de Bush, estaria atingido o objetivo de lá controlar a produção e a exportação de petróleo para os EUA.

Após Hugo Chávez passar a privilegiar os interesses nacionais venezuelanos, a ocupação militar da Venezuela tornou-se prioritária. É importante para garantir o suprimento de petróleo necessário à continuação e à melhoria da qualidade da economia norte-americana. É objetivo que se torna cada vez mais evidente.
A “temperatura” dessa ameaça está aumentando paulatina e planejadamente. A revista “Defense News” de 12/12/2007 revelou que em 08 de fevereiro do ano passado o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), Gen. Michael Mosely, considerou a Venezuela, a China e o Irã como as maiores ameaças militares aos EUA, diminuindo a importância das ameaças do Iraque e do Afganistão.

Hugo Chávez, contudo, por milagre ou conscientemente, agora refreou-se e não agiu fora das suas fronteiras, não adotou a mesma atitude colombiana. (Obs.: onde se lê “Colômbia”, leia-se “Forças militares dos EUA na Colômbia, com apoio colombiano”).

Para já desencadear o mesmo modelo de preparação da guerra adotado na 2ª invasão norte-americana no Iraque, a Colômbia (EUA) logo divulgou que o computador das Farc (que apreenderam no Equador) revelou que a Venezuela enviou US$ 500 milhões para as ações daquele grupo guerrilheiro, já classificado por “terrorista”, e que enviaria 30 kg de urânio para eles construírem bombas radioativas. Certamente, como antes da invasão no Iraque, a seguir dirão que o computador comprovou que as Farc pretendem fazer armas nucleares, químicas e bacteriológicas. Tudo com o apoio daqueles dois países produtores de petróleo: Venezuela e Equador.

No Brasil, toda a grande mídia e os partidos da oposição dariam todo apoio à invasão norte-americana. O líder do PSDB no senado começaria a envolver o governo Lula numa operação secreta de envio de enormes quantidades de poderosos armamentos para o grupo terrorista, por intermédio do seu aliado Hugo Chávez.

Estou aprendendo com a nossa grande mídia a “testar hipóteses”.

O apavorante, contudo, é que, diferentemente das hipóteses da mídia, geralmente falsas mas deflagradas como verdadeiras, no caso das guerras dos EUA há fundamentos na história.

Para exemplificar com guerra menos conhecida do que as do Iraque, e bem próxima de nós, lembremo-nos dos desproporcionalmente gigantescos ataques militares dos EUA contra o Panamá.

GUERRA EUA vs PANAMÁ

A “Operação Justa Causa” ocorreu poucos dias antes do início da década de noventa. Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.

Ficou evidente que foi para testar em ambiente noturno (e mostrar ao mundo, para também amedrontar) suas novas armas e seu moderno sistema de comando, coordenação e controle eletronicamente integrados, e para deixar claro que a América Latina era quintal deles.

Também visavam, com aquela operação, apagar, na prática, os Tratados Carter-Torrijos de 1977 e voltar a garantir, sem maiores concessões aos interesses daquele país da América Central, as ligações entre as costas leste e oeste norte-americanas via canal, bem como a permanência das suas tropas e bases no Panamá.

Empregaram de surpresa, no bombardeio da capital panamenha, sem declarar guerra, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 24.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate moderníssimos, inclusive os caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares que nem existiam no Panamá.

Morreram no ataque mais de quinhentos civis panamenhos (algumas fontes informaram 4.000).

Aquele ataque noturno ao Panamá custou o equivalente a mais de um bilhão de dólares.

O pretexto oficial norte-americano foi, surpreendente e simplesmente, prender o Presidente Noriega, então por eles acusado de ser corrupto e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão).

O Presidente Guilhermo Endara, no dia seguinte à invasão foi posto no poder “democraticamente” pelos EUA em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores. Em 1993, tinha menos de 10% de aprovação popular. Continuava, todavia, muito bem considerado e amparado pela “Casa Branca”.

O mundo, convenientemente informado e trabalhado pelas respectivas grande mídias, aceitou docilmente e sem alardes aquela benemérita “Operação Justa Causa”, como a batizaram os norte-americanos com humor negro. Nem se comoveu com os civis mortos no ataque aos panamenhos.

Aquela e outras guerras dos últimos trinta anos tiveram o caráter didático de demonstrar a violência com que os EUA garantiriam o seu acesso direto às matérias-primas essenciais para a manutenção do “american way of life” para a sua população.

Já expressamos, também, que há terceiras grandes potências extra-regionais que poderiam tirar proveito de eventual ampliação do conflito na América do Sul. Estão em jogo outros interesses estratégicos e geopolíticos muito maiores. Petróleo, Amazônia, matérias-primas...

PRE-EMPTIVE ATTACK DOS EUA

Segundo o jornalista Luiz Carlos Azenha em seu blog, “o que a Colômbia fez foi aplicar, na América do Sul, a "doutrina do ataque preventivo" do governo Bush.”

Esse direito citado por Azenha foi instituído pelos EUA há alguns anos, exclusivamente para eles. Já comentamos esse conceito norte-americano em outro artigo aqui neste blog. É o “direito estadunidense de atacar sem avisar, em qualquer país, sempre que lhes seja conveniente ou suspeitem de ameaças aos seus interesses de qualquer natureza”. É a “Pre-emptive War”.

Esse “direito” foi estabelecido “democraticamente” pelo Congresso norte-americano, em lei. Portanto, consideram legal...Utilizaram-no formalmente para atacar o Afganistão e o Iraque. Antes da "lei", já o haviam utilizado contra Granada, Panamá, Sudão e outros.

PRE-EMPT ATTACK DOS EUA AO BRASIL

Há um caso de quase aplicação dessa “lei” contra o Brasil. O jornal Folha de S. Paulo, em 30/06/2004, noticiou que o Departamento de Defesa dos EUA (DOD) vê a região da tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai como financiadora de terroristas árabes. Um poster sobre as Cataratas do Iguassu fora encontrado no Afganistão.

Naquela região, situa-se a gigantesca usina de Itaipu, fornecedora de mais de 25% da energia elétrica consumida pelo Brasil.

O DOD chegou a propor uma “ação forte” (!?!) dos EUA na tríplice fronteira. O “Jornal da Band” (na TV) também divulgou, em 02/08/2004, que, “logo após o atentado de setembro de 2001 em Nova Iorque, o Pentágono propôs à Casa Branca um forte ataque de surpresa ao Brasil e ao Paraguai naquela região, antes de os EUA atacarem o Afeganistão e o Iraque”.

Enfim, tomara que eu esteja seguindo o exemplo da nossa grande mídia. Testando hipóteses. Porém, fatos históricos me apavoram.

A sorte de Chávez ter sido menos impetuoso, não caindo na armadilha, postergou guerras dos EUA na América do Sul.

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