segunda-feira, 24 de março de 2008

CPI DOS CARTÕES: A RETIRADA TÍPICA APÓS O TIRO SAIR PELA CULATRA

A estratégia de recuo da oposição, após o tiro da CPI dos cartões corporativos sair pela culatra, já foi colocada em prática.

Já havia prenúncios de reviravolta desde o início. Logo após os primeiros momentos de eufórica ilusão de conseguirem um novo escândalo contra o governo Lula, começaram a aparecer irregularidades com cartões em governos tucanos (Serra e outros) em proporções muito maiores dos que as apontadas pela oposição contra Lula.

Quando a oposição pensava em somente investigar o atual governo, a CPI estabeleceu como escopo também investigar o correspondente aos cartões no governo FHC/PSDB/PFL (as contas tipo B). Há muito tempo, já é notório que o faustoso comportamento e os grandes gastos palacianos dos tempos FHC ofuscam o estilo mais simples de Lula.

Um plano de retirada honrosa teve que ser desencadeado.

Como primeiro passo, a revista Veja esta semana lançou uma reportagem dentro das suas características tradicionais.

O blog do Nassif de hoje descreve bem o estilo Veja, com texto do site “O Vermelho”. Transcrevo trechos:

”MAIS UM FACTÓIDE”

“A revista Veja soltou em sua edição deste final de semana mais uma de suas "criativas" reportagens, que trazem documentos obtidos de fonte não revelada e que a revista diz, sem apresentar uma mísera prova, ter sido o governo quem preparou.

Com a "denúncia", a revista tenta alcançar três objetivos: transformar a corrupção do governo FHC em mera chantagem petista; forçar a CPI dos Cartões a entregar para a imprensa os dados sigilosos da Presidência da República e desgastar a imagem da ministra Dilma Roussef, da Casa Civil.

A revista, famosa por inventar reportagens inverídicas e trabalhar com documentos de origem duvidosa, alega que teve acesso a um suposto dossiê que teria sido preparado pelo governo para intimidar a oposição na CPI dos Cartões Corporativos. O suposto dossiê traz informações sobre os gastos com suprimento de fundos durante o governo Fernando Henrique. Cita gastos com caviar, champagne, viagens e outras futilidades que são citadas apenas para escamotear o real objetivo da reportagem: acusar o governo Lula de chantagista.

(...) Já sobre o suposto dossiê, a revista diz com todas as letras que o documento ao qual teve acesso foi "construído dentro do Palácio do Planalto, usado pelos assessores do presidente na CPI em tom de ameaça e vazado pelos petistas como estratégia de intimidação". Mas não apresenta nenhuma mísera prova ou indício para sustentar estas afirmações.

(...) A maior parte das informações "reveladas" por Veja sobre os gastos da gestão FHC já foram divulgadas em outros veículos de comunicação nas últimas semanas. O suposto dossiê pode, portanto, ter sido uma invenção da própria revista com dados colhidos na imprensa, no Portal da Transparência e até mesmo com funcionários do governo que tiveram acesso a estas informações. A Veja sabe, de experiência própria, que informações podem ser compradas. O dossiê, se é que existe, pode ainda ser obra de pessoas interessadas em desgastar o governo.

Infelizmente, a revista usa a legislação que protege suas fontes para esconder quem "vazou" as tais informações que a Veja alega ser um dossiê preparado pelo governo. Esta informação poderia ajudar o Ministério Público a descobrir se houve realmente intenção de chantagear a oposição.”

Por fim, utilizando os pontos-de-apoio plantados pela Veja, vem a fase da honrosa retirada estratégica, bem amparada por um serviço eficiente de relações públicas por parte da grande mídia. Tudo como planejado pelo PSDB e DEM para saírem bem dessa arapuca em que se meteram, para saírem como nobres e arrogantes “vítimas da má-vontade dos partidos da base do governo em avançar as apurações”.

O referido serviço de apoio aos tucanopefelistas da grande imprensa já está em execução. Por exemplo, o “Blog do Josias” da Folha de São Paulo, em matéria publicada há pouco, transmite:

“PSDB JÁ PREPARA O DESEMBARQUE DA CPI DOS CARTÕES”

“O tucanato discute reservadamente a hipótese de abandonar a CPI dos Cartões. Aguarda apenas a concretização de um pretexto. Ele virá, imaginam os dirigentes do PSDB, na resistência dos parlamentares que integram o consórcio governista em permitir que as apurações avancem em direção aos gastos secretos do Planalto.

Há na comissão requerimentos que exigem da presidência da República a abertura das despesas relativas a Lula e aos familiares dele. São números que o governo classifica como “sigilosos”. E que o relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (RJ), não parece interessado em perscrutar.

Presidente da CPI, a senadora tucana Marisa Serrano (MS) adiou, propositadamente, a votação dos requerimentos controversos. O tema resurgiu, porém, com a veiculação de um dossiê supostamente organizado dentro do Planalto. Veio à luz nas páginas de Veja. Contém despesas de FHC, da ex-primeira dama Ruth Cardoso e de ex-ministros da era tucana.

Em movimento já insinuado pelo líder Arthur Virgílio (AM), o tucanato exigirá nesta semana, agora com mais ênfase, a abertura dos extratos de Lula e sua equipe. Há no PSDB a convicção de que os parlamentares que sustentam as posições do governo na CPI cuidará para que os requerimentos não sejam aprovados.

Será a senha para o desembarque do PSDB. Em conversa com o repórter, um dirigente tucano resumiu assim a estratégia do partido: “Devemos nos retirar logo que a gente possa explicitar para todo mundo que não é possível fazer a investigação. Temos que deixar claro para a opinião pública, de forma organizada e inquestionável, que não dá para investigar. Algo que, não tenho dúvidas, vai acontecer. Eles não desejam permitir que a apuração avance.”

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